Capítulo 4

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   Claro que isso não mudava o fato dela ter me mandado a merda e me chamado de órfão na frente da escola.

Quando cheguei em casa, minha tia estava retocando o batom vermelho para ir trabalhar.

- Estou bonita ? - perguntou ela

- Tia, você é bonita. - joguei a mochila no chão perto do sofá. - Pra que um batom tão forte ?

- Ressaltar os lábios! - ela fez um bico e eu soltei um riso abafado. - Isso foi uma risada ? - ela perguntou

- É, acho que sim. - falei

- Obaaa! - ela veio me dar um abraço. - E como foi a escola ? 

- Legal. - disse

- Correu tudo bem ? - ela perguntou

- Tudo bem.

- Então tá, tem frango assado no forno e torta na geladeira. Eu volto as 19:00! - assenti e ela saiu

- Okay ... Tenho uma casa todinha pra mim até as 19:00. O que eu vou fazer ? - dei uma volta na casa da minha tia

Parei na porta do quarto dela, estava trancada. Por que diabos ela deixa a porta trancada ? Parece que não sabe que isso aumenta a curiosidade dos jovens como eu.

Depois de  lutar contra o impulso de arrombar aquela porta, fui pro meu quarto.

- Quer saber? Eu vou ouvir um pouco de música! - me livrei daquele uniforme ridículo, tomei um banho rápido e fiquei só de bermuda

Depois corri lá pra baixo na sala e liguei o som, pra ouvir rap.

Aumentei até o volume máximo e comecei a cantar.
Fiz suco de graviola e tomei.

Alguns minutos depois, ouvi alguém bater na porta.

- Quem é ? - berrei abrindo a porta e me deparando com Lia. -O que quer ?

Ela ficou um tempinho olhando para o meu corpo, o que me deixou um tanto quanto desconfortável.
Ela parecia ter esquecido o que ia falar até se concentrar novamente e olhar para o meu rosto.

- Eu moro bem ali. - ela apontou para a casa do outro lado da rua

- E eu com isso ?

- Caso não tenha feito seus cálculos, esse som está muito alto e eu preciso estudar pra garantir um futuro! Só que com essa porcaria de música estrondando meus tímpanos, não dá.

- Ai, eu lamento se a princesinha não consegue reconhecer uma boa música quando se ouve. - cruzei os braços

- Eu não sei de onde você tirou esse "princesinha" e nem sei da onde você pensa que eu tenho a vida ganha se não me dedicar pra isso. - ela bufou. - Sendo assim, tem como abaixar um pouco esse som ?

- Desculpe, não posso. - fechei a porta de tela e depois a porta de madeira e fui comer um pedaço de frango

Até ouvir ela bater na porta novamente. Dessa vez, com mais ferocidade.

- Escuta aqui, nessa vila temos regras!

- Nessas regras está escrito que um morador, que paga o aluguel não pode ouvir música ? - ela me encarou em silêncio e passou a língua nos dentes

- Não. - ela jogou metade do cabelo pra um lado só, com a mão. E ele ficou simplesmente perfeito. - Está certo, Harp .. que seja feito do seu modo.

  Ela se virou, acertando o cabelo no meu rosto e atravessando correndo para chegar na sua casa.

- Maluca. - falei voltando pra dentro e indo aumentar o som mesmo sabendo que estava no máximo

#~~#
   Duas horas mais tarde, decidi desligar o som e ir jogar videogame. Lia não veio me encher depois daquilo mas eu fiquei um tanto curioso com o que ela faria.

Bateram na porta uns minutos depois e eu bufei, mas fui atender.

- Quê ? - era Lucca

- Oi cara, eu e os manos vamos dar uma volta. - olhei para os "manos". Nenhum deles eram Ryan. - Quer vir ?

- Uma volta onde?  - indaguei

- Sei lá, acho que vamos perto do riacho. Sempre tem várias gatinhas por lá. - bando de virgens desesperados

- Tá bem, vou sim. - fechei a porta na cara dele e subi pro quarto pra colocar uma camisa e o chinelo

   Desci e me juntei a eles.

Quando chegamos ao riacho Lucca tinha razão, havia gatinhas pra todo o lado. Umas dentro dá água, outras tomando sol para se bronzearem e outras passando protetor solar.

- Nossa. - falei

- Sim cara, aqui é literalmente o paraíso. - disse Lucca

- E o que vem agora ? - eu olhei para ele e os outros me olharam, depois se olharam e depois pularam na água. - Ahh, isso vem agora.

  Tirei a camisa e o chinelo e pulei na água também.

- Que cê tá fazendo? - Lucca gritou

- O que você acha ? Dando um mergulho ora.

- Não achei que fosse mesmo nadar.

- Qual é, achou que eu viria pra um riacho apenas pra ficar observando uns rostinhos bonitos ? - ele coçou a cabeça

- Tem razão.

- E você, não vai entrar ?

- Eu não ...meu corpo é feio.

- Feio ? Cara, feio é deixar de se divertir por se importar com opiniões alheias. - revirei os olhos

- Tá bem, é ... Você tem mesmo razão! Eu vou entrar. - ele tirou a camisa, revelando seu corpo magro e depois tirou os tênis e entrou na água

- Nooooooossa Lucca, eu nunca vi você sem camisa. - uma garota, uma das "Três Marias" a gordinha comentou

- A-ah pois é Maggie ...

- Gostei de ver. - ela completou

- Obrigado. - ele sorriu e eu o encarei

- Você gosta dela. - afirmei dando um leve sorriso

- O quê ? Claro que não. Nossa, de onde você tirou isso ??

- Porra Lucca, ou você gosta dela ou fica corado com comentários aleatórios. - falei movimentando os braços na água

- Eu acho que é os dois. - disse ele pensativo

Joguei água no seu rosto.

- Deixa disso, vamos dar um mergulho.

#~#

Naquele momento eu até me senti vivo novamente e esqueci  dá dor que sentia por conta da morte dos meus pais. Porque naquele momento, só o que importava era me divertir.

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