Capítulo 17

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  O diretor me analisava com cuidado.

- Então, pelo simples fato da sua namorada estar apresentando um trabalho o senhor dá uma bicuda na porta e grita com ela ?? - ele perguntou

- Isso aí. - cocei o nariz

- Senhor Harp ...

- Olha diretor, você não entenderia os meus princípios nem se eu explicasse. - o cortei. - Pode simplesmente dar um veredito que eu vou aceitar. - falei

- Tá bem ... Duas semanas de suspensão.

- Tá bom.

- Isso vai fazer com que você perca o provão antes das férias. - disse ele

  E foi aí que eu me toquei. Só tínhamos mais três semanas de aulas e depois as férias. 

- Isso é uma puta sacanagem. - falei

- Olha o linguajar! Você parece não ligar muito para as regras da escola senhor Harp. Sendo assim, eu não posso ser legal com você.

- Firmeza. Só isso ?

- Só? - ele riu. - Está bem, é, é só isso.

- Valeu.

Voltei pra vila chutando as pedrinhas do chão.
Lia estava trancada no quarto desde que eu e as meninas a deixamos em casa.

Ela não queria ver ninguém e eu a entendia. Logo, respeitava seu momento. 

Minha tia estava com Calvin, dando um apoio a ele. Soava estranho pra mim isso.

Entrei em casa e vi uma gatinha sentada no sofá.

- Vai embora. Psss! - ela era filhotinha então ficou me olhando com curiosidade. - De quem você é, em ?

A peguei com uma mão e saí rondando a casa inteira.

Minutos depois, a porta se abre e minha tia entra.

- Ruy ? O que faz em casa essa hora?

- Tomei duas semanas de suspensão por dar uma bicuda na porta da sala.

- E por que você fez isso ?

- Porque Eleanor estava apresentando sozinha o trabalho de física.

- E?

- Eu e os meninos do grupo nos recusamos a apresentar o trabalho sem a Lia. E a vaca da professora disse que ela não teria nota nenhuma, e eu comecei a discutir com ela e a falar sobre a mãe dela. - olhei pra gata na minha mão. - Escuta, de quem é ?

- Ahhhhh, linda não é mesmo ? - minha tia a tomou em seus braços. - A gata da vizinha deu cria a um mês atrás, e eu tinha pedido dois filhotes.

- Cadê a outra?

- É outro. - ela riu. - E ele é um sapeca, deve estar embaixo de algum móvel.

  Começamos a ouvir um barulho de baixo do sofá. E quando eu olhei vi o gatinho arranhando o mesmo.

Comecei a balançar a mão de um lado pro outro, pra chamar a atenção dele.

Quando ele notou, pulou na minha mão e eu comecei a rir e a brincar com ele.

- Dá ele pra mim ? - pedi a minha tia

- Pra você ?

- Na verdade, eu quero dar ele a Lia. - falei. - Ela vai se distrair com um felino sapeca como esse.

- Que ótima ideia Ruy. - minha tia sorriu. - Está bem.

- Vou lá.

- Ela não está lá.

- Está onde ?

- No enterro. - engoli em seco

- Ah é ... Vou tomar um banho por enquanto.

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Depois de um banho, de uma boa pratada de comida, de uma partida de futebol no vídeo game e de umas risadas com os bichanos, eu fui até a casa de Lia.

- Olá Ruy. - o pai dela abriu um sorriso fraco

- Oi senhor Mendes. - falei baixo. - Posso falar com a Lia ? É só um segundo.

- Tá bem, pode sim. - ele abriu a porta para eu entrar

  Caminhei até o quarto dela e vi que estava encostado. Abri.

Na cabeceira um pequeno sanduíche que não foi tocado evidentemente e suco.

- Lia ? - a chamei

- Ruy ? - ela virou pra mim. Seus olhos estavam inchados

- Eu te trouxe uma coisa. - sussurrei, tirando o gatinho de trás das minhas costas

- Aaaah ... - ela levantou na mesma hora com o melhor sorriso que pôde e pegou-o da minha mão. - Eu amo gatos!

- Bem, esse é seu. - falei. - Achei que gostaria de uma companhia animal.

- Aaah Ruy, muito obrigada. - ela passava a mão na barriga do bichano

- De nada. - sorri. - Já vou indo.

- Espera. - disse ela, colocando o gato na cama. - E o trabalho, como foi ?

Cocei a cabeça.

- Eu não apresentei. - comecei a contar pra ela o que houve

- Você vai perder o provão. - disse ela

- É. Mas tá tudo bem. Faria de novo se precisasse.

- Você é bom, Ruy. Muito bom pra mim.

- Você é boa pra mim também. - ela balançou a cabeça

- Acontece que você é bom demais pra mim. - seus olhos lacrimejaram. - Eu não mereço você. Nunca mereci. Você está certo em não ficar comigo. - lágrimas caíram de seus olhos

- Não! - fui até ela. - Não Lia, eu ... 

- Lia ? - o pai dela entrou no quarto. - Faça as malas meu bem.

- Fazer as malas ? - indaguei

- Lembra o que eu te disse se minha mãe não resistisse?  - fiquei repassando as palavras dela

- Que você teria que se mudar da Vila. - balbuciei

- Isso. - ela limpou as lágrimas e pegou a mala

- É melhor você nos deixar agora, Ruy. - o pai dela disse e eu a encarei

- Eu vou me despedir de você, não se preocupa. - ela falou

Assenti.

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