Sábado, 12 de junho de 2004

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A PORTA FOI ESCANCARADA COM TANTA violência que eu dei um pulo, interrompendo meu grito no meio.

Eu estava totalmente despreparada para o que aconteceu em seguida — seu punho vindo na direção do meu rosto a toda velocidade, acertando meu osso malar e me lançando para trás, fazendo minha nuca, já fragilizada, bater na parede, antes de eu cair.

Por um momento não consegui me mexer, atordoada, mas de qualquer modo não tive tempo de pensar em uma reação. Ele me agarrou pelo cabelo e me ergueu, colocando-me de
joelhos, mal equilibrada, para então me agredir novamente, com mais força.

Desta vez o soco acertou meu nariz; senti o sangue começando a jorrar e vi, pelos meus olhos embaçados, o
líquido vermelho respingar no carpete cinza, formando uma poça. Eu engasguei, solucei, tive ânsias de vômito.

— Cala a porra dessa boca! — rugiu ele. — Que merda pensa que está fazendo gritando desse jeito?

— Me solte — falei bem baixinho, implorando.

— Acho que não, Catherine. Ainda não.

Dessa vez eu me encolhi antes de ele me acertar — no olho direito e na ponte do nariz.

Coloquei a mão na frente do rosto, tentando protegê-lo, mas ele a arrancou, encostou-a no chão
para pisar nos meus dedos, e eu ouvi o estalo.

Tentei engolir o grito, a dor me invadindo como se me dilacerasse por dentro.

— Chega, Lee... chega. Por favor.

— Tire a roupa.

Ergui o olhar para ele. Meu olho direito parecia estranho, sem foco.

— Não, não... por favor...

— Tire a porra da roupa, sua piranha burra, sua puta imunda. Tire agora.

Sentada, tirei o paletó. Minha mão direita não estava se mexendo direito, os dedos começando a inchar. Depois de um instante ele perdeu a paciência e arrancou meu paletó com violência, ignorando a dor nos meus ombros.

Minha blusa, ele simplesmente a rasgou. Depois me ergueu, arrancando um punhado de cabelos ao fazê-lo — que ele jogou no chão, limpando a mão na calça depois. Em seguida, arriou minha saia.

Então ele parou. Olhar para ele me causava asco, mas mesmo assim ergui a cabeça. Queria ver seus olhos, ver se descobria o que ele pretendia fazer comigo.

Tentei ao máximo focar seu rosto. Aquele olhar lascivo. Ah, meu Deus.

Ah, merda — ele estava gostando. Aquilo realmente lhe dava prazer.

Enquanto eu o olhava, ele meteu a mão no bolso traseiro da calça e pegou uma faca, uma espécie de canivete com cabo preto e uma lâmina curva parcialmente serrilhada, com cerca de dez centímetros de comprimento.

Recuperei a voz, suplicando, implorando, gemendo:

— Não, não, Lee. Não faça isso, por favor...

Ele enfiou a faca sob o tecido da lateral da minha calcinha, cortando-o em um golpe seco e preciso. Senti a frieza da lâmina na pele nua. Não conseguia me mexer. Depois o outro lado.

Então ele colocou a mão entre as minhas coxas e arrancou a calcinha de uma vez.

Em seguida, deu um passo para trás e me examinou.

— Você está feia — disse ele, um sorriso transparecendo em sua voz.

— Estou — falei, pois era assim que me sentia.

— Está um esqueleto de tão magra, puta merda.

Dei de ombros ligeiramente.

— Porra, que magreza. Eu gostava de você antes, quando ainda tinha alguma carne na merda desse corpo. Você era tão linda, tão gostosa, que eu não conseguia parar de olhar para
você, sabia?

Dei de ombros outra vez. Meu olho direito começou a fechar, minha cabeça latejava. Olhei para o sangue que havia jorrado do meu nariz quebrado, formando uma poça à minha frente.

Havia sangue por todos os lados. Quem poderia imaginar que pudesse sair tanto sangue de um nariz?

Ele suspirou profundamente.

— Não posso comer você desse jeito. Você está um horror, sabia?

Assenti.

Ele se virou e saiu do quarto, mas antes mesmo que eu atentasse para o fato, ele voltou carregando alguma coisa na mão, algo vermelho. Atirou aquilo contra mim, e senti-o deslizar pela minha pele como um beijo, tão macio.

— Vista isso.

Meu vestido vermelho. Abri-o e o vesti pela cabeça, tentando engolir as lágrimas e ajeitando-o sobre o corpo.

Olhei para ele e tentei sorrir. Tentei parecer sedutora.

Mais uma vez ele me golpeou com o dorso da mão, acertando em cheio minha boca. Caí no chão, e a dor foi tão intensa, tão arrebatadora, que comecei a rir. Eu ia morrer e não conseguia parar de rir.

Logo depois ele estava sobre mim, abrindo minhas pernas à força, rosnando, erguendo o vestido até a cintura. Ouvi quando o rasgou, e isso pareceu excitá-lo ainda mais.

O pior de tudo era que ele não estava cheirando a álcool. Desta vez, sequer estava bêbado, não tinha nem mesmo essa desculpa.

Fiquei deitada, sorrindo, e ele rosnava e me apertava, me penetrando intermitentemente, enquanto eu pensava que a dor dos arranhões em volta dos meus pulsos, dos dedos quebrados, do nariz, na cabeça, no meu olho direito, o corte no canto da boca de onde escorria o sangue —
que eu bebia, saboreava, quase querendo mais—,aquela porra toda era tão engraçada, tão irônica!

Eu quase conseguira embarcar num avião para Nova York, e não deveria ter-me dado o trabalho.

Poderia ter simplesmente ficado ali, me trancado no quarto de hóspedes e esperado pelo inevitável.

A dor que ele me impunha ao me comer violentamente, de todas as maneiras, de algum modo não chegava a ser pior do que todo o resto. Eu já havia passado por aquilo antes, afinal de contas. Enquanto estivesse me estuprando, ele não estaria fazendo mais nada. Não estaria me
matando.

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