Capítulo 32

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Minha toalha caiu, e vi David beijando uma mulher perto da porta. Ela era bonita, de cabelos loiros e lisos, um corpo bem torneado. Os dois não estavam me vendo ali. Então eu me aproveitei disso para recolher depressa minha toalha e voltar para dentro do banheiro. Ali me tranquei, e soltei todo ar que nem havia percebido que estava segurando. Eu balançava a cabeça negativamente em um ritmo frenético de angústia. Jamais pensei que sofreria tanto se um dia visse esse tipo de cena. Aqueles lábios eram meus...

Eu me odeio! Quero sumir!

Não aguento mais! Por que David? Por que?.....

Minha cabeça rodava, meu coração palpitava loucamente, e a angústia me dava socos em cheio no meu peito. A dor estava me corroendo tanto, que sentia que ela crescia dentro de mim, e que aumentava a cada lágrima que eu derramava, assim sendo capaz de rasgar minha garganta, e de ter que tapar minha boca com força para não emitir nenhum grito desesperado de minha alma.

Peguei o frasco de perfume que no banheiro havia e o joguei com força ao chão, o cheiro me invadiu, e um forte enjoo me tomou. As lágrimas se multiplicavam, e o desespero foi me consumindo a ponto de eu cair ao chão, e logo sentir a dor aguda de cacos de vidro perfurando meus joelhos e meus dedos.

Vi o sangue escorrer de minha pele, e eu só queria gritar. Nem a dor de ter me cortado podia superar a dor daquele beijo. Sempre soube que beijos eram perigosos, e agora confirmo a teoria.

- Aqueles lábios eram meus... - consigo sussurrar recolhendo minhas pernas para perto do queixo, e me encostando naquela parede fria.

Tapei o nariz, o cheiro estava tomando aquele local. Eu não queria sair, não, eu não queria! Para quê? Para novamente ver aquela cena, ou ver coisa muito pior? Eu seria capaz de enlouquecer!

Eu enlouqueceria? Sim, essa era a verdade. Eu enlouqueceria.

Logo as lembranças dos nossos beijos, toques e palavras tomaram a minha mente. E mais uma vez senti a dor terrível cortar o meu peito. Eu estava sangrando por fora, mas eu sentia o sangue escorrer por dentro de mim, como se uma lança tivesse atravessado meu corpo, meu peito, meu coração.

Quem era aquela mulher? O que ela estava fazendo aqui? Eu não vejo explicações lógicas!

Neste momento minha pior inimiga era a minha mente, e minha dor era sua aliada, que me matava a cada lágrima que contornava meu rosto vermelho, e provavelmente inchado.

Escutei dois toques na porta e a voz ressoou.

- Andressa? - escutei sua voz à me chamar. - Andressa, você está aí?

Levantei rapidamente ao som de sua voz, e me desesperei ao ver meu rosto no espelho. Eu mesma me deduraria se aparecesse para ele com o rosto inchado.

- Andressa você está bem? Pode abrir a porta, por favor? - disse agora em um tom preocupado.

Liguei a torneira e a água veio rápido. Enchi minhas mãos e banhei meu rosto da água gelada que me causou arrepios de primeiro impacto.

- Eu já estou indo. - tentei deixar minha voz em tom habitual.

Prendi a toalha mais à mim, e voltei a me olhar no espelho. Meu rosto ainda dava sinais de choro, afinal. Pus meus cabelos ainda úmidos no rosto e abaixei a cabeça. Eu passaria por ele despercebida. Girei a maçaneta da porta e a deixei aberta quando saí.

- O "Sr. Fantoche", veio avisar que irá ter um jantar daqui à pouco, então....

- Diga à ele que eu não irei. - disse o interrompendo de costas.

- Como assim? Aconteceu alguma coisa?

Cínico desgraçado!

Naquele momento tive vontade de voar contra ele, e enchê-lo de socos e tapas, e claro, uma boa quantia de ponta pés. Cafajeste!

- Só estou com um pouco de dor de cabeça... - digo ainda de costas, reprimindo um soluço.

- Eu posso ficar aqui com você, se quiser...

- Não! - o interrompo depressa. - Eu só quero dormir, só isso que quero... - sinto uma lágrima quente tomar conta do meu rosto. Aperto meus lábios um no outro, para que ele não escute meu choro.

- Ah, então está bem. Vou tomar um banho. - após isso escuto a porta sendo fechada.

Assim, eu desabo completamente na cama. As lágrimas escorrem agressivamente pelo meu rosto, e em minha garganta se cria um bolo. Tapo novamente a boca com força, e grito abafadamente. Minha alma tenta lutar com o meu próprio corpo, desesperada, eu estava.

Escutei a água cair constantemente do chuveiro. Abracei meu corpo. Eu estava tremendo e nem havia percebido. Isso era ódio? Talvez uma boa quantia de dor e desespero.

Ainda com a toalha me enfiei por debaixo do grande cobertor. Continuava à tremer, e me preocupei se ele me visse assim. Tentei regular a minha respiração, pelo menos pudia fingir que já havia adormecido.

O som do chuveiro cessou. Mais uma vez, o desespero me tomou. Me virei de bruços e enterrei meu rosto no travesseiro, deixei meus cabelos um pouco molhados cobrirem-me, e fechei meus olhos sentindo dor, ao ter apertado o travesseiro com força com meus dedos machucados. Mordi o tecido, e me concentrei em não deixar um grito enlouquecido e desesperado sair de minha garganta. As lágrimas inflamaram meu rosto, e a porta foi aberta.

Ouvi os passos descalços de David se aproximando de mim. Mordi mais forte o tecido do travesseiro, afim de não deixar escapar os malditos soluços. Escutei ele murmurar algo, e logo ficar calado novamente, só pude escutar seus passos para lá e para cá, até que ouvi ele se aproximar de mim, e ficar parado perto da cama. Eu estava ainda mais desesperada, tinha vontade de abraça-lo e sacudi-lo freneticamente para que disse-se para mim, que tudo não passava de uma doentia mentira, que era só um pesadelo, e que ele estaria ali para me salvar de tudo e de todos. Que ele nunca me trairia, e eu daria tudo para escutar o maldito "Eu Te Amo" de seus lábios. Mas, nada fiz, e só senti sua mão carinhosamente tirar algumas mechas de cabelos do meu rosto, e depositar em minha cabeça um beijo que foi capaz de matar minha alma...

Senti ele saindo de perto da cama, e escutei seus passos distantes até a porta que em um toque foi fechada. Agora eu estava sozinha, completamente sozinha naquele quarto. Senti minha alma sair de mim, quando ele me deu aquele pequeno beijo. Meu corpo estava tremendo mais ainda, eu queria sumir, a ter que sentir a dor que estou sentindo.

Um beijo. Um maldito beijo. Nunca pensei que odiaria tanto um beijo.

- Aqueles lábios eram meus.... - me lamentei enquanto me sentava na cama.

A raiva me consumiu, e então enquanto as lágrimas caíam freneticamente de meus olhos, eu fui arrancando desesperadamente os cobertores da cama, jogando os lençóis no chão, e jogando os travesseiros para o espaço.

Comecei a me contorcer de puro ódio e amor. A dor dos cortes ardiam meu corpo, e a vontade de desaparecer crescia em mim, até eu sentir uma dor horrível na minha cabeça e cair entre os travesseiros e lençóis que haviam no chão.

Votem e comentem.

Existe alguma explicação lógica para com o que aconteceu?

Algemada Com Meu Chefe!Onde histórias criam vida. Descubra agora