Drico nadava rapidamente em direção à margem. Ele havia caído de uma altura de metros e metros dentro dentro de uma fenda que no fundo possuía uma piscina natural gigantesca, onde poucos haviam ido e ninguém havia sobrevivido.
Um local tão profundo que a luz do dia mal tocava, tão vazio que as braçadas dadas enquanto ele nadava, ecoavam por todo o espaço da gruta rochosa, um lugar tão terrível que apenas criaturas obscuras habitavam... E ele estava fugindo de uma.
"Eu tenho que sair daqui... Eu tenho que sair daqui...", pensava o bardo aflito com os cabelos encharcados bagunçados sobre a face de pele bronzeada. Ele abriu os olhos esverdeados, sutilmente puxados para cima de forma diagonal, e tentou enxergar a direção em que seguia, mas no desespero da fuga era difícil manter o foco. Decidiu então usar sua audição aprimorada e mexendo as orelhas pequenas, porém pontudas, ele pôde ouvir a movimentação da água atrás de si. O monstro ainda estava lá.
Aquela situação aterradora fizera o jovem meio-elfo pensar que aquele seria seu fim. Sendo assim, muitas memórias vieram à sua mente, nem todas belas e bonitas como muitos diziam que eram os últimos pensamentos de um moribundo. Sua mente focava-se em sua maioria nos instantes antes de tudo aquilo, no momento terrível em que caíra da ponte e nas pessoas que estavam com ele. Lembrou-se também de sua mãe e curiosamente de uma cantiga que contava a história de um marinheiro e um monstro marinho.
Empenhado a sobreviver no final de tudo aquilo, assim como o protagonista da cantiga em sua mente, Drico nadou o mais rápido que conseguia para sair da água, mas então um enorme tentáculo submergiu, agarrando o jovem músico de Theolen e o arrastando para dentro d'água gélida. Engolindo um pouco de água, o meio-elfo de maneira desengonçada agarrou o clarinete preso ao cinto e o levou à boca, fazendo com que bolhas saíssem dele. Ainda que estivesse submerso, conseguiu conjurar a magia que queria, fazendo com que seu instrumento brilhasse intensamente. Neste momento ele aproveitou a incrível visão élfica herdada do pai que nunca conhecera e observou parte da imensa criatura que o atacava.
Levou um susto ao ver presas afiadíssimas em fileiras circulares não muito longe de si. Sem conseguir ver toda a silhueta da criatura corpulenta, ele apenas começou a se espremer para tentar escapar do tentáculo que o puxava para a morte.
Usou então sua agilidade, típica de seus ancestrais orelhudos, e com sorte e sucesso escapou do braço gosmento que o agarrava. Nadando rapidamente para cima, ele emergiu a cabeça retomando o ar em desespero. Sem muito tempo para fazer qualquer coisa, ele logo sentiu uma onda o empurrar levemente para frente. Quando olhou para trás conseguiu ver apenas o brilho do corpo imenso que submergia vagarosamente.
Numa feroz tentativa de acertar sua presa, o monstro ergueu dois de seus tentáculos e com força e velocidade os bateu na direção do jovem. Drico viu o ataque vindo em sua direção e rapidamente nadou tentando sair da área que seria acertada, amaldiçoando a armadura de couro leve que usava para se proteger, mas que agora apenas o fazia mais pesado.
Quando foi empurrado para debaixo d'água novamente, devido a correnteza gerada pelo impacto do tentáculo na água, ficou aliviado momentaneamente por não ter sido atingido pela criatura, mas logo sentiu uma pancada nas costas, ao se chocar contra os limites da gruta.
Preste a desmaiar ele subiu retomando o fôlego e notou, graças a luz de sua magia, que havia uma plataforma de rocha com o que parecia ser uma caverna seguindo por dentro das paredes da gruta. O meio-elfo sentiu novamente as ondas se movendo em sua direção e sem olhar para trás saiu da água apressado, usando seus últimos resquícios de força para se levantar e correr para longe dali.
Aos poucos o bardo foi adentrando um extenso corredor subterrâneo cavado em meio a terra e rochas. Ele seguiu em frente tateando o local completamente exaurido. "Que lugar é esse?", pensou ao olhar para frente com a iluminação precária que tinha.
Virou-se então para trás de onde tinha vindo e ouviu o barulho da água se movimentando violentamente. Seu coração que começava a se acalmar acelerou novamente e ele andou na direção oposta, pegando ainda mais distância do demônio aquático que havia enfrentado.
Depois de seguir por alguns momentos ouvindo apenas as gotas de sua roupa molhada caindo no chão e o eco de seus passos, o jovem Theolino chegou ao final do corredor, onde ele viu uma grande escada de pedra que subia em forma de caracol. Como tinha caído até o lago em que estava há pouco, faria todo o sentido que ele subisse para voltar à superfície e encontrar seus companheiros.
Ele olhou a escada tentando ver alguma luz no topo e suspirou lamentando por nem se quer ver o final dela. Ofegante, Drico deu seus primeiros dez passos rumo a liberdade, mas antes que pudesse dar o décimo primeiro, suas forças o impediram de continuar. Ele olhou para cima e caiu desmaiado no largo degrau de pedra, enquanto de sua boca saia água e sangue.
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Sons of Theolen
FantasyHá muito tempo, Thorrun, o próspero reino dos anões do norte, tombou sobre a maldição de um deus e após Eras de sua queda, sussurros dessas terras alcançaram o grande reino ao sul, Theolen. O primeiro presságio vindo do norte causa um acidente na ta...