Ele observava aquela rua já fazia pelo menos umas três horas. De cima daquele prédio de quatro andares, estava protegido.Alberto já se se acostumara com a rotina em que tinha de viver. Desde que que começara a insurreição de mortos-vivos, não se sentia à vontade naquele novo mundo. Os sobreviventes apareciam cada vez em menor quantidade, e, quando apareciam, geralmente não ficavam por mais de uma semana. Seja porque se transformavam em zumbis ou porque migravam para outras terras à procura de mais sobreviventes ou de algum lugar que não havia sido infestado pela praga.
Mas algo dentro dele lhe dizia que essa busca era em vão. Por isso, sempre ficava por ali. Ele e sua irmã. Sim, Alberto tinha uma irmã. Era responsável por ela e faria de tudo para protegê-la. Fora a última coisa que sua mãe lhe pedira antes que ele lhe cortasse a cabeça. A coitada havia sido mordida e sabia que era só questão de tempo para transforma-se e tentar comer seus dois filhos.
— Eu a protegerei, mamãe.
Tinham sido suas palavras ao executar o golpe que fizera a cabeça de sua mãe rachar ao meio enquanto uma lágrima escorria por seu rosto. Esta era a única forma de matar um zumbi. Destruindo seu cérebro. Não bastava cortar a cabeça. De alguma forma, ela continuava a balbuciar palavras ininteligíveis e só parava quando o golpe era direto na cabeça.
Os sobreviventes tinham descoberto o ponto fraco das criaturas e rapidamente a notícia se espalhara. A proliferação, no entanto, era bem mais rápida. Para cada zumbi morto, apareciam mais três.
Alberto deu sorte em encontrar aquele prédio abandonado. O terceiro andar estava cheio de mantimentos. O porquê, ele não sabia. Mas não iria reclamar. Para ele, o que importava era saber que não teria com o que se preocupar por vários meses. O que era providencial, já que as ruas estavam abarrotadas de zumbis, que iam e vinham erroneamente, sem um destino definido. Pareciam aguardar pacientemente o momento em que ele teria de sair dali.
Mal sabiam eles (se é que zumbis sabem alguma coisa) que esse dia estava chegando. Alberto vigiava há três dias os arredores do prédio. Buscava uma rota que o levasse a duas quadras dali. Precisava ser um caminho em que ele não encontraria muitos problemas. Não seria fácil. Mas teria de ser menos difícil. Procurava uma clareira entre os amontoados de zumbis nas ruas, mas não achava nenhum caminho seguro. De fato, seria suicídio. Ele não poderia deixar que o pegassem. Sua irmã precisava dele. Afinal, era por ela que estava ali.
Ele analisou cada pedaço do chão. Para as distâncias maiores, utilizava um binóculo que encontrara alguns meses antes. Quase o descartara, pois seria mais uma coisa a carregar, mas via como o objeto agora estava sendo útil. A área era predominante comercial. Havia poucas residências. Todas desertas. Nos galpões e nos pequenos prédios ao redor também não se via vida humana, pelo menos ele nunca notara ninguém.
Mas aí já não dava para ter certeza. Poderia haver sobreviventes, pois, quanto mais alto fosse o imóvel, maior era a segurança. Dificilmente os zumbis subiam escadas. Eles se arrastavam por elas, mas não passavam dos primeiros degraus. Foi então que lhe veio a ideia. Ele teria de ir pelo alto. Por cima. Haveria grande chance de sobreviver e chegar a seu destino se fosse pelos telhados dos prédios.
O problema era que não existia nenhum tipo de ligação entre seu prédio e o vizinho. Aquela era uma avenida que devia ter sido bem movimentada no passado. Isso ele sabia, pois o número de veículos parados na rua era grande. Os fios de alta tensão continuavam intactos. Mas nenhum ligava os dois extremos. Os imóveis do lado direito eram mais próximos, porém, ele não via o final da avenida. Usou o binóculo. Foi então que reparou que a avenida terminava em um muro e virava à esquerda.
— Talvez se eu for até o fim da avenida, possa passar pelo muro até o outro lado e de lá seguir em frente.
Mas, de onde estava, não podia enxergar muito, mesmo com o binóculo. Teria de se aproximar. Desceu correndo as escadas até o terceiro andar e encheu sua mochila de mantimentos. Não demoraria, pois sairia apenas para reconhecimento do local. Mas, como ainda era cedo, poderia se aventurar caso não houvesse muitas dificuldades pelo caminho. Pegou também uma machadinha e a segurou firme na mão direita. Havia muito deixara de usar armas de fogo, pois reparara que o barulho acabava atraindo mais zumbis para ele. Eles eram lentos. Se estivesse em um campo aberto, fugiria facilmente. Na cidade, porém, a coisa complicava. A concentração de zumbis era maior. Pensou em se despedir da irmã, mas achou melhor não incomodá-la. Ela sabia para onde ele estava indo.
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Marcas Na Parede
HorrorContos sobrenaturais de suspense e de terror. Este livro não é de minha autoria, vim compartilhar esses contos que gosto com vocês, espero que gostem também.