Capítulo 28

233 16 4
                                    

Depois da aula de biologia, tivemos duas de matemática. Sério, aquilo foi para levar meu astral lá embaixo. Desde pequena sempre me relacionei melhor com as matérias de humanas, mas mantendo sempre o foco nas artes, principalmente a arte europeia que eu era apaixonada e isso fez com que meu ódio por exatas crescesse junto comigo. Quando o relógio bateu ás 16:00, respirei aliviada e frustrada ao mesmo tempo. Aquele barulho significava que a aula teria acabado, mas que eu teria que ver Tomás e treinar com ele em menos de 30 minutos. Guardei meu material e passei na cantina, fui até o buffet que estava exposto para o café e peguei três pães de queijo e 3 copos de café com leite para a viagem. Coloquei os copos em uma sacola e o lanche na outra, me dirigindo para o meu quarto. Tinha 20 minutos de intervalo, então aproveitei para comer, me trocar e ver minha amiga. Cheguei na porta do nosso quarto, bati e entrei. Emy estava deitada na cama com alguns livros de exercício de álgebra no colo, totalmente concentrada. Carla estava sentada no puff, lendo um livro. As duas me olharam quando entrei. Carla sorriu e Emy fez uma cara de nojo.
Emily: Mais comida? Eu vou explodir!- revirei os olhos e coloquei o lanche em cima da mesinha de estudos, tirei meu casaco e sentei na cadeira em frente a mesa, abrindo as sacolas.
Dakota: trouxe um pão de queijo para cada um e como uma boa amiga sei que você ama café com leite, Carla não sabia se gostava mas trouxe igual.
Carla: amo querida, muito obrigada.
Entreguei os lanches e o café. Emily graças a nossa pequena insistência comeu metade do pão de queijo e tomou todo o café. Conversamos um pouquinho enquanto comíamos. Emily parecia melhor e tinha certeza que com o tratamento ela iria se recuperar rápido. Quando peguei minha leg velha de treino, decidi que iria para o treino diferente hoje. Talvez isso tivesse a ver com a discussão com o Tomás, mas eu não ligava. Eu definitivamente não sabia como me sentia e fiquei brava com ele por me pressionar daquele jeito. Peguei a única roupa de treino que minha mãe tinha me forçado a colocar na mala, a meia calça cor da pele especial para treinos fui para o banheiro e vesti. Me olhei no espelho e eu tinha ficado diferente. Não era mais acostumada com aquilo, mas não me senti feia. Sai do banheiro e a boba da Emy começou a bater palmas.
Emily: Com vocês senhoras e senhores, a definição de gostosa foi atualizada. Arrasou amiga.
Carla concordou, eu apenas dei risada e peguei as polainas, coloquei elas e um tênis para ir até o ginásio.
Carla: querida, coloque um casaco para ir até o ginásio, está muito frio lá fora. - Concordei e peguei meu casaco preto e vesti. Dei um beijo na bochecha de cada uma e prometi a Carla que voltaria antes das 18:00.
Carla: fique o tempo que você precisar querida, eu amo cuidar da minha pequena.
Emily: Eu estou me sentindo uma criança de 5 anos.
Dakota: olha, altura você já tem!- Disse e sai correndo, antes que eu levasse uma mordida de Emy na minha canela.
( foto para ajudar a explicar a roupa de treino da Dakota )

Cheguei pro lado de fora da escola e o frio me abraçou, fazendo todo o meu corpo estremecer

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Cheguei pro lado de fora da escola e o frio me abraçou, fazendo todo o meu corpo estremecer. Ainda era 16:25 da tarde, mas o sol já ameaçava a se esconder. Corri e entrei no ginásio. O treino geral começava às 16:30, então a maioria dos alunos já estavam ali, sentados na primeira fila das arquibancadas, com os patins nos pés e ainda com a proteção na lâmina dos mesmos. Tomás estava ao lado de Patrick rindo e conversando, mas quando me viu seu semblante mudou totalmente. Fui em direção ao vestiário para buscar meus patins, mas um assovio e a fala de Patrick me fez mudar a rota.
Patrick: já peguei seus patins ruiva.
Dakota: obrigada amore.- disse, indo em direção a eles. Tomás me ignorou completamente e aquilo definitivamente mexeu comigo. Peguei a mochila e calcei os patins, permanecendo também com a proteção da lâmina. Patrick e Tomás continuaram conversando, enquanto eu fiquei apenas observando calada a pista. Aquele cenário já tinha sido palco dos meus mais belos sonhos e mais terríveis pesadelos, mas mesmo assim, eu amava o gelo. Amava senti-lo e principalmente deslizar sobre ele, conseguindo sentir cada parte do meu corpo viva quando estava em cima dos patins. Decidi alongar um pouco as pernas, tirando o casaco e colocando ao lado da mochila dos patins que agora estava apenas com os meus tênis. Me virei para colocar as proteções dentro da bolsa, e percebi que os olhares de Patrick e Tomás caíram sobre mim.
Patrick: então quer dizer que a minha amiga tem bunda? Dakota a onde você escondeu ela esse tempo todo?- Meu amigo disse, com um sorriso sarcástico nos lábios. Dei risada e revirei os olhos, mandando dedo do meio pra ele. Olhei para Tomás e encontrei seus olhos em mim, que me fitavam por inteira, mas não disse uma palavra. Entrei na pista e comecei a me alongar, fazendo alguns movimentos leves com os braços e as pernas. Na primeira volta já me esquentei e decidi amarrar o cabelo com o prendedor que eu tinha no pulso. O gelo podia ser frio, mas esquentava meu coração como nada igual.
Tomás-on
Patrick: estou te falando Tomás! O cara vai fazer uma viagem internacional para me ver! Bem no dia das competições na capital! Ele me quer muito não é possível!- Eu e Patrick estávamos conversando fazia uns 10 minutos, e eu não parava de rir. Patrick era uma companhia leve para um dia tão agitado.
Tomás: quanto tempo que vocês conversam pela internet cara? Porra ele deve gostar mesmo de você.
Patrick: é acho que sim. Nos ligamos por FaceTime algumas vezes. Ele é tão lindo Tomás, e tem um sotaque tão fofo.
Tomás: você não vai me contar da onde ele é?
Patrick: tu acredita que nem eu sei! A gente entrou nessa onda de mistérios e segredos, coisa que eu acho super sexy, ai decidimos que só eu ia contar para ele conseguir vir até aqui.  A única coisa que eu sei é que não é nos Estados Unidos.- Escutei o relato do Patrick com atenção e achando tudo aquilo muito engraçado, mas com uma pontinha de inveja no fundo. Sentir alguma coisa daquelas e ser correspondido deve ser tão bom. Esses pensamentos me levaram a Dakota, pensando nela... Ela estava com roupa diferente hoje, como se fosse um collant preto que realçava as suas curvas, mas que eram escondidas por causa do casaco. Não sabia o que dizer para ela depois da discussão de hoje, então preferi a melhor resposta. O silêncio. Ela se sentou com nós por causa dos patins que Patrick tinha pego para ela, mas parecia que Dakota Sing também estava em greve de palavras. Quando ela ficou em pé e tirou o casaco, não consegui tirar os olhos dela. Que Dakota tinha um corpo escultural não era novidade para mim, já que eu estava segurando nele já fazia algumas semanas, mas infelizmente não como eu gostaria.  hoje ela estava diferente. Ela lembrava  um soldado que veste a armadura para ir para a batalha. Nossos olhares se encontraram e eu simplesmente não conseguia tirar os olhos. Patrick falou alguma coisa que eu não escutei, Dakota deu aquele maldito sorriso e foi para a pista. Além de mim, parecia que todos que estavam presentes  olhavam para ela. Infelizmente eles também tinham boca, e entraram em um assunto que definitivamente estava me torturando.
Xxx: meu deus, ela é sensacional. Será que ela fica com meninas?
Patrick: desiste Sasha, aquela ali ama um pirulito.
Sasha: que merda.
Xxx: E ela tem namorado Patrick? Nunca pensei em chegar nela porque achava que ela era toda cheia de frescura, mas agora me deu uma vontade de conhecê-la- Toby disse com uma malícia na voz que fez todos rirem, menos eu.
