Capítulo 56-Emilly-A vida é uma caixinha de surpresas.

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O dia clareou sem que eu conseguisse pregar os olhos por mais que alguns minutos. As horas passaram lentamente enquanto eu estava a deriva, um nevoeiro de todas as
emoções tensas. Cada pedaço do meu corpo doía, eu estava cansada e assustada demais. Os pesadelos que haviam povoado minha mente durante os cochilos esporádicos que tive fizeram com que meu medo atingisse picos e picos de horror.

― Vejo que já acordou ― O homem moreno de olhos claros disse quando entrou no quarto.

Sentei-me na cama meio desajeitada, e a dor na cabeça veio quase como uma pancada.

― Espero que tenha conseguido descansar.

Permaneci em silêncio.

― Tudo bem ― Ele continuou colocando uma bandeja arrumada para o café da manhã a minha frente. ― Não precisa falar comigo. Quanto menos eu souber menos culpado vou me sentir. Mas espero que coma algo. ― Disse afastando-se e levando o prato de risoto.

A porta se fechou e eu encarei a bandeja de comida sentindo meu estômago protestar. Permaneci alguns minutos ali até que a fome ganhou e eu me aproximei. Dei um gole no suco de laranja e comi um dos biscoitos, e logo comi outro e outro. Eu estava faminta. Quando me senti satisfeita, voltei para a cama e esperei que mais horas passassem. Não me lembro de
quantas foram porque não tinha vontade de contar. Quando a porta se abriu novamente, perto do que eu imaginava ser a hora do almoço, um homem entrou, dessa vez o que havia me agredido. Ele amarrou uma venda sobre meus olhos, deixando tudo escuro para mim exceto na minha cabeça, onde pensamentos diversos dançavam dentro dela em um turbilhão de ideias embaralhadas. Fui guiada pelo que eu imaginava ser um corredor, até que estava sentada em uma cadeira com as mãos amarradas para trás com cordas apertadas. Havia vozes vindas de todos os lados e eu sentia minha boca amarga. Tentei dizer alguma coisa, mas percebi que talvez o mais sensato fosse me manter em silêncio, afinal eu mal sabia o que estava se sucedendo.

— Essa é a égua dócil?

Senti uma mão alisar o meu cabelo e alguém colar os lábios em meu ouvido.

— Você é obediente querida?

Grunhi, me afastando do toque pegajoso e uma mão fechou na minha nuca com força, fazendo-me me contorcer.

— Não seja malcriada agora, criança.

A mão em meu pescoço deslizou para cima e segurou em meu cabelo, puxando minha cabeça para trás.

— Crianças más acabam por levar castigos.

Me remexi freneticamente, tentando livrar meus pulsos da corda que os prendiam, mas não consegui ir muito longe, sendo impedida pela mão masculina que estava em meu cabelo e o puxava com força.

—  Você tem cabelos muito bonitos.

Ouvi uma risada sórdica.

—  Vamos ver como você fica sem eles.
— Não— Eu grito, medo, pânico, agarrando em volta do meu pescoço— Por favor...
— Eu sou bom com tesoura
Você vai ver.

Ouço o barulho das lâminas afiadas e os calafrios de medo correm desenfreados, picando as minhas veias. Estou gritando, implorando, e a próxima coisa que eu sinto é as mexas de meus cabelos caindo contra meu ombro. Tudo é um borrão caótico. O homem que corta meus cabelos está rindo enquanto eu suplico para ele parar. O terror no meu corpo está tornando difícil respirar através dos meus gritos de socorro. Eu não sei quanto tempo se passou até que finalmente ele se afasta de mim, eu só sentia meu coração doer.

Destinos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora