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Abri os olhos e vi o meu pai com os olhos molhados e vermelhos de choro. Sorri para ele mas ele olhou para o chão e começou a soluçar.

_ A minha filha.- ele disse- A minha única filha.- ele chorou e chorou enquanto eu lhe acenava sem parar.

Desesperada levei as mãos à cara e reparei que elas não eram mais castanhas. Elas eram azuis quase transparentes. Olhei para o meu corpo e vi que todo ele estava assim: transparente.

A máquina de meu pai funcionava e... Me matou. Percebi que ele tinha destruído a sua invenção e que o meu corpo se encontrava entre as suas mãos. Chorei e tentei abraçar o meu pai em vão. Não lhe podia tocar, não lhe podia falar. Eu estava sozinha no mundo.

Saí do edifício e corri... Corri sem destino pelo mundo durante, quem sabe, segundos, minutos, horas, dias... Dois anos.

Dois anos haviam se passado. Voltei à minha terra para ver como estavam meus pais. Haviam adotado um menino de 5 anos. Sorri para mim mesma. Depois fui até eles e sussurrei:

_ Vou deixa los. Desculpem por ter ficado tantos anos.

Saí de casa deixando meus pais para trás chorando ao lado de uma foto minha. Suspirei.

Mais uma vez corri. Quem diria que almas se deslocam tão depressa. Estava numa cidade desconhecida.

Me sentei no chão e olhei à minha volta. Vi uma mulher como eu (fantasma) atrás de uma miúda. Ela falava com a miúda enquanto a outra falava com um garoto do seu lado. Sorri.

Existem muitas almas livres no mundo. Todas elas estão cá com algum finalidade que elas próprias têm que descobrir. Soube disso por uma alma como eu.

Ela me disse que a nossa missão pode ir desde ajudar uma criança na peça de teatro da escola a matar um humano. Para realizar a missão essa pessoa pode nos ver. Como tinha passado todos estes dois anos ao lado de meus pais ainda não tinha encontrado essa pessoa e não tinha interesse em encontra la.

Não quero abandonar a Terra. Não quero ir para o céu. Só quero ficar aqui para sempre.

Passeio pelo local e vou até um pequeno bar que chama minha atenção. Uma alma de um rapaz loiro aparece do nada.

_ Oi.- digo sorrindo para ele.

_ NINGUÉM ME VÊ. COMO VOCÊ CONSEGUE ME VER?

_ Estou morta igual a você.- ele me olha assustado.

_ Eu morri?- ao me ver assentir continua- Só me lembro de um garoto apontar uma faca para mim e de sentir uma dor horrível nas costas e...- o seu corpo azul começou a evaporar se.

_ Não se assuste. Você está voltando à vida.- digo enquanto ele me abraça, me assustando.

_ Sou Tyler Silver.

_ Thalia Campbell.

_ Um prazer conhecer você.- ele desapareceu e eu senti o calor de seu corpo se dissipar junto. Fui até o lugar onde estava sendo transportado para uma ambulância.

Seus cachos dourados caiam em seus olhos de forma desajeitada. Seus olhos azuis marinhos estavam fechados e pude reparar numas ruguinhas por baixo dos mesmo. O que mais me surpreendeu foi o sorriso que ele tinha na cara. Uma covinha iluminava seu rosto na bochecha direita.

Seu peito nu (por causa da reanimação) tinha vários músculos bem definidos. Ele era perfeito.

Meu passatempo favorito era seguir pessoas em estado crítico e rezar pela sua saúde. Também gostava de seguir garotos e de imaginar como será namorar,beijar...

Eu morri muito cedo e se pode dizer que eu só sai umas poucas vezes. Não tinha namorado desde meus 10 anos.

Segui a ambulância rezando para o garoto sobreviver. Mas acabei me apanhando desejando a sua morte... O que eu estou pensando. Eu não posso desejar que ele morra. Pois não?...

Claro que não. Olhei à minha volta no hospital. Ninguém me via. Segui a maca do garoto que era empurrada com toda a pressa para a sala de cirurgia. Ele estava sangrando pelo peito e tinha um corte fundo na perna esquerda. Me aproximei dele e sacudi uma mão em cima de seu rosto. Não sei porque fiz isso. Ele não me vê. Estava ainda o seguindo quando ele abre os olhos e sussurra um "Thalia" quase inaudível.

Depois o médico injetou um soro nele o fazendo adormecer. O encarei por segundos ou até minutos. Saí quando começaram a retirar a bala de seu corpo.

Me sentei na sala de espera e umas porpurinas brancas começaram a cair do nada. Um homem com barba branca até ao chão, trajando um manto branco e com a pele mais branca que já vi apareceu na minha frente. Mais ninguém o via... Só eu.

_ Thalia Campbell,vejo que encontrou o seu alvo.

_ O meu... Alvo?- eu sabia ao que ele se estava referindo- Quem é o senhor?

_ Eu sou Deus.

_ De-eu-u-s?- gaguejei arregalando os olhos.

_ O mesmo. Venho aqui dizer te a missão para ir para o céu. O garoto, Tyler Silver, tem de morrer. O ajude nisso.

_ O QUÊ? EU NÃO VOU MATAR ELE.

_ Mais tarde você vai querer matar ele e ele vai querer se matar.- dito isto desapareceu com mais porpurinas me deixando imobilizada na sala de espera.

_ Matar? Um garoto de não mais de 18 anos? Eu não posso... O que ele quer dizer com eu querer que ele morra? Eu nunca desejaria isso a ninguém...

Tyler saiu rodeado de médicos da sala e o levaram até um quarto. O colocaram na cama e eu me sentei ao seu lado. Suspirei.

_ Como vou eu matar um anjo tão lindo...- ao me dar conta das minha palavras me levantei assustada e comecei a dar voltas pelo quarto- Eu não posso fazer isso. Não com alguém tão jovem, com toda a vida pela frente.

Ele se mexeu levemente na cama me fazendo saltar do susto. Olhei para a cama do lado. Uma garota de cerca de 8 anos estava lá deitada com uma mulher/alma do seu lado. Devia ser sua mãe. A mulher beijou a testa da miúda e desapareceu. Abanei a cabeça para acordar dos meus devaneios e me sentei outra vez do lado de Tyler.

Sentindo minha presença ele abriu os olhos e sorriu ao me ver.

_ Thalia?

Prisioneira do teu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora