Nunca deixou de ser um Sonho

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     Aquele lugar é escuro. Um local escuro e frio. Meio apertado. Não se dá para saber como é, mas eu imagino como pode ser. Minha visão, mesmo não estando nítida, consegue perceber as paredes, que estão perto. A sala tem pouco mais de três metros quadrados. As paredes são brancas e refletem a luz da lua em alguns pontos.

     As cortinas pesadas não deixam muito da luz passar. A luz que consegue ultrapassar as cortinas reflete a sombra das barras presas a janela no chão de linóleo do quarto. As portas pesadas de ferro tem apenas uma portinha para comida. Mas já faz algum tempo que não passada nenhum tipo de comida por aquela portinhola.

     -Não Charlotte. Você não está ficando louca!-grito para parar com a vozes.
Não é possível. Nunca fui louca. Não é agora que me tornarei. Não serei a primeira da família a ir para um hospício. 

     -Não sou louca. NÃO SOU!-grito alto e estridente.

     -Ninguém vai te ouvir. Você é sozinha sua inútil.-diz uma das vozes. -Vai levanta. Mostra que tem um pouco de dignidade.- uma voz feminina. Eu me levanto. -Muito bem.-diz a voz sarcástica. 

     Em um gesto astuto empurro a porta de ferro do quarto e saio correndo. Corro descalça pelos corredores de piso gelado. Não olho para trás. Minha vida está concentra toda em minha frente. Naquela grande porta branca de ferro, com duas janelas pequenas. Minha vida se concentra em minha frente, apenas quero conseguir sair daquele lugar escuro, fétido e frio. 

     -Charlotte... Charlotte. Acorde amor... acorde.- diz meu namorado Renan tentando me acordar. -Bom dia raio de sol!

     -Bom dia querido. -estou sorrindo para ele.

     Estamos nos encarando. Permanecemos nos enacrando por alguns míseros vinte segundos, que para mim se pareceram horas. Olhando para aqueles olhos cintilantes e oblíquos. Os cabelos escuros e cacheados meio bagunçados combinando com sua barba ruiva por fazer.
O sol brilha lá fora. As cortinas de ceda branca deixam a maior quantidade de raios entrar no quarto. As rosas parecem dar bom dia ao lindo e convidativo céu. Perfeito

     -Você... Você é tão lindo!- continuo o observando.

     Ele ainda esta me olhando. Mas seu olhar está tomando profundidade. Como se algo ruim; alguma entidade tomasse conta de sua alma. O céu começa a escurecer. As rosas murcham e em seus caules começam a crescer espinhos. Os malditos espinhos. Agora o mundo é tomado por trevas outra vez.

     Tento tocar seu rosto, mas ao momento que minha mão toca suas bochechas rosadas seu rosto se desmancha como água na cama. Dou uma recuada. Estou com medo. Olho em volta. Penumbra. Novamente estou no mesmo quarto de hospício. 

     -Abra sua mão?- diz a voz feminina ainda com grosseria.

     Em minha mão direita estão duas rosas espinhentas. Volto minha visão para a moça arrogante. Ela está ha apenas dez centímetros do meu nariz. Consigo sentir sua respiração. Estou com medo.

     -Agora feche sua mão!- ordena a mulher. -FECHE... AGORA!-grita a mulher fazendo com que todos os vidros do quarto se quebrem encima de nós. 

     Um dos cacos me rasga o rosto. Sinto minha mão involuntariamente se fechar. Luto contra, mas é bem mais forte do que eu. Sinto os espinhos perfurar minha carne. Sinto a dor no fundo do âmago; enquanto a moça se diverte com meu sofrimento. Fecho os olhos. Bem forte. De repente não sinto mais dor. Mas ainda estou mo mesmo quarto, com as mesmas rosas e a mesma mulher. Mas o pior de tudo é eu não saber... se estou acordada.

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