7° Segundo

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Sabe aquela frase popular "acordar com as galinhas", pois bem, na fazenda Esperança se cumpria à risca essa frase e eu não conseguia ficar na cama nem mais um minutinho se quer, mesmo tentando, cobrindo minha cabeça. Eles nunca desistiam de bater na minha porta, quantas vezes fossem necessárias até eu acordar.

E naquela manhã não foi diferente, porém tive a maior surpresa ao abrir a porta, dessa vez não era a minha tia que estava batendo, nem a Nanda, muito menos a Angélica. Para a minha surpresa quem estava parado na minha porta, pouco antes de amanhecer era o João, completamente vestido, até chapéu ele usava, enquanto eu estava com o cabelo todo bagunçado cara de sono e usando somente uma camiseta preta da minha banda favorita U2.

— Bom dia, garota da cidade — cumprimentou João com ironia depois de me observar atentamente da cabeça aos pés.

— Bom dia, garoto da fazenda — retribui sua ironia na mesma medida.

— O café da manhã está pronto e estamos apenas esperando você, dar o ar da graça para que possamos matar a nossa fome.

— Não precisa fazer todo esse drama, eu já estou indo.

— Tudo bem, ah! Antes que eu me esqueça, o que achou da festa de ontem à noite?

— A festa estava ótima, eu adorei, será que vamos ser convidados para outra? — perguntei sondando, para saber onde ele queria chegar com essa pergunta.

— Claro, pode ficar tranquila, sempre aparece festas como essas por aqui.

— Que bom, estou feliz em poder sair um pouco da fazenda, não me entenda mal, é que cansa ficar aqui dia e noite, por favor avisa a sua mãe que já estou indo.

Eu me arrumei mais rápido do que podia, mas só consegui chegar na cozinha muito tempo depois. Mas quando entrei, não encontrei todos na mesa me esperando, a minha tia estava chorando sentada numa cadeira, enquanto o João e a Nanda estavam falando ao telefone.

A Angélica estava sentada no chão, chorando como se o mundo fosse acabar amanhã, eu nunca tinha visto aquela família assim, por isso pensei logo no pior, mas o que seria pior para essa família tão perfeita e feliz. Antes que minha cabeça orquestrasse ideias mirabolantes eu cheguei perto da única pessoa que não estava chorando na cozinha e perguntei:

—  O que está acontecendo, Marta?

— Minha nossa, você ainda não sabe? — perguntou demonstrando preocupação e pelo seu tom de voz, não é nada agradável o que ela tem para me dizer.

— Não — murmurei insegura.

— O Ben sofreu um acidente nos Estados Unidos, um boi pisou nas costas dele e a Dona Rosa está inconsolável sem notícias, não sabemos de nada e não conseguimos falar com ele.

— Que notícia terrível, será que eu posso fazer algo para ajudar? — questionei preocupada, observando minha tia chorando sem parar.

— Não sei, o João e a Nanda já estão cuidando de tudo. Talvez você deva ficar por aqui, se a sua tia precisar de algo, você pode ajudar.

— Tudo bem — concordei me sentando em uma das cadeiras para esperar alguma notícia.

Ficamos nessa agonia a manhã toda, minha tia tomou dois copos de água com açúcar, mas ainda não conseguia ficar sem chorar, nessa altura seus olhos já estavam inchados e tudo que eu queria era diminuir o seu sofrimento, mas estávamos a quilômetros de distância do Ben, e saber uma informação confiável nessa distância era quase impossível.

Se não bastasse minha tia, a Angélica também não conseguia parar de chorar. Em um determinado momento eu me sentei ao seu lado e acariciei seu cabelo, para mostrar que eu estava com ela, mas mesmo assim suas crises de choro não diminuíram nenhum pouco.

Entre Amor & Laço - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora