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Não sei porque eu fiquei tão chocada. Só sei que me cérebro encravou e eu só conseguia ouvir uma voz dizendo "Você não pode contar. Ele não te vai querer mais"

Eu tinha medo. Medo de perder ele. Nunca me senti assim.

_ Eu... Não posso contar.- baixei a cabeça.

_ Me conta. Sei que está mentindo. Te conheço bem. Porque você não quer me contar?- odiei o fato de ele poder ver que eu estava mentindo. Isso me fez sentir uma pessoa horrível. Uma mentirosa.

_ Não posso. Não me posso arriscar.

_ Porquê?- ele parecia impaciente.

_ Não quero perder você.- eu disse num sussurro quase inaudível. Não sei se você chegou a ouvir. O silêncio tomou conta de nós.

_ Você nunca me vai perder.- essas palavras ficaram ecoando em minha cabeca- Eu prometo.

_ Eu...eu...eu... Tenho que...- olhei para ele e logo baixei o olhar.- Matar você.

Você se afastou. Se levantou e ficou me olhando. Já esperava ouvir frases de ódio mas ao contrário disso, você pegou num casaco e o vestiu.

_ Onde você vai?- eu perguntei, obviamente chocada por ele não ter falado nada.

_ Há uma ponte perto de aqui. Acho que se me jogar...

_ NÃO. VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO.

Ele não pode se matar. Não. Não pode. Não vou deixar.

_ Eu quero fazer isso.- ele disse calçando um sapato.

_ Não faça isso. Não o faça.

_ Mas eu quero. Minha vida é uma merda. Nem sei se posso chamar a isto de vida.

_ Então crie uma nova vida. Se mude de cidade. Deixe tudo para trás.- eu disse sentindo lágrimas escorrendo por minha cara.

_ É isso que você quer?- ele disse depois de uns minutos.

_ Sim.

Ele começou a colocar muitas coisas numa mochila. Depois colocou suas roupas numa mala. Só se ouvia o barulho da roupa caindo dentro da mala e nossas respirações irregulares. Ele saiu do quarto e voltou com muitas notas de 100 na mão.

_ Esse dinheiro é todo seu?

_ Esse dinheiro ainda me pertence. Ainda não fui deserdado.

Ele colocou tudo numa carteira.

_ Vem. Vou para o aeroporto.

A viagem de carro foi feita em silêncio. Ao chegar no aeroporto ele mandou uma mensagem para seu pai O carro tá no aeroporto.

Depois entrou e foi até o local onde se vendem os bilhetes.

_ Um bilhete para Frulling, primeiro voo.- ele pediu.

_ O próximo voo é daqui a uma hora.

A mulher entregou um bilhete pra ele e Tyler pagou. Frulling? Espera.

_ Essa é minha cidade.- eu disse pra ele.

_ Eu sei. Você falou dela durante o sono. Por isso eu a escolhi. Você não se importa, né?

_ Não. Eu não me importo.

Passamos uma hora sentados numas cadeiras. Os dois com demasiado medo pra falar. Quando anunciaram seu vôo ele se levantou. Ao chegar ao avião, ele se sentou do lado da janela e eu do seu lado. Graças a Deus aquele lugar não tava ocupado.

_ Preparado para sua nova vida?- eu perguntei.

_ Nunca estive mais preparado em toda minha vida.

O vôo foi calmo. Não houve turbulência, o que acho que dececionou Tyler.

Quando o avião pousou nós saímos no fim. O ar quente de Frulling batendo em minha cara. Eu não o sentia. Mas mesmo assim eu ainda me lembrava da sensação.

_ Tá calor aqui.- Tyler disse tirando k casaco.

_ Aqui faz muito calor. Até no inverno.

_ Ainda bem que não trouxe roupa quente.

Andamos pelo aeroporto e saímos. Íamos pegar um táxi quando ele me perguntou.

_ Para onde vamos?- ele estava meio perdido.

_ Meus pais. Claro. Minha mãe tem um bar. Tenho certeza que ela te arranja emprego. Ela sempre deu emprego a jovens desempregados.

_ Onde é?- ele perguntou.

_ Rua Principal, número 12.

Ele entrou no táxi e deu o endereço que eu disse ao condutor.

O café estava igual. Com sua vitrine onde vários bolos estavam expostos, vários sofás no seu interior de todas as cores e um balcão cheio de flores muito lindo. O café era bem colorido o que chamava a atenção de muitos turistas. Mais ao fundo tinha uma piscina de bolas e um mini parque infantil onde eu e muitas outras crianças brincam ou brincaram.

_ Eu vou entrar.- Tyler entrou. Minha mãe veio até ele e olhou de relance para suas malas.

Senti lágrimas virem aos meus olhos. Ela estava linda, perfeita como sempre. Limpei as lágrimas.

_ Bom dia. Em que o posso ajudar?

_ Bom dia. Eu sou novo na cidade e ouvi dizer que daí emprego aqui e...

_ Ah claro. Nós temos uma vaga. Teve muita sorte. Ontem um garoto foi embora deixando a vaga livre.

Eles ficaram conversando e combinaram de que ele começaria já amanhã trabalhando.

_ Sua mãe é genial.- ele disse- E você é a cara dela. São iguais.

Eu sorri. Todo mundo dizia isso. Ele acabou arranjando um apartamento que ficava a dez minutos a pé do café.

Tava tudo correndo bem. Ele iria fazer 18 anos daqui a nada e aí já não teria o receio de a polícia o encontrar a qualquer instante.

Ele jogara fora seu celular e comprara um novo com o dinheiro que trouxe. Obviamente que comprou um barato mas funcional.

Prisioneira do teu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora