Garret forma um perfeito circulo em sua boca, esbugalhando os olhos diante de mim, Dayse estava do mesmo modo ao seu lado, os dois olhavam do jornal para mim, com minha noite de ontem destacada no The New York Times, e isso foi o suficiente para me deixar com náuseas, vendo minha foto apenas de pijama, sentada nos fundos de uma ambulância estampada na primeira página do maldito jornal. Meus melhores amigos estavam incrédulos, incapazes de acreditar no que liam na folha, até eu estava, já que não consegui dormi com as palavras daquele detetive ecoando em minha cabeça, e com as lembranças do que eu havia presenciado naquele apartamento me atormentando. Minha vizinha, uma mulher que nunca troquei uma palavra si quer, apenas olhares de antipatia, havia sido esturprada e assassinada, e o pior, eu havia presenciado tudo. Lá estava aquela dorzinha corroedora em meu peito, lembrando-me que eu havia visto uma pessoa morrer, e que eu podia ser a próxima se os detetives tivessem razão.
Eu estava abalada, sem saber o que pensar ou fazer, minha cabeça dava voltas o tempo todo, trazendo o exato momento em que aquele homem me encarou e o sorrisinho assustador que ele me lançou. Talvez os detetives tivessem razão, e eu possivelmente passaria a ter uma mira em minhas costas. Por mais que eu não demonstrasse, isso me assustava muito. Eu só não sabia o que fazer.
“Você está ferrada...”
Essas benditas palavras ecoam como uma espécie de alerta idiota em minha cabeça.
Tudo isso era tão agonizante. Merda! Eu não podia simplesmente abandonar tudo que consegui, meu emprego no Hard Sky Bar, ou meu apartamento no Brooklyn.
Dayse e Garret com certeza diriam a mesma coisa que os detetives, que o certo seria eu aceitar ser levada para um lugar afastado de tudo, como se isso fosse o melhor para mim.
Mamãe nunca aceitaria isso, se ela estivesse viva nesse momento, talvez isso nunca estaria acontecendo, ou talvez eu ainda estivesse morando em Boston, se não fosse sua doença, eu ainda a teria aqui. Minha única família, já que nunca vi ou ouvi sobre meu pai, apenas que ele havia nos abandonando quando descobriu a gravidez de minha mãe, e como eu era sua única filha, fui a única que cuidou dela em seus piores momentos, porém, o câncer acabou a levando muito rápido.
Dora Miller lutaria nesse momento, ela sim saberia o que fazer, se eu ao menos fosse um pouco da sombra da mulher que minha mãe foi um dia, eu também saberia.
Suspiro baixo, ouvindo alguém chamar com um assovio, e como Garret estava entretido demais no jornal, fui atender a pessoa, era um cara, pedindo por garrafa de Gin.
Voltei para o balcão, avisando a Dayse sobre o pedido do cara, logo ela foi para a dispensa, trazendo uma garrafa de vidro consigo, entregando-me com um olhar incrédulo, e tentando não me importar com isso, fui até a mesa onde o cara estava, entregando a garrafa com um copinho para ele.
— O próximo você atende. Eu já estou exausta, quase recebi um banho de sopa quando fui entregar um pedido e uma garotinha me reconheceu por causa do jornal. — Bradei para Garret, vendo ele parado, apenas me encarando, ainda em choque pelo que deve ter lido no jornal, enquanto eu me sentava em uma das baquetas, olhando para ele atrás do balcão.
— É só isso que você diz? — Pergunta, dou de ombros suspirando, retirando uma liga do bolso gigante que havia no avental que eu usava, amarrando meus cabelos em um rabo de cavalo. — Não fode, que porra é essa?
Ergueu o jornal em sua mão.
Pelo canto do olho vejo Dayse atendendo um mulher, e com rapidez ela termina, se voltando para mim, aproveitando que a mulher retornou para sua mesa.
Garret Kyle e Dayse Stuart são meus melhores amigos desde de que cheguei a cidade, em meu primeiro dia em New York, conheci Garret no metrô. O loiro de sorriso gentil havia me conquistado, posso até dizer que devo tudo ao cara, já que foi graças a ele que consegui esse emprego, em um dos bares mais conhecidos da cidade, e assim conheci Dayse, que já era sua amiga, e também trabalhava aqui, só que diferente de mim e Garret, que eramos garçons, Dayse ficava no caixa, atentando as pessoas, enquanto eu e ele serviamos elas.

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DANGER
RomansaQuando há uma ferida profunda no coração. Será se ela pode ser corrigida? Ou até mesmo substituída? Perante todos, sou um homem forte, e seguro, mas isso é só uma máscara. Durante cada maldito segundo da minha vida, eu sempre fui cercado por peri...