Alguns dias depois, eu estava no refeitório comendo um pão seco com mortadela.
Alex se aproximou.
- Oi. - disse ele
- E aí. - eu não o olhei
- Eu soube da Lia. - encarei
- É.
- Lamentável o que aconteceu com a mãe dela.
- Lamentável ela ter que ir embora. - falei sério
- Isso também. - ele pigarreou. - Como você está?
- Tô bem. - franzi o cenho. - Por que ?
- Eu sei que você gosta dela.
- Eu namoro!
Ele me olhou.
- Eu sei que você gosta dela. - repetiu
Suspirei.
- Sai daqui Alex.
- Por que ? - abri a boca. - Porque estou falando a verdade ? - então ele levantou e saiu
Lucca veio logo em seguida.
- Cara, você perdeu o provão!
- Diretor me fez perder o provão. - abri minha garrafa de coca e dei uma golada
- Por causa do trabalho né? - assenti
- Oooi meu amor! - Eleanor me deu um beijo. - Você está com gosto de coca, que horror.
- Que horror ? - Lucca indagou
- Eu não tomo coca, não gosto. - disse ela e Lucca me olhou
- Na casa dela, só guaraná ou suco. - falei tornando a tomar minha coca
- Nossa, então tá né.
- Enfim, amor .. eu vou dar uma festa de despedida.
- Despedida ?
- Sim, porque vamos entrar em férias. - disse ela
- Oba, eu adoro festas de despedidas! - Lucca se alegrou
- Ótimo Lucca, pode espalhar a notícia por favor ? - Eleanor pediu
- Claro. - ele levantou e saiu correndo feito criança
- Eu não sei se estou no clima de festa amor. - disse
- Por que ?
- Lia foi embora, ainda estou mal! Dar uma festa significa que eu não tenho sensibilidade, como se ...fosse pra comemorar ela ter ido embora. - parei um momento e refleti sobre as palavras
E se Eleanor estiver dando essa festa para comemorar que Lia foi embora ?
- Não seja ridículo amor. - disse ela. - Primeiro que quem vai dar a festa, vai ser eu. - Ela fez uma pausa. - E depois, eu sempre dou festa antes das férias e no fim do ano. - ela desembrulhou uma coxinha. - Eu sempre dava festas na minha antiga escola.
Ela mordeu um pedaço generoso da sua coxinha.
Engoli em seco e trinquei os dentes.
Então disse:
- Não está mais lá. - ela me encarou feio. - To indo pra sala, te vejo lá. - levantei e saí
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Quando cheguei em casa, larguei a mochila no chão e me joguei no sofá, tirando aquela camisa ridícula da escola.
- Ahahaaha Kelly, muito obrigada. - três mulheres passaram pela sala
- Oh, este é seu sobrinho ? - uma das mulheres perguntou
- Sim, sim ... Senhoras, este é o meu sobrinho Ruy. - minha tia veio logo atrás delas para me apresentar
- Oi. - falei colocando uma almofada em cima da barriga
- Nossa, você é uma graça. - outra mulher disse
- Obrigado moça. - eu olhava para a tevê
- Vem aqui me dá um abraço. - disse a primeira. - Eu te peguei no colo. - olhei para minha tia
- É, ela te pegou mesmo.
Levantei revirando oa olhos e a abracei.
- A carinha de bebê não muda nunca. - disse ela
- É eu me lembro de você. - falei
- Lembra ??? - ela arqueou as sobrancelhas. - Awwnn, vocês ouviram isso ?? Ele lembra de mim! - ela sorriu contente, me abraçando mais
- É, eu era apenas um bebê e me lembro de você. - isso fez minha tia e as mulheres rirem, como se eu tivesse contado uma piada
- Brincalhão ele. - disse a mulher
- Esse é. - minha tia concordou um pouco envergonhada
- Igualzinho a mãe. - eu fechei o sorriso
- Você ... Você e minha mãe eram .. próximas ? - perguntei engolindo em seco
- Aaaah, tínhamos que morar a duas horas da casa uma dá outra para sermos próximas. - disse ela rindo. - Nós fomos grandes amigas! Sua mãe era uma mulher adorável.
- É, ela era ... - minha garganta doía. - Tia, eu vou subir pro quarto.
- Ta bem meu bem, vai lá.
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Eu subi pro quarto e, quando liguei o chuveiro desatei em lágrimas.
Eu devia estar feliz!
Eu tenho uma namorada linda e gentil. Uma tia maravilhosa. Notas boas e colegas legais.
Por que será que ainda assim não me sinto satisfeito ?
