Retorno a Anthor

Encontro com o passado

O tempo corria célere. Certamente o comando em Terra II já estaria ciente do desaparecimento do Humaitá IV. Não tardaria para que o Alm. Antunes recebesse a mensagem através de Arquimedes e mandasse uma equipe para Anthor em busca da nave e de Eleanor.

Ordenou que o drone retornasse imediatamente. Mas o que viu quando o homem que seguia atrás do dispositivo surgiu na área iluminada da ponte de abordagem foi inesperado. Sim, era Milton quem voltava, mas... Ele não envelhecera um só dia desde que desapareceu!!!

O jovem oficial de barba negra e cerrada, sorriso franco e porte atlético, por quem Eleanor se apaixonara aos 25 anos de idade, estava ali quase ao alcance de suas mãos. Quando a porta da sala de descompressão se abriu, uma Eleanor de braços e queixo caídos olhava para o homem que, usando um antigo uniforme da esquadra da Terra, lhe sorriu e perguntou sedutor:

- Não me convida para entrar, Lê?

Ouvir o apelido carinhoso com que Milton lhe chamava fez as lágrimas brotarem nos olhos de Eleanor, correndo em uma face sulcada por rugas sutis da meia-idade. Ela se atirou em seus braços soluçando, numa inversão de papéis: parecia que ele é quem vinha salvá-la e não o contrário...

- C-claro que sim!!! – respondeu a capitã, envolvida nos braços fortes do jovem.- Vim aqui para isso, meu amor! Só vim para isso!... - Eleanor puxou Milton fazendo-o atravessar o pórtico metálico e, olhando fixamente para ele, enxugou as lágrimas. Embora chocada com aquele reaparecimento fantástico de Milton, tinha muitas perguntas a fazer.

- Como isso pode acontecer, Milton?

- Já esperava de você essa pergunta antes de mais nada, querida... – a tranquilidade dele a espantava, mas ela não quis demonstrar isso. – Quando percebi que o colapso da nave era inevitável, corri para a sala de sobrevivência e me alojei na cápsula. Ao acordar, não tinha ideia de quanto tempo havia se passado, a maior parte da nave estava destruída e não era possível determinar as coordenadas.

- Vocês desapareceram no Triângulo de Sírius...

- Sei disso. Quando consegui consertar parte do servo-computador pude ter acesso aos registros da sala de comando. Mas as datas não batiam, era estranho... Para mim, pareciam ter passado poucas horas, mas o estado da nave indicava muito tempo... anos. Deduzi que a cápsula de sobrevivência me manteve vivo e jovem por todo esse tempo. Há poucos dias consegui mandar uma mensagem para você, mapeando os códigos de comunicação da nave.

- Mas... E o resto da tripulação? Porque estão mortos?

- Eleanor, teremos muito tempo para conversar quando voltarmos à Terra II... Lá poderei te explicar tudo o que aconteceu aqui. Só posso te adiantar por ora que os Undorianos foram os responsáveis por tudo. Mas gostaria de voltar agora para Terra II. – o final da frase denunciou um pouco de impaciência no antes tranquilo Milton, mas Eleanor pareceu não notar. Apesar da inquietude, decidiu acatar o pedido dele. O servo-computador já recolhera a ponte de abordagem e podiam partir imediatamente, antes que chegasse uma esquadra de Terra II para prendê-la pelo sequestro da Humaitá IV e por insubordinação.