Capítulo 26

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Depois de ajudar Emily a tomar banho e colocá-la na cama, sentei perto da janela e com a neve caindo lentamente lá fora, comecei a pensar. Eu já tinha notado que Emy tem algo contra o seu corpo, e que se cuida muito na alimentação, mas infelizmente eu não tinha percebido que era tão sério. Droga. Talvez se eu tivesse percebido antes. Eu não tinha nem ideia de como ajudar Emily, até que me veio uma pessoa na cabeça. Corri até minha cama e peguei meu celular, disquei o número de Marrie e já no segundo toque ela atendeu.
Marrie: Oi Dak, está tudo bem?- Minha amiga pediu do outro lado da linha. - Oi Marrie, só um minuto.- Conferi se Emy estava dormindo, peguei meu casaco em cima da mesa e sai cuidadosamente do quarto. Já no corredor, olhei a tela do celular e vi a hora. Merda.
Dakota: Marrie me desculpa, agora que eu me toquei que temos o fuso horário. Me desculpa.
Marrie: imagina Dak, você sabe que pode me ligar a hora que for! Está tudo bem com você?
Dakota: bom, comigo está o de sempre, mas estou te ligando agora porque preciso de uma ajuda sua.- Digo e começo a contar a história da Emy, Marrie me escutou pacientemente e em silêncio até eu acabar.
Dakota: Eu não sabia que ela tinha esse problema e agora não faço a menor ideia de como ajudá-la, o que eu faço Marrie?
Marrie: bom Dak, primeiro, eu sinto muito que isso esteja acontecendo com a Emy. Bulimia é algo muito sério e que atinge muito mais pessoas que imaginamos. Sei que você gosta muito dela, e que com esse coração gigante quer tentar resolver o problema dela, mas infelizmente isso foge das suas mãos querida. Emily precisa de um tratamento psicológico intensivo, não posso julgar assim sem saber de mais detalhes, mas provavelmente ela terá que começar a tomar medicação contínua. Ela precisa de ajuda profissional Dakota.- No fim da explicação de Marrie, eu já estava chorando. Que mundo filho da puta.
Dakota: Marrie, ela não tem família. A mãe dela morreu quando ela era pequena e o pai jogou a menina  nesse colégio a anos! Ele não voltou buscá-la e com muita mentira ela conseguiu ganhar uma bolsa. Ela não tem dinheiro para pagar um tratamento assim.- Digo, em meio aos soluços. Ouço Marrie respirando fundo do outro lado da linha. Era o jeito dela de tentar clarear as ideias.
Marrie: Dak, eu vou tentar contatar amigos de profissão que moram aí que poderão ajudá-la, mas mesmo assim, eles não farão de graça.
Dakota: Marrie meu pai peida dinheiro, isso não será problema.
Marrie: Dakota você não fala com seus pais desde que viajou. Você acha mesmo que eles irão aceitar isso?
Bufei. Eu tinha um plano, mas teria que acontecer exatamente como eu planejei em 3 minutos na minha cabeça.
Dakota: Isso eu dou um jeito. Só agende para nós as consultas com os profissionais que você acha necessário e diga a eles que acertamos tudo no próximo mês.
Marrie: Você não irá vir para casa no feriado de ação de graças?
Dakota: exatamente. Eu vou e levo a Emy junto. Ela conhece meus pais, ela vai encantar eles como me encantou, eles se sensibilizam com a história e depositam o dinheiro!
Marrie: eu espero mesmo que isso de certo.
Dakota: vai dar sim!- digo, esperançosa.
Marrie: Dakota, só não quero que você esqueça de uma coisa: Você também é doente. Também precisa de ajuda e não tem condições de abraçar esse problema sozinha. Fez certo em me ligar, mas deixa que eu cuido de vocês está bem? Por favor!
Dakota: Ok Marrie, muito muito obrigada!
Marrie: de nada querida. Hoje já marco as consultas e te dou um retorno.
Me despedi da minha psicóloga e entrei no nosso quarto. Emily já estava acordada e debruçada em 2 livros. Estava sentada na cadeira de frente para escrivaninha, com os olhos atentos nos textos.
Dakota: Emy, precisamos conversar.- Minha amiga olhou para mim e largou o marca texto.
Emily: se for sobre o que aconteceu hoje, está tudo bem. Foi a primeira vez que eu fiz de propósito Dak, fica tranquila, eu só quero esquecer tudo o que aconteceu.- Diz, tropeçando em suas próprias mentiras. Cheguei mais perto dela e me ajoelhei em sua frente. Segurei suas mãos e olhei dentro daqueles olhos verdes.
