Mensagem do Passado

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Ano 2516 – 10º ano de paz do complexo espacial Terra II, a enorme estação espacial que ocupa quase metade da cratera Tycho, na Lua. Eleanor, em seu apartamento particular no andar 230 da torre Amazonas, observa pela vidraça blindada os lasers coloridos da comemoração no Victory Hall, que ficam ainda mais belos com a silenciosa silhueta da Terra ao fundo. Embora admirada e respeitada em toda a esquadra, Eleanor também é conhecida por todos por sua reserva. Sabem que ela prefere se isolar da festa em seu confortável esconderijo na companhia do seu fiel androide servidor Arquimedes. O que poucos sabem é que ele foi presente do único homem que Eleanor amou: Milton.

Ela olha o mostrador em seu pulso e sabe que deverá se apresentar no palco do evento em poucos minutos. Aos 45 anos, a capitã do velho couraçado espacial Humaitá IV, último de sua série e sobrevivente da histórica batalha de Anthor, está prestes a se aposentar e será condecorada com a ordem Via Láctea. Junto à condecoração, vem também o comunicado oficial de sua aposentadoria. Eleanor foi promovida a capitã logo após retornar da guerra, devido ao destaque que teve em combate. Isso tudo ocorreu a vinte anos atrás; mas era vívido em sua mente como se tivesse acontecido ontem...

O Humaitá IV já fora recolhido aos hangares lunares sem que ela pudesse se despedir da nave, o que lamentava. Como era costume, quem recebia a condecoração Via Láctea tinha direito a um pedido especial, e ela pretendia solicitar apenas isso: uma última visita à sala de comando do couraçado que capitaneou por vinte anos.

Eleanor digitou o código de segurança no painel da cápsula de teletransporte e entrou. Menos de um minuto depois ela desembarcava da cápsula atrás das coxias do palco do Victory Hall. Ao ser chamada, entrou altiva e prestou continência ao Almirante Antunes, que lhe sorriu discretamente, dispensou as formalidades e lhe abraçou com o carinho de um pai. Enquanto a plateia batia palmas, ele colocou em seu peito a medalha cobiçada por toda a esquadra.

Eleanor estranhou o led piscando em seu comunicador de pulso bem naquele momento. Quem teria a audácia de interromper aquela solenidade para falar com ela justo agora? Arquimedes com certeza não... Ignorou o sinal e, quando olhou novamente, ele havia apagado.

Um breve e discreto discurso de agradecimento foi suficiente para a capitã cumprir o rito e poder voltar ao seu isolamento. Seu pedido foi aceito imediatamente e ela recebeu a credencial especial que lhe permitiria visitar uma última vez o encouraçado que foi por tanto tempo o seu lar. Enquanto se encaminhava novamente para a cápsula de teletransporte, o comunicador voltou a piscar. Quem seria? "Melhor atender em casa." – ela pensou.

Assim que chegou, Arquimedes avisou que havia uma mensagem. Eleanor acionou a interface do comunicador com o sistema do apartamento e empalideceu ao ouvir a tal mensagem:

-Eleanor, aqui - shhh - Milton, câmbio... shhh-trec-trec... quadrante equatorial – shhh – Anthor. shhh-trec – emergência... Venha... shhh-trec-shhh...

Retorno a AnthorOnde histórias criam vida. Descubra agora