- Beatriz anda logo, senão iremos nos atrasar – Ruan grita do andar de baixo, era estranho ouvir logo o Ruan reclamar de atraso, afinal ele era o rei dos atrasos, pelo menos era assim antes da nossa viagem, desde que voltamos para nossa casa tudo estava diferente, principalmente o Ruan, eu não sabia ao certo o que havia acontecido, mas sabia que algo aconteceu entre ele e Suzana que o fez cair na real, ele finalmente voltou a ser aquele Ruan que eu conhecia quando era pequena, nossa amizade não podia estar melhor, minha vida não podia estar melhor, pelo menos até esse momento.
Aquele era meu último momento para finalmente tirar minha dúvida que estava me atormentando nos últimos dias. Estava sentada no chão do banheiro esperando aqueles malditos cinco minutos de agonia passar para eu saber se minhas dúvidas eram verdade. Na minha mão, estava um teste de gravidez, o primeiro que eu vi na farmácia e consegui esconder antes que Cassio e Ruan pudessem ver.Pela primeira vez em muito tempo, talvez nem tanto assim, minha cabeça se encheu de dúvidas, a primeira era se eu seria capaz de ser, tudo aquilo de maternidade parecia ser tão difícil, e depois de que minha mãe contou suas experiências eu fiquei ainda mais nervosa. Mas a pergunta que ganhava de todas em questão de prioridade era apenas uma, quem era o pai? Apenas pensar nisso me fazia tremer, como eu cheguei naquela situação? Como eu pude ser tão estupida a cometer um erro daqueles?
Eu queria esquecer tudo o que havia acontecido naquela viagem, a morte de meu pai, meu reencontro com Diego, o jeito que eu havia enganado Cassio, eu apenas queria tirar tudo aquilo da minha cabeça e poder começar de novo, ou no meu caso recomeçar de novo. Já havia se passado quase quatro semanas desde que eu, Cassio e Ruan havíamos voltado de minha cidade natal, quatro semanas em que eu havia me decidido continuar com Cassio, quatro belas semanas de calmaria, mas agora tudo foi por água abaixo.
Ambos Cassio e Ruan estavam se arrumando para voltar para minha cidade, todas as malas estavam no carro, e agora apenas faltava a mim, que estava trancada no banheiro, sentada no chão, com o cronometro do celular em minha mão esquerda, e o teste em minha mão direita, se ele desse positivo o que eu iria fazer? Ter o bebê? Abortar? Contar para Cassio que estava gravida, mas que eu não tinha toda a certeza de que ele era o pai? E que o outro candidato a ser o papai do meu bebê era o meu próprio irmão? Ou mais uma vez eu mentiria para ele, eu conseguiria guardar aquele segredo para o resto da minha vida?
Tudo o que eu mais queria era passar uma borracha naquela viagem, e eu realmente fingi que nada do que havia acontecido aconteceu, mas ao que parece eu era a única. Os cinco minutos no cronometro acabam e o celular começa a apitar, tento ver o que está escrito no bastão de plástico em minha mão, mas eu não tenho coragem, eu conseguiria viver com a dúvida de não saber, mas eu não tinha tanta certeza se eu conseguiria depois de saber a verdade.
- Bia! – Ruan grita mais uma vez, o que me tirar de meu transe de olho ou não olho – a gente vai te deixar aí se você não descer logo – sem pensar muito eu coloco o teste em minha bolsa, me levanto do chão gelado do banheiro e abro a porta, vejo Ruan apresado falando de como iriamos nos atrasar se não saíssemos o mais rápido possível. Por um instante tudo ficou mudo na minha cabeça, eu vi Cassio atrás de Ruan, escorado na porta da frente aberta, ele não tinha a menor presa, quando ele percebe que eu estou olhando para ele, ele sorri, eu sorrio de volta, talvez aquele seria o último sorriso que compartilharíamos juntos
- Está tudo bem? – Cassio pergunta quando eu chego perto dele
- Sim – digo, mesmo nada estando bem, eu podia estar gravida, o que por si só já não é uma coisa bem grande, mas o me noivo podia não ser pai, e para tudo piorar, eu estava indo encontrar o outro concorrente a pai do ano, que por sinal era também o meu irmão. Eu me pergunto as vezes, será que eu não podia ter uma vida normal?
Depois de horas no carro, em total silêncio, eu fingi que dormia durante todo o percurso, finalmente havíamos chegado ao nosso destino. Primeiro paramos na antiga casa de Ruan para vermos Suzana, que era a razão de nossa viagem, ela iria se casar em menos de um dia.
Suzana não podia estar mais feliz, ela tinha tirado a sorte grande, um dos momentos mais tristes para mim foi ter que me despedir dela quando eu e Ruan nos mudados, eu sentia que havíamos abandonado ela, o que fizemos na realidade. Mas eu tinha que pensar em mim antes de tudo, aquele lugar tanto para mim quanto para Ruan era tóxico, e não aguentaríamos continuar morando lá. Mas ela, diferente de nós conseguiu ser feliz naquela cidade, afinal ela encontrou o amor da vida dela lá. Eu conseguia ver o quanto Suzana amava seu noivo, que em poucas horas seria seu marido.
Jatamos com Suzana, em seu jantar de ensaio, minha mãe também estava presente, ela realmente ficou feliz ao nos ver, a segunda vez no ano que ela havia me visto, era um recorde que havíamos batido. Mas diferente dos outros anos, estávamos realmente mais próximas, sempre conversávamos por telefona, ou por mensagens, ou pelo o que ela chamava de mensagens, ela vivia me mandando aquelas fotinhas chatas de "Bom Dia" com ursinhos, flores ou coraçõezinhos ao lado, isso quando não era tudo junto ao mesmo tempo. Mas apesar de tudo aquilo só mostrava que apesar de tudo tínhamos uma relação boa.
Diego não estava lá, ele ainda estava na cidade com a minha mãe, ter de encontra-lo não estava na minha lista de coisas que eu estava morrendo para fazer. Eu não sabia como encara-lo depois de tudo o que havia acontecido, depois da conversa que tivemos.
Foi no dia em que eu estava voltando para casa, eu ainda não havia falado com ele, estava tentando ao máximo não ficar sozinha com ele, mas ele não tinha o mesmo plano, ele me puxou para um cômodo sem ninguém na primeira chance que teve, e me acurralou na parede mais uma vez, ele queria uma resposta de como seriam as coisas dali para a frente. E eu contei para ele a verdade, não havia nenhum futuro para nós, éramos irmãos e nada de bom poderia acontecer. Ele, ao invés do que pensei que aconteceria, não teve nenhuma relação, ficou sério e não disse mais nada e saiu me deixando sozinha no quarto. Depois daquilo cada um foi para o se caminho, haviam se passado quatro semanas, quatro semanas separados. Mas a situação havia mudado, ou não, a resposta estava em minha bolsa, mas eu estava com muito medo para olhar
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Recall (Cruel Destino #2)
RomanceAo 21 anos Beatriz finalmente conseguiu a tão desejada independência, ela agora morava longe de sua cidade natal, longe de seus pais controladores, e longe de um passado que sempre a perturbava, mas Beatriz não se vê feliz, não como deveria estar. ...