Dakota: Emy, eu sei como é não estar tão bem assim. E tudo bem. Emily eu trato meus problemas psicológicos desde que tinha 10 anos. Sei que é horrível aceitar mas chega uma hora que não aguentamos mais segurar a barra sozinha- Os olhos de Emy se encheram de lágrimas e os meus também- quando meus pais apresentaram a ideia de eu vir para cá, aceitei na hora, porque dentro de mim senti que talvez aqui fosse meu recomeço. Eu não tinha ninguém lá e vim pra cá totalmente sem rumo. Mas aí, não sei se foi o destino, os astros ou deus, mas alguém colocou você em meu caminho. Eu nunca tive uma irmã mas agora sei como é sentir que tem um pedaço do seu coração em outra pessoa Emily. Eu te amo muito, admiro o ser humano incrível que você é e quero te ajudar. Você se tornou em poucos meses uma das pessoas mais importantes em minha vida! Então loirinha, por favor, me deixa te ajudar.- Quando acabei de falar eu já estava em prantos e Emily também. Abracei ela com todo amor que eu tinha e ela retribuiu o abraço. No meio de toda aquela emoção, Emily se afastou, respirou fundo e disse - eu aceito Dak, imagino que estejamos falando de tratamento então tenha consciência que  eu vou ajudar a pagar.- Quando eu ia protestar, ela me interrompeu.- Eu tenho um pouquinho de dinheiro guardado porque trabalhei nas últimas férias, não é quase nada mas eu vou conseguir mais e vou te pagar, eu prometo. Eu quero ser saudável de novo Dak- Respirei fundo e concordei, a abraçando de novo. Eu tenho tanta admiração por essa menina que não consigo nem colocar em palavras.
Dakota: Bom, agora eu vou limpar meu rosto e vou buscar algo para você comer.
Emily: Dak eu juro que não estou com fome.
Dakota: Eu irei buscar mesmo assim. Vou pegar algo leve como café da manhã pra ti, um chá pode ser? Com uma fruta e 2 bolachas?- resolvi tentar começar de boa com a Emy. Ela torceu o nariz mas não protestou. Entendi como um sim e fui até o banheiro. Limpei o rímel borrado do meu rosto, voltei para o quarto e disse que não demoraria mais que 10 minutos. Sai correndo pelos corredores em direção a cantina, agora eu já estava mestre naquele labirinto.
Cheguei na cantina e o buffet não estava a postos como estava mais cedo. Resolvi tentar com a boa fé das tias da cantina e fui até a cozinha, parando na porta.
Xxx: Ei mocinha, você não deveria estar na aula?- uma mulher com o corpo volumoso de mais ou menos 60 anos,com cabelos loiros que iam até o final do seu pescoço, destacando seus olhos azuis acizentados se aproximou de mim. Respirei fundo e tentei ser o mais educada possível.
Dakota: moça, sei que provavelmente vai achar que estou mentindo, mas a minha amiga passou muito mal hoje pela manhã, teve vômito e estou cuidando dela no quarto agora. Ela não tem ninguém pra chamar, então será que teria como eu só pegar um chá com bolachas e subir para meu quarto?- digo, tentando olhar no fundo dos olhos daquela senhora para ela perceber que eu não estava mentindo.
Xxx: querida, por acaso sua amiga se chama Emily Fields?
Estralei os olhos e franzi o cenho confusa.
Dakota: sim, mas como a senhora sabe disso?
Xxx: a escola não é tão grande assim, e minha pequena Emy é a única menina aqui nesse colégio de filhinhos de papai que não tem ninguém por ela a muito tempo. Meu turno termina em alguns minutos, eu vou preparar algo bom para levar pra ela no quarto. Me espere lá fora está bem?
Concordei e sai. Queria que Emily visse o quanto ela é amada. Depois de 15 minutos esperando, a senhora voltou com uma pequena bandeja nas mãos, com um prato com uma tampa por cima, provavelmente para não esfriar. Subi com a mulher para o quarto, bati na porta suavemente e entrei com a mulher atrás de mim. Emily estava deitada e assim que viu a mulher, me olhou indignada.
Emily: Dakota você não sabe a confusão que me meteu.
Xxx: Realmente ela não sabe. Emily fields o que tínhamos já conversado a tanto tempo?- a mulher entrou no quarto e colocou a bandeja em cima da cama de Emy. Olhei confusa para as duas.Definitivamente elas já se conheciam.
Emily: Carla por favor. Sabe que não precisa fazer tudo isso por mim.
Carla: não estou fazendo nada demais! Só cuidando da minha pequena. Trouxe uma sopa deliciosa para você! Depois vou buscar um suco  e umas frutinhas. Tenho o resto da tarde de folga então vou poder cuidar muito bem de você!
Emily me olhava com uma careta tão feia que me fez concluir que acertei na mosca.
Carla: e você mocinha de cabelos cor de fogo, vai arrumar essa cara e assim que o sinal tocar para as aulas vespertinas vai correndo para aula. Pegue tudo o que perderam de manhã e o que Emy perderá a tarde. Deus será que vocês adolescentes não fazem nada sem ter uma velinha por perto?
Ri mentalmente. Emily era especial para muita gente e eu tinha certeza que ela iria se recuperar logo. Fiz o que Carla pediu, passei novamente o rímel que tinha saído por causa do choro, peguei minhas coisas e desci para o refeitório na hora do almoço. Teria muitas batalhas para enfrentar a tarde e a primeira se chamava Rafael.
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A imagem do capítulo é a Carla! Espero que gostem dessa senhorinha cheia de vida que será crucial para o tratamento da nossa querida loirinha❤️

Voando Sem AsasOnde histórias criam vida. Descubra agora