Sinfonia Abstrata

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O teu sorriso contagia-me, conta-me histórias, ilude-me com mentiras onde a tua boca é o ator principal e a tua cabeça o grande argumentista.
Envolve-me neste enredo, onde me metes no palco sem guião, o improviso é a beleza da obra.
Olhos de mongol, descrição de um primeiro encontro, que não era realmente o primeiro de todos, mas era o primeiro a sós.
A felicidade era estonteante, não me imaginava com outra pessoa sem ser contigo. A perfeição não existe, mas nós conseguimos apalpá-la num mundo imaginário. Foi aí que percebi que a perfeição é uma questão de opiniões, cada pessoa tem a sua definição de "perfeição" que na verdade vai derivar tudo ao mesmo, uma busca por uma felicidade nunca antes obtida.
A vida parece ser curta, mas quando damos por nós, já estamos mais velhos, com outra mentalidade, com novos objetivos e fugimos de um passado que nos atormentou.
Quando menos esperava, chegou a altura do tão falado "fim", e tudo aquilo que nós construímos depressa, se tornou num campo de ruínas. Cada pedra solta no chão continha uma memória nossa, tudo aquilo doeu demais e eu queria me isolar.
Acordei depois de uns dias de tudo se ter passado, e reparei na chuva intensa que caía. Imaginei que as nuvens sentiam a minha tristeza e descarregavam lágrimas. A tristeza é algo típico, há sempre algo que nos magoa, há sempre algo que nos incomoda, e eu sabia isso melhor que ninguém.
Existia um cenário de Romeu e Julieta, onde tu já tinhas morrido e toda a dor era o veneno que me iria levar para um desconhecido, mas queria que fosse contigo.
Na minha cabeça compus uma das mais belas sinfonias, uma mistura de tons agudos e graves, e as nossas memórias eram o maestro numa infinita e bela dança de braços pelos tempos.
Passado tanto tempo, ainda me lembro dessa sinfonia e o veneno ainda me corre pelas veias, tenho um desejo, quero voltar-te a ver, quero voltar a ver o teu sorriso.
Dentro de décadas já não terei muitas memórias tuas, a adolescência será apagada num cenário de rotina. Então escrevo num papel tudo o que vivemos e vou escondê-lo. Enquanto aquele papel possuir tinta, assim eu continuo a amar-te.

"Por trás da realidade" by Nuno Miguel AssunçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora