Buscando Milton

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Ao ver a marcante silhueta negra na tela o coração de Eleanor saltou no peito. Milton estaria lá, naqueles destroços? Como poderia estar vivo? Rapidamente, digitou os comandos para que o servo-computador enviasse um sinal para o Humaitá II e aguardou a resposta. Silêncio total. Tentou novamente e nada... Eleanor olhava ansiosa a tela e o que via era como se um cadáver negro gigante flutuasse num enorme lago de sangue brilhante. De repente, os autofalantes da nave explodiram em estática:

– s-shhh tshhh... trec-shhh – Câmbio... - shhh – Humaitá II... shhh-trec-trec... S.O.S. – shhh – Anthor. shhh-trec ...

- Milton, é você!? – gritou Eleanor, sem se dar conta do desespero em sua voz.

- Sim... – shhh-trec... – Venha ao acesshhhhss –norte... shhh-trec.

Eleanor não esperou mais nada. Desafivelou o cinto e solicitou ao servo-computador a abordagem da nave destroçada pelo acesso norte. Se Milton estava lá, precisava trazê-lo a bordo imediatamente. Correu pelos corredores vazios do cruzador como uma adolescente que ia ao encontro do namorado, estacando em frente à porta do setor de descompressão. Na parede externa podia ver as imagens externas. O servo-computador atracou uma ponte de acesso com maestria, embora a outra nave estivesse sem funcionamento. Pode divisar que uma pequena parte da proa tinha iluminação, embora fraca.

- Atracagem finalizada, senhora. – avisou a voz metálica do servo-computador. – iniciando sondagem atmosférica. – pela tela, uma impaciente Eleanor observou um drone seguir pela ponte de acesso até desaparecer na escuridão da outra ponta. Em segundos retornou com o veredicto da sonda. – Atmosfera respirável, porém com baixo teor de oxigênio. Recomendado o uso de tanques reserva, caso deseje uma exploração prolongada do local.

Eleanor não pretendia permanecer lá por muito tempo, apenas o suficiente para resgatar Milton. Mas não podia ser mais inconsequente do que já havia sido ao ir até Anthor quebrando todos os protocolos militares... Decidiu se acalmar e ordenou uma busca com a sonda. Em instantes o drone retornou para a nave destruída com os sensores calibrados para localização de qualquer forma de vida. A sonda transmitia imagens escuras, pois as luzes do pequeno drone não eram potentes, mas Eleanor viu que o interior da nave estava gravemente avariado. Ao dobrar um corredor largo, o drone alcançou os habitáculos de suporte à vida e o que transmitiu deixou Eleanor estarrecida. A sala dos habitáculos estava, ao contrário do resto da nave, fracamente iluminada. As câmaras estavam abertas, revelando em seu interior corpos ressequidos, mumificados pelos anos de exposição ao ar rarefeito. Um fio de esperança surgiu quando o drone mostrou a câmara C-104H. Também estava aberta, mas vazia! Sob o comando de Eleanor, o drone girou pela sala em busca de alguém vivo, sem sucesso. Milton não estava ali.

Ao retornar ao corredor principal, os sensores de movimento do drone acusaram algo. Na extremidade oposta estava uma silhueta humana, de pé. Embora a escuridão do local não permitisse distinguir seu rosto, a forma como levantou a mão e acenou para o drone deram a Eleanor a certeza que buscava. Milton voltou, vivo, do inimaginável!

Retorno a AnthorOnde histórias criam vida. Descubra agora