- Oi Ruy. - ela me cumprimentou
- Oi Lia. E aí, tudo bem ? - ela negou com a cabeça
- Minha mãe tá piorando. - ela engoliu em seco. - Meu pai ta no hospital com ela.
- Caraca Lia, que barra. Por que você não foi também ?
- Eu não posso entrar, além disso a gente precisa fazer esse trabalho. - seus olhos estavam marejados
- Que porra de trabalho o que! - levantei bruscamente e fui até o celular dela. - Coloca a senha aqui.
Ela colocou sem se preocupar com o que eu iria ver ali.
- O que tá fazendo? - ela fungou
- Cancelando o trabalho de hoje. Mandando todo mundo ficar em casa ou arrumar outra coisa pra fazer. - falei
- Ruy, o trabalho é amanhã!
- Nós já sabemos o que temos que fazer e falar. - a olhei. - Só íamos repassar tudo hoje. Mas você está mal e eu não vou deixar você se torturar desse modo.
Coloquei o celular dela na mesinha e a abracei. Ela se aconchegou em mim, colocando as pernas por cima das minhas e as mãos pousadas em meu peito.
Depois de um tempo assim, eu comecei a fazer um cafuné nela.
- Obrigada. - ela sussurrou
- Shh ... - beijei o topo de sua cabeça
Alguém bateu na porta.
- Quer que eu abra ? - perguntei a ela
- Não, tudo bem. - ela fungou e se levantou
Fiquei brincando com uma linha solta que tinha no sofá, até ouvir a voz de Eleanor.
- Eleanor ? - indaguei quando ela chegou na sala
- Oi amor, eu já estava a caminho quando você cancelou o trabalho e resolvi vir assim mesmo pra ficar com você. - ela me beijou
- Eu disse que Lia estava mal. - falei
- Eu sei. Justamente por isso que eu vim pra cá, pra gente sair e deixar ela sozinha um pouco.
Lia me olhou como se não quisesse que eu saísse, mas não quisesse que eu continuasse com Eleanor do lado.
Fiquei fitando o chão por um momento.
- Não, eu acho que não benzinho. - falei num tom calmo
- Acha que não o que ? - ela indagou
- Eu vou continuar aqui. - olhei para Lia, que sorriu fraco. - Ela precisa de um amigo agora.
- Hã ... Ta bem. - ela sorriu
- Tá bem ?
- Ficamos aqui com ela então. - ela se sentou
- Eu não acho que ..
- Ruy. - Lia me chamou. - Tudo bem, ela pode ficar.
- Viu só ? - Eleanor sorriu. - Eu sei fazer um chocolate quente maravilhoso! Me permite ?
- Claro - Lia sorriu fraco novamente. - Tá tudo ao alcance.
- Tá bem! Haha. - ela levantou alegre e foi até a cozinha
Eu olhei pra Lia. Ela estava coçando a nuca e olhava pro chão. Usava uma blusa de manga branca e uma legg cinza, com suas meias brancas nos pés.
#~~#
- E aí eu pulei o muro, caí e machuquei os joelhos. Hahaha. - Um tempo depois Eleanor nos contara algumas histórias passadas. Ela realmente sabia como quebrar o gelo e distrair as pessoas. Lia ria como se tudo estivesse bem- Hahaha, não acredito que você pulou um muro correndo de um cachorro. - Lia ria, segurando seu copo de chocolate quente nas mãos
- Era um pitbull, ora.
- Descobriu por que ele estava correndo atrás dd você ? - perguntei a ela
- Sim, acontece que mais cedo naquele dia eu tinha ganhado um perfume do meu primo com cheiro de bife, só que o perfume exalava cheiro depois de quinze minutos. - ela riu. - E aí, quando eu percebi que tinha esse cheiro, o cachorro já estava atrás de mim. - Nós três rimos
- Eu tenho que admitir, Eleanor. Não dá pra acreditar que isso aconteceu com você. - Lia disse
- Não mesmo. - concordei
- Eu sei. Fiquei com arranhões nos joelhos por uma semana. - disse ela. - Já acabou ? - ela apontou para o meu copo
- Ah, sim, obrigado. - entreguei a ela
- E você ?
- O meu ainda tem, obrigada. - Lia respondeu
- Certo. - ela foi pra cozinha com o meu copo e o dela
- Ela é um amor, Ruy. - Lia falou meio baixo. - Agora entendi porque a ama.
- É, ela é. - cocei a cabeça
- Eu a julguei errado.
- Tá tudo bem. - falei
Ficanos em silêncio de novo, até Eleanor voltar.
- Eleanor, eu tenho que dizer ... - Lia começou. - Esse é o melhor chocolate quente que eu já tomei.
- Aaaa obrigada! Eu tive muito tempo pra aperfeiçoar ele.
- Quero que me ensine depois.
- Sem problemas.
- Gente, eu vou tomar um banho mas ... - ela levantou e ligou a tevê. - Vocês podem ficar aí assistindo televisão.
- Tem certeza de que quer que a gente fique ? - Eu perguntei
- Sim, vai ser bom. - ela disse. - Pelo menos até meu pai chegar.
- Tá bem então.
Ela saiu e eu abracei Eleanor, que sorria a toa enquanto olhava pra tevê.
- E aí ? - perguntei a ela
- E aí o que ?
- Você gostou dela ? - ela balançou o ombro
- Ela é legal.
- Quis ficar aqui pra isso ? Pra conhecer ela melhor ? - ela negou com a cabeça
- Quis ficar pra ficar perto de ti. - franzi o cenho. - Eu sei que ela gosta de você e nesse jeito que está, seria capaz de beijá-lo.
- Não acredito nisso. - a soltei. - Não confia em mim ?
- O que ? Para de ser ridículo, é claro que confio!
- Ficou aqui pra me vigiar, Eleanor. - falei um pouco alto
- Fiquei porque te amo. E não vou te perder pra ela. Além do que, ela não gosta de mim desde o dia em que eu cheguei na escola.
- Ela não pode ter mudado de opinião ?
- Em relação a mim, sim. Mas em relação a você, não.
- Argh, eu não vou ficar aqui pra ouvir isso. - levantei. - Confia em mim mas não confia nela. E o clichê ?
- Eu disse que não confio nela ? Disse ???? - ela levantou. - Eu disse que fiquei pra não te perder pra ela.
- Por que me perderia ?
- Porque você sente algo por ela também! - ela gritou
- Vou fingir que não escutei isso. - saí andando
- Porque sabe que é verdade.
#~#
Abri a porta e saí voando. Puta merda, Eleanor estava ficando paranóica agora ? Ela nunca foi disso. Nunca foi de ficar me cercando por conta de mina nenhuma.
Eu odeio isso. Odeio me sentir sufocado. Eu não ia aturar isso.