Patrick: vocês tem que perguntar isso pro Tomás, ele que tá passando mais tempo com ela ultimamente.- Patrick disse e me pela minha infelicidade todos ouviram e dirigiram os olhares para mim, tentei pensar em alguma coisa para responder que não envolvesse eu quebrar os dentes do Toby, mas Amber chegou, fazendo a atenção do grupo de pessoas voltarem a ela. Seus olhos praticamente sangraram inveja quando viu Dakota na pista.
Amber: Essa garota se acha demais,credo!Quase se matou em cima dos patins e ainda quer dizer que tem algum talento.- Toda minha raiva acumulada subiu pelo meu corpo, tentei respirar mais algumas vezes mas não conseguia me acalmar, acho que a voz de Amber que não parou um segundo de falar colaborava na minha irritação.
Tomás: Pela mor de deus cala a boca Amber. Não sei se você percebeu mas nessa turma ninguém te suporta, então por favor faz um favor pro bem da humanidade e fecha essa boca!- Explodi e fitei diretamente seus olhos azuis. Seu semblante mudou completamente, e eu juro que conseguia ver uma nuvem preta se formando ao redor do seu olhar.
Amber: parece que o garoto com o irmão problemático quer dar pitaco. Já aceitou a derrota Tomás e está tentando me diminuir? Pode tentar o quanto quiser, sabemos quem subirá ao pódio nas regionais, quer dizer, se é que vocês chegarão lá.- Amber disse fitando minha alma. Aquela garota parecia saber os segredos mais obscuros de todos. Quando abri a boca para retrucar, Ronnie chegou, fazendo todos ficarem imediatamente de pé.
Ronnie: Pela mor de deus. Vocês são inacreditáveis! O que vocês estão fazendo aí parados? Que inferno eu não faço milagre! Todos para a pista agora!- Tirei minha proteção das lâminas e me encaminhei junto com a turma para a pista. Dakota ainda se alongava, mas quando viu que não estava mais sozinha, deslizou até ficar junto a turma. O Ronnie colocou os patins e em 3 minutos já estava deslizando sob a pista e dando ordens.
Ronnie: Patrick, Alinne, Frank e Jane quarteto, agora. Se estiver razoavelmente bom estão liberados. Não ficarei enrolando muito hoje porque não temos tempo para isso.- Os 4 se posicionaram no meio da quadra, enquanto os outros alunos e eu se encostaram na extremidade. Dakota ficou do outro lado e o tempo todo evitando contato visual comigo. Como iríamos patinar daquele jeito? Ronnie colocou a música e automaticamente os 4 alunos começaram a coreografia. A música era " No more sad Songs", que encaixava completamente com a proposta dada pela coordenação. " trazendo o clássico para o contemporâneo." Eles estavam muito bons, bem sincronizados e faziam os passos com perfeição e confiança. No meio da dança, os dois casais se separaram e cada dupla fez um levantamento. Com as meninas lá em cima, Patrick e Frank se encontraram no meio da pista e no ápice da música, desceram as duas rapidamente e como se fosse mágica, no chão, trocando as parceiras. Todos aplaudiram, menos o treinador, óbvio. Nada nunca estaria bom para ele. A música terminou e os 4 finalizaram com 4 giros completamente sincronizados.
Ronnie: finalmente uma surpresa boa com essa equipe. Treinem um pouco amanhã os gestos, senti que nisso a coreografia ficou um pouco vazia, mas no geral, está bom. Na minha mesa tem uma lista com o nome de vocês, ao lado coloquem o tamanho de calça e blusa de vocês garotos, e do collant de vocês meninas. Depois disso estão  liberados.- Aquilo era o máximo de elogio que eu já tinha ouvido de Ronnie. Os 4 comemoraram e exaustos, deixaram a pista.
Ronnie: Agora os 13 alunos.
Os alunos se posicionaram no meio da pista em forma de círculo, e antes do treinador colocar a música, todos se abaixaram. A música after the Afterparty saiu pelas caixas de som, e os alunos começaram a coreografia. Como tinham 13 alunos se apresentando, era difícil prestar atenção em cada um e por isso, agradeci mentalmente por não ter ficado nessa coreografia. Não tem como se destacar completamente. Era uma coreografia divertida, que com toda certeza faria a plateia dançar e bater palmas junto com a música. Eles finalizaram e se posicionaram na frente de Ronnie, esperançosos.
