29° Segundo

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Quando finalmente pisei dentro de casa, já era noite. Meu apartamento estava como eu o havia deixado, tudo exatamente no mesmo lugar, exceto eu. Meu corpo era o mesmo, mas o resto estava passando por uma transformação, como se eu estivesse vivenciando um momento decisivo. A partir daquele dia eu não seria a mesma, sentia aquilo em cada partícula do meu ser.

Sentei-me no sofá. Sem coragem de guardar a mala, joguei-a num canto da sala e lá a deixei. Não olhei para o relógio, não contei o tempo, só fiquei lá sem saber ao certo qual seria o meu próximo passo. Talvez, se eu falasse com alguém, aquele vazio e a sensação de abandono diminuiriam, mas quem chamar numa hora dessas? A Stephanie nunca entenderia, eu achava que ela nunca se apaixonara por alguém, na certa ela diria para eu seguir a vida e procurar outro cara, naquele dia mesmo, se possível. Como fazer algo assim? É claro que eu sabia que não podia ficar ali, sozinha, para sempre. Todavia, meu coração não queria saber de superar, parecia que ele tinha vida própria e não me escutava, mesmo que eu estivesse gritando: "esqueça o Ben de uma vez!".

Apesar de eu não querer, tive de me levantar, entrei no meu quarto e, antes de desabar na cama, resolvi tomar um banho. Já era madrugada, e eu precisava dormir. Naquela altura o sono já era tão grande que meus olhos estavam quase se fechando sozinhos. Isso era um bom sinal, já que, enquanto eu estivesse dormindo, não pensaria em Ben.

O meu banho foi o mais rápido de que me recordava. Quando percebi, já estava deitada com os cabelos ainda molhados, usando uma das minhas camisetas de banda e uma calcinha cuja cor nem fazia ideia.

Apaguei e acordei horas depois ouvindo um barulho estridente e incessante. No começo era tão fraco e distante que eu nem conseguia distinguir o que era. Entretanto, conforme eu ia acordando, o barulho foi aumentando e, quando abri os olhos, espantada, percebi que era a minha campainha.

— Quem pode ser a essa hora? — resmunguei colocando o travesseiro na minha cabeça para diminuir o barulho e voltar a dormir. Estava tão bom!

Contudo, aquele barulho não parava, diria até que tinha aumentado. Como alguém podia tocar uma campainha tantas vezes assim? Deveria ser proibido acordar as pessoas quando elas estão dormindo tão sossegadas. Apesar do som insistente, eu não me levantei; em algum momento a pessoa iria se cansar e me deixar em paz. E foi isso que aconteceu, a zoada acabou de repente, e eu voltei a dormir.

Acordei algum tempo depois. Era quase meio-dia. Feliz e saltitante, eu não estava, mas confesso que me sentia bem melhor. Decidi que não ficaria trancada no apartamento esperando o Ben voltar para mim. Eu tinha que esquecê-lo e, já que não sabia como fazer isso, precisava de alguém que poderia me ajudar. A Stephanie foi a escolhida. Tomei outro banho mais demorado dessa vez, coloquei meu melhor vestido, os saltos mais altos que eu tinha, peguei as chaves do carro e me preparei para sair.

No entanto, tive uma grande e inesperada surpresa ao sair do meu apartamento e encontrar o motivo do meu sofrimento sentado no corredor em frente à minha porta.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei colocando as mãos na cintura, indignada e sem acreditar que ele estava parado à minha frente naquele instante. Se eu não tivesse certeza de que já acordara, pensaria que estava sonhando.

— Esperando você — respondeu se levantando e dando um passo para mais perto de mim.

— Por que não tocou a campainha para me chamar? — questionei observando-o atentamente. Suas roupas estavam amassadas e ele estava com uma aparência cansada de quem esperara sentado naquele corredor por um longo tempo.

— Eu tentei, mas você não atendeu — explicou passando as mãos nos cabelos, um pouco envergonhado com a situação.

— Então era você! — exclamei baixinho apenas para que eu pudesse ouvir em voz alta o que a minha mente já sabia, mas ele escutou.

Entre Amor & Laço - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora