"Para aparecerem no jornal, há assassinos que assassinam."
Eça de Queirós
30 de março, 2013.
Parabéns pra você...
Preciso que você vá até essa casa...
Parabéns pra você...
E cobre desse problema...
Parabéns, querido Adam...
E se preciso, acabe com esse problema...
Parabéns pra você.
Com uma bala na cabeça.
Enquanto as palavras e cantigas martelavam na caixa de sonhos do jovem Adam, de 26 anos, ele caminhava com a postura tensa e alerta pelas ruas da periferia de Lion's Den. Aqueles prédios decadentes de cores castanhas que ganhavam um tom alaranjado pelos postes de luz.
Ninguém decente anda pelas ruas à meia noite. Era o que sua mãe sempre dizia quando ele ficava fora até tarde, ainda assim, lá estava ele, nas ruas à meia noite, a mando de seu pai.
Enquanto caminhava pela calçada sua língua passou pelos dentes, sentiu um leve gosto de chocolate sob a menta do creme dental. Logo sua lembrança vagou a seu apartamento e seus parentes, juntos ao redor da mesa e um bolo de chocolate. Lembrou também de seu presente, um pequeno akita que ele nomeou como Kal-el, uma singela homenagem para seu personagem favorito da infância.
E as lembranças continuaram jorrando por detrás dos olhos, o sorriso de Tasha e de sua mãe, os olhos confiantes do pai. Eles riram até Aaron o chamar para o canto, voz de confidente e postura exigente naquela voz grave e inflexível como diamante. Pedidos feitos longe dos olhos das mulheres da família, como se fosse algo vital.
— Vá até o lixeiro do prédio, atrás dele tem o que você precisa.
E assim Adam foi, nome do devedor e o número do apartamento. Um cheirador de cocaína nato, um caloteiro de natureza. Vestido como seu pai mandou, roupas escuras, calça moletom e botas, casaco com capuz. Comuns para o final do inverno e o início da primavera. Para um negro da periferia.
— Se vista como se pertencesse ao lugar. Um preto vestido em capuz provoca medo, mas passa despercebido, se comparado à um vestido num terno italiano.
E como bom filho, ele obedeceu. E assim que todos saíram de seu apartamento, se vestiu e caminhou até o bairro decadente pegando o ônibus — outra instrução do pai.
Chegou ao prédio sem problemas, mantendo a cabeça baixa numa postura introspectiva e raivosa. Longe dos indivíduos que ainda habitavam a calçada naquela altura da noite e se mantendo neutro quando alguém o olhava da maneira de quem indaga. Era um prédio de 9 ou 10 andares, pintado a muitos anos em uma cor ferrugem que descascava pelas paredes. Havia diversos apartamentos com janelas pregadas, provavelmente abandonados por seus moradores. Havia também uma ou outra luz acesa que podiam ser vistas, ao menos pelo lado de onde olhava.
Caminhou até a lixeira na lateral do prédio, empurrou para o lado e ali encontrou uma sacola preta, presa com fita adesiva prata à lataria verde-escura. Arrancou sem esforço e retirou seu conteúdo: uma pistola de pintura preta e fosca, seu número de série foi lixado com uma lima provavelmente. Seu pente com 17 disparos completamente cheio.
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Castelos & Ruínas
General FictionTodos querem ser Rei. Dominar, estar por cima da carne seca, status, poder, dinheiro e mulheres. Esse é o sonho de todos na cidade pecaminosa e cheia de oportunidades de Lion's Den, nem que seja percorrendo a margem da lei. Adam Jones Ives é uma est...