Capítulo 3

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Acho que nunca uma semana foi tão cheia e passou tão rápido em toda minha vida. Eu recebi a notícia na segunda, e viajava no sábado. Eu realmente não sei o motivo de eu ter aceitado tão rápido a ideia, mas em uma ligação com Pierre, eu entendi exatamente o porque.
Pierre: MEU DEUS, EU NÃO ESTOU ACREDITANDO QUE VOCÊ VAI IR PRA UM COLÉGIO INTERNO!!- sua empolgação era tanta que até o computador dele balançava.
Dakota: é, eu não sei o porque eu aceitei tão bem essa ideia, na real.- ele deu uma risada estérica.
Pierre: GATA VOCÊ NÃO TEM NADA TE SEGURANDO! ! Eu não to acreditando que eu vou ver você em cima dos patins de novoooo!
Dakota: Você sabe que eu não vou andar. E você também sabe o porque.- Ele revirou os olhos e me olhou com degosto.
Pierre: ENFIMMM, viaja quandooo?- ele estava mais empolgado que eu.
Dakota: hoje a noite. - eu disse, colocando mais um casaco na minha mala.
Pierre: e você vai levar?- Meu amigo disse, apontando para o canto do meu quarto, onde minha mochila de patinação roxa se encontrava.
Dakota: não, não mesmo.- Ele revira os olhos e passa a mão no cabelo escuro.
Pierre: você é chata Dakota, se você começar a andar de novo, não vai querer andar com outro patins além do seu.
Dakota: mas essa é a questão, eu não vou andar!- disse brava olhando pra tela do computador.
Pierre: DAKOTA, o que custa levar?
Dakota: Você é insuportável.
Pierre: Só não diga depois que eu não avisei linda.
Dito isso ele desligou a ligação, e eu fiquei com a mais linda cara de bunda olhando pra mochila com os meus patins. Eles me davam medo. E agora, entre eu e esse medo, só tinha um coro velho da mocilha e um zípper prestes a arrebentar.
Passei a tarde inteira arrumando as últimas coisas, e quando era 18:00, eu estava pronta. Minha única amiga bateu de leve na porta, e entrou, com uma caixinha preta nas suas mãos.
Marrie: está nervosa?- ela me conhecia tão bem.
Dakota: muito. Mas eu tenho uma novidade pra você.
Ela sorriu, e se sentou na minha cadeira giratória, que, alguns dias antes, tinha sido ocupada por uma mulher desconhecida.
Marrie: pode falar.- sentei na cama, e disse.
Dakota: livre de pesadelos essa semana.- seu sorriso foi instantâneo.
Marrie: isso é ótimo! E porque você acha que eles não " vieram" essa semana?- pensei comigo mesma por alguns segundos.
Dakota: acho que eu estava.. feliz.- eu disse por fim, me jogando para trás e deitando na cama.
Marrie: Dakota isso é muito bom, nós estamos no caminho!- ela disse, vindo até mim e sentando na beirrada da cama.- Você sabe que nós vamos continuar o tratamento não é? Mesmo longe, vídeos chamadas, telefone, eu não vou desistir de você-.Sorri e abracei, acho que sentiria mais falta dela do que de qualquer outra pessoa. Ela se afastou e me entregou a caixinha sorrindo.- Espero que goste, e que não fique brava nem nada, só achei que iria te ajudar-. Concordei curiosa e peguei a caixinha das mãos dela. Abri com cuidado, e quase chorei quando vi. Era uma corrente fina cobreada, com um pingente colorido de um patins. Abracei forte e disse- Obrigada, eu adorei-. Ela me abraçou de volta, se despediu, e saiu.
Coloquei todas as malas no corredor enquanto meus pais não chegavam, e quando o elevador subiu, o motorista particular do meu pai apareceu na minha frente. Bufei de raiva.
Dakota: eles não vão nem se despedir?
Oscar: sinto muito, eles ficaram presos em uma reunião e.- não dei ele terminar.
Dakota: É, é é, eu já sei. Agora você pode me levar para o aeroporto?- ele concordou e me ajudou com as malas, e em uma viagem rápida pela cidade que eu mal conhecia, chegamos no aeroporto. O Oscar me ajudou a colocar as malas no carrinho do aeroporto, e me abraçou. Oscar: boa sorte senhorita, espero que encontre o que procura.
Dakota: obrigada, e.. eu espero que eu econtre- dei um leve sorriso, e ele foi embora. Ok. Não era tão difícil, era só fazer o che-kin, despachar as malas e pronto. Estava na fila para despachar as malas, quando eu vi Oscar entrar correndo e me procurando com os olhos. Dei um breve aceno e ele veio em minha direção.
Oscar: eu esqueci de te dar essa senhorita.- ele me passa a mochila de couro roxo, e sorri.- sinto muito pelo meu descuido..- sorri de volta e disse- tudo bem- ele concordou e saiu de novo do meu campo de visão. Que irônia do destino. Eu tinha colocado na última hora a mochila dos meus patins no meio das minhas malas, e agora, quase tinha deixado-a para trás. Pedi para a moça colocar um selo de frágil nos patins, e depois de tudo pronto, eu me minha mocilha, que tinha meu celular, carregador, enfim, fomos em direção a sala de embarque. Sentei em uma cadeira e esperei com a passagem na mão por uns 20 minutos. Quando não aguentava mais esperar, finalmente começaram a chamada para o meu vôo.
Entrei no avião e procurei o número da minha poltrona. "63". Sentei e tentei me acomodar no minúsculo, mas pelo menos, era na janela. Uns 5 minutos depois, uma senhora, que eu chutaria ter uns 60 anos sentou ao meu lado. Ela sorriu para mim, e eu retribui o gesto. Fiquei feliz por ter uma pessoa simpática ao meu lado. Comecei a olhar para o lado de fora da aeronave. Estava noite, e tinha tantas luzes piscando para todos os lados, que me lembravam as que eu colocava na árvore de natal quando eu era pequena.
Theresa: tem medo?
Me virei para a senhora, que apontava para o lado de fora.
Dakota: até que não, só fico nervosa na hora de decolar.
Ela deu uma risadinha, e disse.- Eu também tinha isso, mais depois de tantas viagens, acabei me acostumando. Agora essa lata de metal é minha segunda casa.- sorri, e perguntei curiosa.- a senhora viaja bastante?- ela franziu as sobrancelhas.- Querida, " senhora" ta no céu, me chame de Theresa.- dei uma risada, e disse- Ok, prazer Theresa, me chamo Dakota!- ela abriu um largo sorriso.-Quando eu visitei Dakota do norte, conheci um Italiano, que " dios mio". - ela falou, se abanando com a mão. Dei uma gargalhada e ela me acompanhou, e algumas pessoas que estavam sentadas perto de nós, nos olharam.
Theresa: E para a sua pergunta de antes, é, eu viajo sim, depois que me aposentei, sai pelo mundo a fora. Meus filhos as vezes me ligam pra saber aonde eu vou, e a minha resposta é sempre a mesma " o médico cortou o cordão umbilical a vários anos atrás, então fiquem tranquilos"- dei mais uma risada, mas parei quando ouvi que o piloto estava anunciando o voo. Quando a lata decolou, fiquei impressionada com a tranquilidade de Theresa, ela nem se preocupava com o que estava acontecendo, estava mais interessada em seu livro de viagens. Quando estabilizamos, Olhei de novo para o céu. Agora, sem nenhuma luz, apenas o breu de estar voando sobre as nuvens.
Theresa: isso que me da medo.- ela disse, apontando para a escuridão la fora. Franzi o cenho, e ela respirou fundo.
Theresa: do esquecimento. Do vazio. Do " nada". Temos apenas uma única vida, e gastamos ela inteira apreciando a morte chegar devagar.
Estralei os olhos. Nunca tinha visto uma mulher tão inteligente em toda a minha vida.
Dakota: então.. é por isso que a senh.. você viaja tanto? Para tentar apagar a ideia que estamos morrendo?
Theresa: um pouco. Eu viajo porque... porque eu sei que não vou estar viva daqui a 50anos, e aliás, eu agradeço por isso. Mas você já parou para pensar que, viajar, é como um livro? Você vive mil vidas antes de ir de vez. Eu procuro o meu talvez. O talvez de estar aqui. O talvez de poder ir para lugares e conhecer milhares de pessoas diferentes. Eu simplesmente procuro o grande, misterioso, relativo e assustador, " talvez".
Suas palavras me chocaram. Talvez seja isso. O risco de ter a vida incrível ou ser apenas mais uma que vai passar na terra. A arte do talvez me encantou no primeiro ato. E ai que percebi. Graças aquela senhora que a conhecia menos de 45 minutos. Eu estava em busca do meu grande talvez.

Voando Sem AsasOnde histórias criam vida. Descubra agora