Ronnie: Foi razoável. Coloquei vocês nessa coreografia porque não estava vendo comprometimento com a equipe, e vocês tem duas opções: desistir agora e nunca mais pisar nessa pista, ou se dedicarem e mostrarem que conseguem se destacar em uma apresentação coletiva. Mandarei por e-mail o que cada um tem a melhorar, liberados.
Todos os alunos concordaram com a cabeça e saíram do gelo. Deixando apenas eu, Dakota, Amber e Ronnie na pista.
Ronnie: agora você Amber. Solo.
Amber: prefiro ir depois dos dois ali.
Ronnie: que bom que ninguém te perguntou. Agora Amber.- Seus olhos vazaram ódio. A menina deslizou para o meio da pista e esperou o treinador colocar música. 7 rings invadiu as caixas de som, e a morena começou a sua apresentação. Amber poderia ter todos os defeitos possíveis, mas ela era uma garota muito bonita. Suas curvas mexiam ao tempo da música porque aquela era uma coreografia que requeria mais dança do que técnica de patinação. Seus passos estavam impecáveis e seu olhar fixo nas arquibancadas. Terminando a coreografia, ela fez um salto duplo e caiu como se fosse uma pena no chão. Ela fez uma reverência e saiu do meio da pista, vindo na nossa direção.
Ronnie: impressionante Amber. Continue assim. Coloque seu número de collant na palhinha e pode ir descansar. Será um número impressionante garota.-  Amber olhou satisfeita para o treinador, e óbvio que antes de ir piscou para mim e Dakota, que estava ao meu lado oposto. Se continuássemos daquele jeito, Amber teria razão. Nunca chegaríamos nas regionais.
Ronnie: agora vocês dois. Confesso que estou ansioso em ver essa dupla, talvez se estiver bom podemos investir mais na carreira de dupla de vocês.- Ronnie diz, se direcionando para mim e Dakota, que está completamente distante. Espero ela para que entremos juntos até o meio, mas ela vai sozinha. Nossa música, thinking out Loud, começa a tocar, e começamos a coreografia. Eu não precisava ver de fora para concluir que aquilo parecia dois robôs dançado. Não estávamos conectados, e Dak nem sequer me olhava. A música parou abruptamente e nos separamos.
Ronnie: È ESSA MERDA QUE VOCÊS QUEREM APRESENTAR?
Dakota: Treinador...
Ronnie: Nem começa Dakota! Vocês dois parecem duas marionetes que estão sendo controlados pela música e não pelos patins! A porra da música que eu escolhi fala sobre amor, paixão, e vocês nem se olham direito! Se for pra apresentarem assim nem apresentem!- Dito isso, o grisalho saiu do gelo, tirou seus pais, pegou suas coisas e saiu batendo a porta do ginásio. Olhei para Dakota, que estava sentada no gelo, com a cabeça entre os os joelhos.
Tomás: o que vamos fazer?- Pergunto, ainda parado no mesmo lugar. Quando Dak levantou a cabeça, percebi que estava com os olhos vermelhos, segurando as lágrimas no canto dos olhos para não caírem.
Dakota: isso foi culpa sua! Se você não tivesse falado tudo aquilo hoje de manhã, estaríamos bem e nada disso estaria acontecendo!- Diz ela, se levantando e vindo até mim. Eu não acredito que ela falou aquilo. Passo as mãos nos cabelos
Para tentar me acalmar mas não funciona.
Tomás: Como é que é? Eu sou sincero sobre a porra dos meus sentimentos com você e estou errado? Eu não sou um poço de frieza que nem você Dakota. Eu tenho a merda de um coração e uma família problemática pra caralho, não preciso de mais um problema na minha vida!- Eu tinha explodindo. Não sabia o que fazer, então apenas peguei minhas coisas, e de patins mesmo, sai do ginásio. Talvez tenha escutado Dakota falar algo, mas eu não lembrava. Só queria sair daquele lugar o mais rápido possível.

Voando Sem AsasOnde histórias criam vida. Descubra agora