Ao desembarcar da cápsula de teletransporte já dentro dos hangares, Eleanor sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha. Em todos os anos em que serviu na esquadra jamais havia tomado uma atitude assim. Era insubordinação. E sabia bem o que poderia lhe acontecer. Mas decidida, seguiu até os guardas que vigiavam a entrada da Humaitá IV, portando no peito, altiva, a condecoração. Ao vê-la, os soldados prestaram continência e se afastaram para que pudesse passar. Certamente já tinham ordens de deixa-la entrar na nave.
Eleanor se dirigiu direto à sala de comando. Normalmente, aquele local contava com toda uma equipe para controlar o enorme cruzador. Mas para situações de emergência o console em frente à cadeira do capitão permitia que, com o auxílio do servo-computador, apenas uma pessoa controlasse aquele colosso. Sem perder tempo Eleanor sentou na poltrona, pressionou a mão sobre o identificador e recebeu os cumprimentos do servo-computador. Em seguida, digitou os códigos necessários e pediu à torre permissão para a decolagem, informando o plano de vôo: oficialmente, pretendia apenas contornar a lua, se aproximar de marte e retornar. Teria cerca de duas horas antes que notassem que ela não cumpriu o plano.
Decolagem tranquila, pelos grandes monitores ela observava tudo se afastando, lhe dando uma magnífica vista panorâmica do complexo Terra II, pouco depois via também as ruínas de Terra I, a grande cratera Tycho, seus raios e por fim toda a Lua. Ao contornar o polo sul, direcionou a nave para Marte, no qual nunca viveu, mas de onde vieram seus pais, habitantes de uma colônia estabelecida lá. Não demorou tanto tempo para que pudesse divisar Marte claramente nos monitores e então, ordenou ao servo-computador para acionar o sistema de dobra espacial, dando-lhe as coordenadas de Anthor. Em minutos o sistema estava pronto e Eleanor ouviu o zumbido característico dos fóton-propulsores se tornar gradativamente um rugido. Tudo escureceu e silenciou, para em segundos voltar ao normal, ou quase isso: Agora nos monitores um gigantesco planeta de cor rubra dominava toda a parte inferior da imagem e, na órbita de Anthor, via-se a estrutura semidestruída do Humaitá II... Instantes antes em Terra II o sinal da Humaitá IV desaparecera das telas da Torre, mas ninguém se preocupou, pois isso era comum nas proximidades de Marte. Só perceberiam algum problema quando o sinal devesse ser restabelecido, o que obviamente não ia acontecer tão rápido.
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Retorno a Anthor
Science FictionAos 45 anos, a capitã do velho couraçado espacial Humaitá IV, último de sua série e sobrevivente da histórica batalha de Anthor, está prestes a se aposentar... Mas um estranho chamado vindo dos confins do espaço a obrigará a tomar uma decisão que po...