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Baltimore

11:53

Harry

Aurora não apareceu na faculdade, o que me preocupa um pouco, talvez tenha ficado brava comigo por conta do banho de mar ontem a noite, mas não acho provável.

Espero o sinal bater e ao ouvi-lo saio da sala indo em direção ao meu carro

Entro em minha Range Rover ,coloco a chave na ignição mas não a ligo, espero, abro o porta luvas e coloco minha mão lá dentro, procurando o pequeno saquinho do pó da alegria.

Passo minha mão ali repetidas vezes mas não o encontro e o desespero toma conta de mim. Droga. Usei o resto ontem a noite depois de deixar Aurora em casa, devia ter procurado mais, devia ter ido atrás de mais, burro.
Em uma tentativa de ignorar minha "fome", ligo o carro, tiro-o do estacionamento e vou para o asfalto, está chovendo, como sempre. Na beira da estrada se encontram algumas pequenas quantidades de neve e folhas mortas, nada sobrevive aqui.

Aperto as mãos no volante enquanto me desespero pela falta de cocaína, nunca cometi esse erro, nunca fiquei sem.

O movimento e o barulho da rodovia me deixam atordoado. Minha visão fica turva e sou obrigado a encostar o carro, saio e o frio faz contato com a minha pele pelo fato de estar sem casaco. O vento é fraco, mas gelado e me fazia arrepiar. Droga, eu preciso de mais.

Cubro meu rosto com as mãos e respiro repetidamente na tentativa de fazer aquilo passar, minha cabeça parece chacoalhar, meus olhos doem, eu estou tão tonto.

Após 2 minutos ali, parado, esperando aquilo passar, finalmente aconteceu,  meus pés começaram a responder meus comandos, meus sentidos voltaram ao normal, meu celular toca revelando o nome de Aurora.

-Oi raio de sol, tá tudo bem com você? Por que não foi pra aula?- Tropeço nas palavras tentando me controlar.

-Harry...Eu...eu não to me sentindo bem, você pode vir pra cá?-  Sua voz está rouca.

-Claro, eu já chego ai.

Corro para o carro, ligo o mesmo e dirijo a toda velocidade mesmo com a visão ainda turva.
Ela não está bem...o que será que aconteceu?

O pai voltou?

Virose?

Câncer?

Caralho, eu sou muito negativo.
Chego ao apartamento e corro até a entrada, subo até o terceiro andar, bato na porta, mas ela não atende. Entro logo de uma vez.

Aurora está no quarto, com 3 cobertores  cobrindo seu corpo mais o aquecedor ligado no máximo. Tá muito quente aqui dentro.

-O que houve? Você...o que você tem?- Pergunto meio desesperado.

-Eu não sei, eu estou com muito frio e dores no corpo. – ela diz tremendo e com voz rouca.

- Por Deus Aurora! Você tá queimando em febre, precisa tomar alguma coisa - digo após colocar a mão em sua testa -Onde ficam seus remédios?

-No balcão da cozinha, na porta ao lado das gavetas – fala com dificuldade

Ela aponta para o caminho até la. Uma pasta rosa se encontrava dentro do balcão, abro a pasta e reviro ali em busca de algo para a dor e febre, mas tudo o que eu vejo são antidepressivos e remédios para dormir.

Decido não perguntar nada, não discutir ou puxar assunto sobre aquilo. No momento certo, quando ela estiver pronta eu sei que dirá.

-Você não tem nada pra febre aqui, vou até a farmácia, volto logo - aviso a ela.

Dou um beijo em sua testa e ela apenas assente.

Desço as escadas e vou para o carro. Enquanto coloco a chave na ignição meu celular vibra em meu bolso e o nome Megan aparece na tela.

- O que você quer Megan? – falo já irritado.

- Ainda vamos sair amanhã, né? Tenho umas coisas bem interessantes pra te mostrar.

-Não Megan, não vamos sair amanhã e eu não ligo pra o que que sejam essas coisas. Aurora está doente e preciso cuidar dela, agora para de me ligar- digo e desligo.

A insistência dela me dá nojo.

Eu confesso, a chamei pra sair mas, eu não quero nada com ela, é só uma foda, nada mais.

-Você precisa tomar esses aqui- digo para Aurora apontando os remédios que ela tem obrigação de tomar.

-Obrigada...- ela me diz com sua voz rouca.

- Aurora... eu...Eu te fiz ficar doente, tenho que me redimir.

-Não foi culpa sua.

-Foi, foi sim, eu te levei pra água gelada, estava frio e já era meio tarde, a culpa foi minha.- digo

-Eu vou ficar bem. Obrigada por comprar os remédios. Não precisa ficar aqui, pode ir embora se quiser. – os efeitos do remédio já estão fazendo efeito e ela está sonolenta.

-De jeito nenhum, eu sou o culpado de você estar assim, eu vou cuidar de você.

Nem consegui terminar a frase e Aurora já tinha caído no sono. Fui para a sala tentar assistir um filme na falha tentativa de tirar a preocupação com ela na minha cabeça. Era obvio que ela ficaria doente, eu sou um idiota.
Meus pensamentos são interrompidos quando ouço tosses vindas do quarto de Aurora e corro para o quarto. Ela já tinha voltado a dormir. Não consigo deixá-la sozinha. Não conseguiria dormir na sala pensando em como ela estaria, então peguei a coberta e deitei-me ao seu lado. Aurora dormia serenamente com as bochechas vermelhas por causa da febre recente. Passei minutos, talvez horas observando-a dormir, até cair no meu próprio sono com o corpo tremendo e a cabeça doendo por falta do que preciso.

* *

Estamos dirigindo pela cidade, ouvindo musica e conversando. Aurora está tão sorridente, eu poderia passar horas olhando pra ela. Ela é maravilhosa. Sua mão encosta em meu rosto e ela se inclina pra me beijar mas antes que seus lábios toquem os meus, seu rosto transforma-se de sorridente para aterrorizado. Uma pancada forte atinge o carro e fecho os olhos tentando escapar desse pesadelo mas quando os abro estou fora do carro, no chão, com sangue em toda parte, o carro destruído, vidro em todo canto e Aurora desfalecida sobre uma poça enorme de sangue no asfalto. Corro até ela e choro, choro desesperadamente. Não, eu não posso perde-la.

* *

Acordo ofegante e chorando, olho para o lado e Aurora dorme serenamente. Deito novamente e a abraço, abraço como se pudesse protege-la de todos os perigos desse mundo. E até onde eu puder eu farei.

𝙱𝚎𝚏𝚘𝚛𝚎 𝚢𝚘𝚞 ➸ 𝙷𝚊𝚛𝚛𝚢 𝚂𝚝𝚢𝚕𝚎𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora