Capítulo 6 | Medos

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Depois de quase três horas de viagem dentro do carro nós finalmente chegamos em nosso destino, minha antiga casa. Não quero ir sair do carro, sei que devo, mas não quero, eu apenas saí daqui, dessa casa dessa cidade cinco anos atrás, porque eu queria me esquecer de tudo o que eu vivi aqui, de tudo o que havia acontecido, e voltar depois de tanto tempo apenas me fez perceber que não consigo me livrar do passado tão fácil assim.

- Bia, você está bem? – Cassio pergunta, percebo que já estamos ali parados a algum tempo, não sei definir quanto, só sei que aquela situação já estava um pouco desconfortável para Cassio e Ruan que estavam espero que eu demonstrasse alguma reação.

Desde quando Ruan me contou da morte do meu pai eu não havia chorado, tudo aquilo foi mais um choque para mim, eu sabia o quão serio era aquilo, eu nunca mais veria meu pai novamente, eu nunca iria ouvir a suas broncas que eu sempre odiei, nunca mais ouviria ele se gabar da vida dos soldados do seu ex pelotão, e de como eles estavam se saindo bem. Mas mesmo sabendo de tudo isso nenhuma lagrima havia caído dos meus olhos, e eu não sabia o por quê. Será que eu não o amava?

Não chorar apenas fez com que eu me odiasse mais ainda, mesmo não querendo admitir o motivo eu sabia exatamente qual era, o motivo que eu não parava de pensar sobre, que ofuscou até mesmo a morte de meu pai, esse motivo se chama Diego. Nos últimos dois dias ele não sai da minha cabeça, só de pensar em reencontra-lo de novo faz com que todo o meu corpo congele. Eu não estava preparada, acho que nunca estarei preparada para revê-lo, não depois de tudo o que passamos, e tudo o que eu passei depois de sua ida

- Sim, estou - digo voltando para a realidade – é só que... É estranho, faz quase cinco anos.

- Eu sei – Ruan diz atrás de mim, ele coloca sua mão em meu ombro, ele é a única pessoa que sabe o que devo estar pensando nesse momento. Quando apenas nós dois passamos no vestibular e tivemos que ir para a faculdade sem a Suzana eu finalmente disse toda a verdade, tudo o que havia acontecido comigo e Diego, como eu não havia me "desapaixonado" por Diego, e como eu e ele tivemos uma relação. Dizer aquilo em voz alta foi estranho, mas ao mesmo tempo foi bom, depois daquilo eu achei que finalmente podia começar de verdade um novo capítulo em minha vida.

- Então a gente pode entrar? Eu to muito apertado – Cassio diz, eu sorrio com a piada, faz dois dias que Cassio vem sendo muito carinhoso comigo, ele também havia perdido a mãe dele que o criou sozinho, ele sabia o que estava sentindo, pelo menos em parte. Tomo coragem e saio do carro, a caminhada até a porta parece mais longa do que eu imaginava, e no caminho tudo o que eu passei ali, os momentos bons e ruins, voltaram como em um flash na minha cabeça. Eu queria sair correndo dali, mas também queria ficar e entrar, eu sabia que tinha que encarar meus demônios, mas também sabia que não seria fácil.

Quando paro em frente a porta escuto Cassio e Ruan atrás de mim pegando as malas que trouxemos, aperto a campainha, o som da música faz com que eu me arrepie, e antes que eu pensasse em tocar mais uma vez a porta finalmente abre, será que era ele? Meu coração dispara, e quando toda a porta se abre eu vejo minha mãe, ela continuava a mesma mulher que eu havia deixado para trás alguns anos atrás, mas a tristeza era totalmente perceptível em seus olhos.

- Filha – ela diz assim que me vê, antes que a responda ela me dá um forte abraço, eu me surpreendo com o abraço, por uns segundos tento me desfazer dele, mas o retribuo assim que minha ficha finalmente caí, sinto o cheiro dela, o mesmo que ela sempre teve, para mim ninguém nunca irá cheira tão bem quanto a minha mãe, quando eu era criança eu a achava a mulher mais bonita do mundo, eu queria ser ela quando crescesse, e eu ainda quero ser. Apesar de todas as nossas desavenças quando eu era adolescente, eu ainda a amava e a admirava tanto quanto quando eu era criança. E todo esse tempo que ficamos sem nos ver pesou nesse exato momento. – Eu senti saudades – ela diz ainda me abraçando, sei o quanto aquela cena podia parecer estranha, mas eu não me importava

- Eu também – digo em fim – Mãe.

{...}

Todo o interior da casa continuava o mesmo, todos os móveis, os quadros, meu quarto, tudo aquilo parecia que ficou parado no tempo, aquilo fez apenas minha memória ficar ainda mais fresca. Depois de apresentar Cassio para minha mãe, como namorado e não como noivo, parecia que ele se deu mais bem com elado que eu, a filha dela. Ruan havia voltado para a casa dele, ele tinha os próprios demônios para encarar, Suzana não só estava noiva como também estava gravida, eu sabia que ver aquilo seria duro para ele, mas não era uma coisa que ele poderia evitar.

A noticia da morte de meu pai chegou tarde em meus ouvidos, já haviam o enterrado à três dias, eu havia chegado tarde demais para poder me despedir dele de verdade, minha mãe me levou para o tumulo dele, ela me deixou sozinha e foi em algum lugar com Cassio, ela sabia que eu precisava de um tempo sozinha. E pela primeira vez em muito tempo eu chorei, eu caí em lagrimas assim que vi o nome de meu pai escrito naquela pedra, eu achei que já havia me conformado com o fato, mas na verdade não havia, ver aquilo fez tudo ficar mais real do que estava, deu percebi o quanto eu fui estúpida em não ter falado com ele nesses anos, eu nunca mais ouviria a voz dele, eu nunca ao menos disse o quanto eu o amava.

Eu achava que fugir seria a melhor opção, mas não era, eu devia encarar meus medos, foi assim que meu pai me criou, ele sempre falava que todo mundo tinha seus medos , e isso não fazia ninguém inferior a ninguém, mas apenas as pessoas fortes os encaravam, e os fracos apenas arrumavam desculpas, fugiam de seus temores. Eu fugi, eu não consigo encara-los cinco anos atrás, mas agora, com a morte de meu pai, esse seria o momento em que finamente seguiria seu conselho, eu irei enfrentar meus medos, não fugirei como fiz no passado.

{...}

Quando me despeço de meu pai no cemitério eu volto andando para minha casa, a cidade continuava a mesma, vê-la depois de tanto tempo fez apenas com que eu me sentisse em casa, no caminho de volta vejo a casa dos pais de Ruan, eu imagino o que ele esta fazendo naquele momento, quero entrar e ver Suzana, nós ainda nos falamos por mensagem ou por telefone ainda, as vezes até por webcam, eu havia me sentindo mal por ter conseguido passar na prova e ela não, mas depois de alguns messes fora e conversando com ela, percebi que ter ficado aqui foi o melhor para ela, Suzana tinha uma aberto uma panificadora, e estava colhendo os lucro disso, ela estava feliz aqui, e isso era o que mais importava.

Sei que não é a hora certa, quero que ela conheça Cassio, e também quero conhecer o noivo dela, nunca imaginei que estaríamos noivas ao mesmo tempo, quando éramos crianças se casar era o sonho dela, para mim o meu sonho era apenas poder ir para a escola e ficar mais tempo com meus amigos, mais muita coisa mudou desde então, mas espero que nossa amizade ainda continue a mesma.

Depois de passar pela casa dela e de Ruan continuo o caminho de volta, ligo para minha mãe e Cassio e digo que voltarei andando e não precisava que eles fossem me buscar, eles estavam em uma feira comprando coisas para que o Cassio pudesse cozinhar o nosso jantar, esse era uma das coisas que eu mais gosto nele e que também o que eu sempre quis em um namorado, alguém que goste de cozinhar.

Quando chego em casa, cansada e suada, eu vou direto para o banho, felizmente a água está quente, depois de uma rápida ducha vou para o meu antigo quarto onde estou dormindo, no momento que saio do banheiro sinto o cheiro de café, minha mãe e Cassio deviam ter chegado, Cassio estava dormindo no quarto de visitas no andar de baixo, apesar de saber que minha mãe já havia presumido que eu não era virgem mais ela ficou mais feliz com isso, passo pelo corredor com uma toalha ao redor do meu corpo e uma em meus cabelos vou em direção ao meu quarto. Quando coloco minha mão na maçaneta escuto um barulho no quarto do lado, o quarto de Diego, só de ver a porta do quarto dele me arrepio. Sei que ele não está aqui, ele ainda não havia chegado de viagem, minha mãe disse que ele apenas chegaria na madrugada.

Entro em meu quarto e fecho a porta, não podia ser ele não mesmo? Mas então que barulho foi aquele? Penso que devia ser Kathy a gata que meu pai havia dado para minha mãe um ano atrás, o que me surpreendeu pois meu pais detesta gato, mas minha mãe ama, ela finalmente deve ter o convencido a adotar um. Enquanto tiro a toalha que enrola meus cabelos escuto mais uma vez um barulho vindo do quarto de Diego, a porta estava fechada, será que Kathy havia se trancado lá dentro? Saio de meu quarto mais uma vez e vou em direção ao de Diego, quando eu o abro Kathy passa por entre minhas pernas e desce as escadas, mas ela não estava sozinha no quarto, eu apenas percebo isso quando escuto meu nome.

- Bia? – eu reconheço a voz imediatamente, como não haveria de reconhecer a voz de meu irmão, a voz de Diego.

Recall (Cruel Destino #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora