Capítulo 53-Junior-Tudo o que começa com raiva, acaba em vergonha.

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Quando coloquei o carro em movimento, minha mente e meus sentidos propagaram sem controle. Passei minha vida tendo rompantes de raiva. Conhecia muito bem o meu gênio, e aceitei lutar para entornar, liberar ali o que eu não podia controlar. Mas nuca tinha sentido uma fúria sanguinária como aquela.
Não era quente e desenfreada como das outras vezes. Era gelada, torturante, silenciosa. Parecia me roer por dentro como uma coisa viva. Eu chorava sem lágrimas, sentado no banco daquele carro que rompia a estrada como um foguete. Meus olhos estavam secos, mas o resto de mim não.

Após perder um longo tempo rodando por algumas ruas, finalmente estacionei o carro na calçada em frente ao primeiro bar aberto. Saí do carro muito estressado, dominado pela raiva e parei olhando para os rapazes montados nas motos estacionadas, como se a culpa de tudo fosse deles. Ficaram um pouco sem entender, se entreolharam, mas então respirei fundo e entrei no bar com fachada feia. Fui direto a uma mesa, olhando em volta. Estava bem cheio, principalmente de homens, falando alto, enchendo a cara e jogando sinuca. O chão possuía um piso desgastado, as mesas de plástico tinham toalhas que, a exemplo do toldo, não eram mais branca e sim amareladas. As cadeiras de plástico eram velhas e algumas delas estavam quebradas. As paredes era pintadas em um indefinido tom de cinza. Uma música alta em um rádio tocava um estilo de música desconhecido por mim e o ambiente era meio escuro e esfumaçado por causa dos cigarros.

Eu estava totalmente fora de contexto ali.

Pedi uma cerveja a uma garçonete e fiquei lá no canto, quieto, minha mente revirando, exigindo uma realidade que se faria presente. Eu era um furacão de emoções distorcidas. Raiva. Ódio. Medo. Culpa. Tudo se debatia em minha mente mais e mais célere até que eu pensei que não fosse suportar. Passei os dedos entre os cabelos, fechei os olhos e tentei concentrar minha respiração

Desde quando estavam juntos?

Será que ela tinha intenções de continuar com ele depois do casamento?

Não. Era um acordo. Eu sabia disso. Ela sabia também. Sabia dos termos.
Talvez ela tivesse a intenção de ficar com ele quando o acordo acabasse.

Porque, então, isso me incomodava tanto?

Soltei o ar de uma vez e engoli o conteúdo do copo, sentindo o líquido arrefecer minha garganta. Não importavam quais eram os termos ou as condições, as coisas estavam diferentes entre nós, e mesmo assim ela me traiu.

E isso era algo que eu não podia apagar.

Consumido em raiva, eu bebi, busquei saídas. E a mais certa seria realmente esquecer Emilly. Eu lutaria para esquecê-la, para não desejá-la, para não querer. Bebi mais, até acabar com a garrafa de cerveja e pedir outra, perturbado, com Emilly na mente, com seu olhar desesperado marcado em mim. Era uma dor sem fim. A música que tocava penetrou minha mente e eu apenas deixei, tão emocionado como nunca pensei que um dia ficaria. Ali eu soube que não havia mas dúvida alguma. De olhos fechados e respiração represada, eu apertei a garrafa em minha mão e dei conta de algo que nunca me julguei capaz, do qual eu odiava ter que admitir.

Eu amava Emilly. Estava completamente apaixonado e envolvido.

Fiquei assustado. Eu, um homem louco por controle, acostumado com as mulheres mais lindas e submissas do mundo, completamente de quatro por Emilly, aquela atrevida que de repente virou minha vida pelo avesso.

E agora, o que eu faria com aquele sentimento tão novo e latejante dentro de mim?

Nervoso, chamei a garçonete e pedi uma dose de uísque. Tomei de uma vez. Pedi outra. E outra. Na quarta, tudo rodava na minha frente. Mas não iria parar. Pedi mais uma e a garçonete me olhou na dúvida.

— Algum problema, companheiro?—Um homem se aproximou da minha mesa.
— Cadê minha bebida?
— Não acha que já bebeu demais?
— Sou adulto. —Minha voz saiu com dificuldade— Bebo quanto quiser.
— E depois ainda vai dirigir?—Ele me olhava com pena — Está querendo se matar?
— Quero minha bebida.— Digo irritado.
— Não, meu amigo. Chega por hoje.
— Eu estou pagando porra!

Levantei abruptamente. Tudo rodou vertiginosamente e quase caí, tive que apoiar as duas mãos na mesa e sacudir a cabeça em busca de estabilidade.

— Olhe seu estado! Sente-se. Vamos conversar.— Ele segurou meu braço.— Me diga, tem alguém para que possamos ligar para que venha buscá-lo?

Meu olhos demoraram a focar em algo, mas quando o fez se fixaram na porta e eu o vi assim que entrou. A foto veio à minha mente e junto a ela veio a fúria. Senti como se uma cortina vermelha descesse sobre meus olhos, e andei decidido até ele, sangue latejando em minhas têmporas, o ciúme me consumindo, possesso, sufocado de tanta raiva. Ele não esperava. Ninguém esperava. Nem eu pensei que meu ódio fosse tão incontrolável. Ali, deixei de pensar. E assim que cheguei perto, eu pulei em cima dele, derrubando no chão e acertando um soco em sua boca.

As pessoas começaram a gritar, todo mundo de pé, assovios ecoando no local. Soquei sua boca novamente e mais sangue espirrou. Ele parecia aéreo, parecia não ter se dado conta do que acontecia, mas de repente atacou e moeu meu maxilar em um soco certeiro, que me deixou tonto e me fez rolar para o lado. Só vi aquela massa vir com tudo pra cima de mim e rolei para o lado novamente, ouvindo a gritaria. Sacudi a cabeça, movendo o maxilar até comprovar que não tinha deslocado, mas já inchava, doendo pra cacete. Não sei como consegui ficar de joelhos e me agarrar na cadeira, erguendo-me meio trôpego, virando-me para esperar o ataque que vinha e ao menos tentar me defender.

O murro veio e não teve jeito, foi fatal. Acertou meu supercílio esquerdo e o abriu na hora, espirrando sangue, fazendo tudo girar vertiginosamente. Ainda tentei impedir a queda, me equilibrar de algum jeito, mas o corpo não era mais meu. Ele caía como se deslizasse em um poço profundo. Pisquei e quando abri os olhos, sentia o baque da minha cabeça no chão e apagava em meio à escuridão.









Então, já tivemos o primeiro encontro de nossos meninos, o que acharam? Tudo bem que não foi um bom começo mas pelo pelo menos ele se encontram né naum? 😃

Eu sei que vocês querem o outro encontro, mas não posso garantir que vou postar mais hoje porque eu não terminei o capítulo, então tenham só um pouco mais de paciência e guardem a ansiedade em uma caixinha, prometo dar o meu melhor. ☺😥😉😙

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