Capítulo 35-Junior-A vida é feita de atitudes nem sempre decentes.

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» JUNIOR «

Suor está escorrendo de mim quando me inclino sobre ela. Por um momento, acho que ela adormeceu, mas mesmo seus olhos estando fechados, os lábios cor de rosa curvam-se em um sorriso.

— Minhas pernas. Isso foi...— Ela finalmente volta de onde quer que tenha ido, piscando grandes olhos azuis para mim.
— Perfeito. Incrível. Surpreendente. Eu deveria pegar um troféu.

Isso a fez rir com tanta vontade que me leva junto, a felicidade que não tinha sentido em quase uma década me fazendo sentir como um idiota.

Como é possível que esta pequena e
atrevida mulher possa me deixar sentindo nas alturas?

Me fazendo sentir humano?

Porra, apenas o fato de que ela me faz sentir alguma coisa é um maldito milagre.

— Você deveria sorrir mais vezes. Seu sorriso é lindo.— Ela toca um lado do meu rosto. — Porque você nunca sorri?

A pergunta me pega desprevenido, e não consigo encontrar uma resposta satisfatória.

— Eu acabei de sorri.

Os olhos dela se fecham e seu nariz atrevido enruga-se.

— Sim, eu vejo você sorrindo e rindo com frequência quando estamos juntos, mas em outros lugares, com outras pessoas, você sempre parece meio...frio e infeliz.
— Porque algumas pessoas são entediantes— Tento manter o tom leve, mas a verdade é que esta linha de conversa está começando a ficar desconfortável.
— Apenas por isso?

Emilly abre os olhos e nenhum de nós pode olhar para longe, safira contra esmeralda, preso em um impasse de um silêncio bizarro.

— E por qual outro motivo seria?

Ela estava olhando para mim seriamente com as sobrancelhas juntas, procurando por uma resposta.
Torcendo o lábio com tanta força que eu juro que ela vai machucá-lo. Quando finalmente respira fundo, sei que encontrou as palavras que procurava.

— Quem partiu seu coração, Júnior?

A pergunta me deixa frio, os olhos azuis de Emilly parecem entortar em mim. Minhas costelas apertam com o seu olhar suplicante. Eu poderia dizer a ela, poderia contar sobre minha infância, sobre o suicídio de minha mãe, sobre Elisa e todo estrago que causou. Sobre como eu estou permanentemente quebrado por dentro agora. Mas então eu imagino o jeito lamentável que ela olharia para mim. E eu não posso e nem quero ter a pena de Emilly. Então, em vez disso, eu a encaro com um olhar congelado.

— Ninguém quebra o que não existe— Eu digo com um meio sorriso meio desdém— Eu faço o coração partido por aqui. Você deveria saber disso e começar a cuidar do seu.

A risada dela é curta e amarga.

— Sua capacidade de mentir para si mesmo é notável, baby.
— O que está querendo dizer? —Não posso parar o desprezo que se espalha pelo meu rosto.
— Que sei que você esconde alguns esqueletos. Você disse um nome uma vez enquanto dormia. Elisa eu acho.—Sua bela boca está puxada em uma careta.— Também chamou por sua mãe.

Como o toque de um botão, essas palavras saindo de seus lábios transforma o pouco do meu bom humor em algo escuro, e envia um bombeamento de sangue frio ao meu murcho coração preto.

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