O Gato Preto

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Aline dorme com Gustavo, mas esquece que seu relógio não foi ajustado para despertar. Tanto ela como ele, dormem profundamente e quando acordaram, já eram 10:34 da manhã.

-- Caramba, eu tô muito atrasada pro trabalho, e o Lucas não foi pra escola... Meu Deus socorro! Por que eu dormi tanto Senhor?!

Gustavo escuta a gritaria, e se espreguiçando diz com voz de sono:

-- Bom dia pra você também. Eu não sei você, mas acho melhor não ir trabalhar hoje.

-- E o Lucas? Ele vai perder aula.

-- Ah... Um dia só não tem problema. Depois ele pede pra algum amigo passar a matéria. Tá mais tranquila?

Aline medita um pouco antes de responder. Quando sua respiração volta ao normal, ela diz:

-- Estou melhor. Vamos tomar café, preciso acordar o Lucas.

-- Ok, senhorita certinha Duarte.

Aline revira os olhos e levanta se espreguiçando.

-- Que visão linda... ~ Gustavo diz se levantando.

-- Ah... Me desculpe. Eu não consigo me espreguiçar sem fazer uma posição... Meio que sexual.

-- Não há nada de mal nisso. O ruim é que eu não participo dela.

Aline lança um olhar de reprovação para Gustavo, que ri de sua cara.

*Na casa de Fernando...*

Na noite passada, Fernando sequer se lembra do que aconteceu. Ele havia bebido muito, e levou vários tapas da loira que alegava que ele a havia traído com a dona do bar que eles frequentavam.
Apanhou tanto, que os hematomas ainda não haviam cicatrizado. Porém, quando se levantou, estava em uma casa maravilhosa. O quarto estava bagunçado, mas era de rico. As cortinas abertas eram feitas de ceda pura, e o travesseiro era recheado com penas. Mas... Como Fernando foi parar ali? Em um lugar onde jamais conseguiria pagar? Não tinha aparência de hotel. Quando a grande porta branca e detalhada se abriu, uma mulher velha porém cuidada entrou, com uma bandeja de café da manhã.

-- Por favor, acorde a senhorita Paula antes de comer.

A velhinha que deveria ser a governanta da casa, deixou a bandeja no criado mudo ao lado da cama e se retirou.
" Paula? Esse é o nome da loira que eu peguei por todos esses dias?" Fernando pensava enquanto comia uma uva. Ele imaginou onde a mulher poderia estar, e quando olhou para o outro lado viu a cabeleira loira esparramada pelo travesseiro.

-- Paula ~ ele chamou para acorda-la ~ vem comer.

Ela grunhiu, e ele levantou para se vestir. Depois de colocar suas roupas, pulou na cama acordando Paula e a fazendo o xingar de todos os nomes possíveis.

-- Por que me acordou desse jeito?! Você tem problema?!

Fernando simplesmente deu risada e se calou.

-- Essa casa é sua? ~ ele pergunta olhando o lugar.

-- Sim, meu pai morreu e eu era filha única.

Fernando arregalou os olhos. Ele estava com uma milionária em sua frente, e já tinha relações íntimas com ela. Mas havia um porém: ela não ficaria com um homem casado.

-- Você tem marido? ~ ele pergunta pensando em Juliana.

-- Não, nem tenho relacionamento. Viver sozinha é melhor do que casar e viver dividindo as coisas.

Aquilo foi uma facada para Fernando. Ele se separaria somente para se casar com a loira, e ela vem com essa  novidade.
Ele vai para casa, e lá vê um gato em sua janela. O gatinho era preto, e Fernando acreditava que aquilo dava um azar horrível.

-- Bichano maldito. É hoje que você para de me atazanar...

Fernando levou o gato para dentro de casa, e o matou com facadas no peito. Ele ria ao ver o sangue no chão, e os olhos do pobre gato fechados. Eles nunca mais se abririam. A vida daquele ser, havia acabado. Como a de todos acabará um dia. Fernando deixou o gato morto em cima de seu sofá, e foi na geladeira pegar uma garrafa de whisky. Depois de beber metade, ele já estava fora de si. Tanto, que retirou uma perna do gato e fritou. A mastigou e cuspiu na cabeça do animal morto.
Quando ele começou a dizer coisas sem sentido, Juliana chegou na casa. Fernando estava no banheiro, e não a viu. Quando ela bateu os olhos no gato morto com uma perna mastigada na cabeça, tremeu em sua base. Ela já sabia quem havia feito aquilo, mas não queria aceitar.
Tirou uma foto correndo, e foi embora com o medo de lhe acontecer o mesmo. Enquanto isso, Fernando estava no banheiro. Olhando a si mesmo no espelho e dando risada do que via. Para ele, um homem forte, bravo, que estava sempre com um sorriso maroto nos lábios e que era amigo de todos. Que não havia feito mal a ninguém. Que tinha todas as garotas na palma de sua mão, e ainda conseguia fazer sua esposa feliz. Mas como todas as coisas, tinha um porém. Ele não morava mais com sua esposa. Teria de acha-la, e provar para si mesmo que o que ele achava era verdade.

*Na casa de Aline...*

Depois de tomar café, Aline deixou Lucas com Gustavo e foi ver Juliana. Ela viu que Juliana estava bem, e os machucados finalmente haviam sumido, então bateu um papo e voltou para casa.

-- Mãe, não tem nada pra fazer.

Lucas estava entediado, mas gostou de ter a companhia de Gustavo.

-- Ah filho... Não sei o que fazer. Mamãe também ta entediada.

-- Já sei. Vamos sair. Nós três. ~ Gustavo disse empolgado, e Aline não achou má idéia. ~ Agora precisamos escolher o lugar.

-- Mãe, a gente pode ir comer coxinha naquela lanchonete?

-- Vamos sim filho. Vai se trocar.

Lucas correu para seu quarto, e Aline foi para o seu, vendo Gustavo ir atrás.

-- Acha mesmo que vai me ver me trocando? ~ ela diz com um sorriso malicioso nos lábios e ele retribui.

-- Menos drama, só quero ver a roupa.

Aline coloca um macacão azul com um pequeno decote "V" e deixa os cabelos de caracol soltos. Coloca brincos de argola para finalizar, e está pronta.

-- Não digo nada sobre esse decote viu.

Gustavo diz fazendo bico. Aline costuma achar ciúme fofo, e dessa vez não foi diferente. Ela segurou o queixo dele com a mão e lhe deu um selinho.
Ele entendeu o recado.

-- Mãe, que isso?! Você ta bonita mas ta abusando!

Aline dá risada.

-- Vocês são muito ciumentos.

-- Olha quem fala.

Lucas responde rindo também. No caminho para a lanchonete, Aline vê Fernando no fim da rua, e ele a vê também. Ele sai correndo atrás dela. Aline puxa seu filho para trás, e sai correndo com ele. Gustavo sem entender, os acompanha.

-- Mãe! O que aconteceu com você?! ~ Lucas pergunta assustado e com lágrimas nos olhos.

Aline não podia responder, ela estava ficando sem ar por levar o filho no colo (para aumentar a velocidade, Lucas era apenas uma criança e não podia correr muito rápido). Infelizmente, Fernando consegue a alcançar, e puxa seu macacão, que rasga na parte de trás. Ela para de correr, e coloca seu filho no colo de Gustavo. Aline estava irritada, e sem fôlego. 

Depois De Me EsquecerOnde histórias criam vida. Descubra agora