Sexta-feira, 11 de junho de 2004

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QUANDO CHEGUEI AO AEROPORTO, ME RESTAVA menos de uma hora para fazer o check-in.

A parte final da viagem — chegar a Euston, ir de metrô para Paddington e pegar a linha direta para Heathrow, carregando aquela maldita mala de um lado para o outro — havia sido bem difícil. Eu me sentia cada vez mais angustiada.

Fiz o check-in no balcão da American Airlines, e esse foi um momento decisivo para mim.

Eu chegara ali, e chegara a salvo. Passei algum tempo olhando as vitrines no terminal do aeroporto, pensando em gastar dinheiro com coisas que não precisava. Eu não comprava lingeries desde antes de conhecer Lee. Se eu comprasse alguma, ele me acusaria de estar dormindo com outra pessoa. Toquei a delicada renda de uma calcinha na loja de artigos íntimos e pensei em comprá-la. Depois, ao olhar para o terminal cheio de gente, avistei de relance uma figura que se parecia muito com ele. Prendi a respiração, mas o homem se virou e notei que era outra pessoa.

Lee estava bem longe, em Lancaster, pensei. Crente que eu estava no trabalho. Ele se encontrava a setecentos quilômetros de distância, e mesmo que descobrisse que eu fora embora, eu estaria em segurança dentro do avião quando ele conseguisse chegar ali. Não havia absolutamente nada que ele pudesse fazer agora.

Ainda assim, eu queria ir logo para a área de embarque. Não fazia o menor sentido ficar por ali.

Cada passo que eu dava, sentia estar sendo vigiada. Mesmo ali, a quilômetros de casa, a quilômetros de Lee, eu via seu rosto em todo canto.

Seria tão bom me afastar de tudo aquilo...

Entrei na fila para passar pelo controle de segurança e dei uma derradeira olhada no terminal, para aquele mar de pessoas cuidando da própria vida, pessoas alegres saindo de férias e executivos exaustos.

Ternos, shorts, óculos escuros e pastas. Estava quase na minha vez.

Mais alguns passos, umas duas horas no salão de embarque e eu estaria dentro do avião. Livre.

E então, repentinamente — lá estava ele, passando por uma loja de gravatas, vindo na minha direção, os olhos grudados em mim, a expressão impassível.

A fila ainda avançava através das grades metálicas — eu não podia ficar ali.

Então saí correndo, em pânico, corri o mais rápido que pude na direção de um segurança, um homem de uniforme que caminhava por ali sem fazer ideia do que estava acontecendo. Não arrisquei olhar para trás. Se o tivesse feito, teria visto Lee mostrar, de longe, seu distintivo para o guarda, cujos olhos se arregalaram ao deparar comigo me aproximando dele, minha boca aberta em uma espécie de grito silencioso, tentando expressar algo como “Socorro, socorro”... E, em vez de se interpor entre Lee e mim, em vez de me proteger, me salvar, ele me agarrou e me jogou no chão, fazendo com que eu batesse com as mãos, o rosto e os joelhos no chão de granito; segurou meus braços às costas, enquanto Lee pegava as algemas e prendia meus pulsos. E enquanto Lee
recuperava o fôlego e arfava, dizendo “Peguei você, piranha”, o guarda não dizia nada, suado e ofegante com o esforço, empolgado por ter tomado parte de uma cena tão dramática em seu segundo dia de trabalho.

Eu me ouvia soluçando.

— Socorro, por favor, me ajude... Isso não está certo, ele não está me prendendo, eu não fiz nada...

Mas era em vão.

O guarda ajudou Lee a me erguer.

— Valeu pela ajuda, cara — disse Lee.

— Tudo bem. Posso ajudar em mais alguma coisa?

— Não, companheiro, tenho reforço na van lá fora. Mais uma vez, obrigado.

Tudo aconteceu em menos de um minuto. Não havia ninguém o esperando lá fora, é claro.

Nenhum veículo da polícia. Havia somente um carro à paisana, que fora deixado com o pisca- alerta ligado, no ponto onde os veículos deixam os passageiros, ao lado da entrada do terminal.

Segurando com firmeza meu braço, logo abaixo do cotovelo, ele me arrastou para fora.

Eu poderia ter tentado escapar novamente. Mas seria inútil.

— Seja uma boa menina, Catherine — disse ele. — Seja boazinha, você sabe que é melhor assim.

Ele me enfiou na traseira do carro.

Esperei que ele batesse a porta e se sentasse ao volante, mas, em vez disso, ele entrou na traseira comigo.

Não me lembro do que aconteceu depois disso.

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