O diretor me analisava com cuidado.
- Então, pelo simples fato da sua namorada estar apresentando um trabalho o senhor dá uma bicuda na porta e grita com ela ?? - ele perguntou
- Isso aí. - cocei o nariz
- Senhor Harp ...
- Olha diretor, você não entenderia os meus princípios nem se eu explicasse. - o cortei. - Pode simplesmente dar um veredito que eu vou aceitar. - falei
- Tá bem ... Duas semanas de suspensão.
- Tá bom.
- Isso vai fazer com que você perca o provão antes das férias. - disse ele
E foi aí que eu me toquei. Só tínhamos mais três semanas de aulas e depois as férias.
- Isso é uma puta sacanagem. - falei
- Olha o linguajar! Você parece não ligar muito para as regras da escola senhor Harp. Sendo assim, eu não posso ser legal com você.
- Firmeza. Só isso ?
- Só? - ele riu. - Está bem, é, é só isso.
- Valeu.
Voltei pra vila chutando as pedrinhas do chão.
Lia estava trancada no quarto desde que eu e as meninas a deixamos em casa.Ela não queria ver ninguém e eu a entendia. Logo, respeitava seu momento.
Minha tia estava com Calvin, dando um apoio a ele. Soava estranho pra mim isso.
Entrei em casa e vi uma gatinha sentada no sofá.
- Vai embora. Psss! - ela era filhotinha então ficou me olhando com curiosidade. - De quem você é, em ?
A peguei com uma mão e saí rondando a casa inteira.
Minutos depois, a porta se abre e minha tia entra.
- Ruy ? O que faz em casa essa hora?
- Tomei duas semanas de suspensão por dar uma bicuda na porta da sala.
- E por que você fez isso ?
- Porque Eleanor estava apresentando sozinha o trabalho de física.
- E?
- Eu e os meninos do grupo nos recusamos a apresentar o trabalho sem a Lia. E a vaca da professora disse que ela não teria nota nenhuma, e eu comecei a discutir com ela e a falar sobre a mãe dela. - olhei pra gata na minha mão. - Escuta, de quem é ?
- Ahhhhh, linda não é mesmo ? - minha tia a tomou em seus braços. - A gata da vizinha deu cria a um mês atrás, e eu tinha pedido dois filhotes.
- Cadê a outra?
- É outro. - ela riu. - E ele é um sapeca, deve estar embaixo de algum móvel.
Começamos a ouvir um barulho de baixo do sofá. E quando eu olhei vi o gatinho arranhando o mesmo.
Comecei a balançar a mão de um lado pro outro, pra chamar a atenção dele.
Quando ele notou, pulou na minha mão e eu comecei a rir e a brincar com ele.
- Dá ele pra mim ? - pedi a minha tia
- Pra você ?
- Na verdade, eu quero dar ele a Lia. - falei. - Ela vai se distrair com um felino sapeca como esse.
- Que ótima ideia Ruy. - minha tia sorriu. - Está bem.
- Vou lá.
- Ela não está lá.
- Está onde ?
- No enterro. - engoli em seco
- Ah é ... Vou tomar um banho por enquanto.
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Depois de um banho, de uma boa pratada de comida, de uma partida de futebol no vídeo game e de umas risadas com os bichanos, eu fui até a casa de Lia.
- Olá Ruy. - o pai dela abriu um sorriso fraco
- Oi senhor Mendes. - falei baixo. - Posso falar com a Lia ? É só um segundo.
- Tá bem, pode sim. - ele abriu a porta para eu entrar
Caminhei até o quarto dela e vi que estava encostado. Abri.
Na cabeceira um pequeno sanduíche que não foi tocado evidentemente e suco.
- Lia ? - a chamei
- Ruy ? - ela virou pra mim. Seus olhos estavam inchados
- Eu te trouxe uma coisa. - sussurrei, tirando o gatinho de trás das minhas costas
- Aaaah ... - ela levantou na mesma hora com o melhor sorriso que pôde e pegou-o da minha mão. - Eu amo gatos!
- Bem, esse é seu. - falei. - Achei que gostaria de uma companhia animal.
- Aaah Ruy, muito obrigada. - ela passava a mão na barriga do bichano
- De nada. - sorri. - Já vou indo.
- Espera. - disse ela, colocando o gato na cama. - E o trabalho, como foi ?
Cocei a cabeça.
- Eu não apresentei. - comecei a contar pra ela o que houve
- Você vai perder o provão. - disse ela
- É. Mas tá tudo bem. Faria de novo se precisasse.
- Você é bom, Ruy. Muito bom pra mim.
- Você é boa pra mim também. - ela balançou a cabeça
- Acontece que você é bom demais pra mim. - seus olhos lacrimejaram. - Eu não mereço você. Nunca mereci. Você está certo em não ficar comigo. - lágrimas caíram de seus olhos
- Não! - fui até ela. - Não Lia, eu ...
- Lia ? - o pai dela entrou no quarto. - Faça as malas meu bem.
- Fazer as malas ? - indaguei
- Lembra o que eu te disse se minha mãe não resistisse? - fiquei repassando as palavras dela
- Que você teria que se mudar da Vila. - balbuciei
- Isso. - ela limpou as lágrimas e pegou a mala
- É melhor você nos deixar agora, Ruy. - o pai dela disse e eu a encarei
- Eu vou me despedir de você, não se preocupa. - ela falou
Assenti.
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