Domingo, 17 de fevereiro de 2008

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OUVI OS PASSOS DE STUART NA escada, arrastando sua mochila, batendo com ela na parede.

Eu estava no sofá, sentada em cima dos pés, com meias, meus nervos vibrando como uma cerca eletrificada. Quando o ouvi, me perguntei se deveria deixá-lo primeiro guardar a bagagem em casa, descansar um pouco, tomar um banho, beber alguma coisa ou seja lá o que for que as pessoas fazem quando chegam de viagem. Pensei se ele não teria se esquecido de vir me ver, muito embora tivéssemos falado sobre isso na noite de sexta-feira, embora ele tivesse mencionado isso de novo ontem à noite, embora tivesse me enviado uma mensagem de texto do aeroporto de Heathrow para dizer que o avião havia pousado e que ele estava a caminho.

Então me lembrei de seu ombro e, sem pensar duas vezes, corri até porta, destranquei tudo e a abri.

Stuart acabara de chegar ao meu andar.

Ele estava um pouco ofegante, a mochila a seus pés parecendo uma presa conquistada em alguma caçada, sua mão agarrada a uma das alças, como se estivesse pronto para arrastá-la a seu covil.

— Cara, essa merda está pesada pra cacete.

— O que tem aí dentro?

— Uma porção de livros. Não sei o que me passou pela cabeça para trazê-los de volta.

Estavam na garagem de Rachel.

Encarei-o por um instante.

— Quer ajuda para levar isso lá para cima?

Ele não respondeu de imediato.

Parecia ter-se esquecido de onde estava e o que estava fazendo. Como se estivesse desnorteado.

— Posso entrar? — perguntou finalmente.

Assenti e lhe dei passagem. Ele deixou a mochila onde estava, largada no chão.

Fechei a porta assim que ele entrou e iniciei o processo de verificação, contando o mais rápido que podia sem cometer erros, enquanto Stuart esperava em pé atrás de mim.

Por fim, ele disse:

— Cathy, tenha paciência. Isso é uma tortura.

— Estou fazendo o mais rápido que posso.

— Sério. Por favor. Deixe isso para lá. Está trancada.

— Quanto mais você falar, mais tempo vou levar, portanto cale a boca, ok?

Ele aguardou. Devia estar contando junto comigo, porque assim que terminei a primeira sessão de verificações e antes que pudesse começar outra, ele se aproximou por trás de mim e passou o braço pela minha cintura. Não me esquivei. Ele apoiou a cabeça na minha, seu hálito quente no meu cabelo. Olhei para seus braços me cingindo. Virei-me lentamente e ergui a cabeça a fim de poder olhar para ele, a expressão em seus olhos difícil de definir.

— Você está nervoso — comentei.

Ele sorriu.

— Isso é tão óbvio?

— Não tem problema — disse, e o beijei.

Depois daquele primeiro beijo, tudo ficou mais fácil. Levei-o até meu quarto. Ele começou a me despir e então nossos corpos se entrelaçaram e eu mesma acabei tirando minha roupa.

O quarto estava escuro, a única luz vinha da sala, mas mesmo assim tive vergonha das cicatrizes. Ele deve tê-las sentido, no escuro, ao passar as mãos sobre minha pele. Mas não disse nada. Deve tê-Ias sentido com a boca ao me beijar, com a língua. Mas não disse uma palavra.

O mais estranho foi o que eu senti, senti tudo. Normalmente não sinto nada, apenas irritação, desconforto, rigidez, dor. A superfície do meu corpo é entorpecida pelas cicatrizes,
muitas das quais são insensíveis a estímulos — as terminações nervosas foram afetadas, creio eu.

Quando ele me tocou, eu senti tudo.

Foi como ganhar uma pele nova.

No escuroOnde histórias criam vida. Descubra agora