A Casa Maldita

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Cinco amigos e só um objetivo: desfrutar de um fim de semana no sítio dos pais de um deles. Chegaram no sábado pela manhã e esperavam muito do dia ensolarado, já que a casa possuía piscina e área para churrasco. O grupo era formado por três moças e dois rapazes. Mauro era o dono da casa.

Quando finalmente estavam para cair na piscina e se refrescar após a viagem cansativa, o tempo resolveu mudar repentinamente. O céu tornou-se cinza e repleto de nuvens carregadas, uma garoa fina começou a cair. Decepcionados, os amigos jogaram-se nos sofás da sala, lamentando a má sorte.
Lucia, a mais brincalhona do grupo, perguntou a Mauro se não havia algum jogo para servir de passatempo.

Ele então, se lembrou do velho quarto de bagunças, onde os pais guardavam tranqueiras e antigos brinquedos. Indicou-lhe o caminho e Lucia foi até lá ver o que encontrava.
O quartinho era escuro, possuindo uma única lâmpada fraca para iluminá-lo. Depois de fuçar muito, Lucia achou um jogo esquecido entre os brinquedos. Retornou à sala, contente.

— Olhem o que encontrei!

Ergueu a caixa, deixando o nome do jogo bem à mostra.

A casa maldita? leu Mauro. — Engraçado, não me lembro disso.

— Lembrando ou não é nossa única diversão — avisou Lucia.

O tabuleiro foi colocado sobre o tapete. A jovem distribuiu os dados, as peças e as cartas. Pedro pegou o papel com as instruções, que leu para todos.

— Jogue os dados e ande pelas casas, que possuem os números das cartas. Um por vez e sem trapaças. As cartas devem ser lidas em voz alta. O jogo só termina na última casa.

— Que coisa mais óbvia! — riu Bel.

— Tá legal, eu achei o jogo, eu começo.

Lucia pegou os dados e lançou-os. Sua peça andou duas das treze casas. A carta indicada foi a de número um. Apesar de constar treze casas no tabuleiro, havia quinze cartas. Lucia procurou a carta numa pilha em desordem.

— O jogo começou, mas não é garantia de terminar — leu. — A luz está falha e você não tem para onde correr. Nossa, quanta besteira! 

No mesmo instante, as luzes da casa começaram a piscar.
Ouviu-se o barulho de portas batendo e sendo trancadas, como se alguém girasse a chave e as fechasse. Todos se assustaram, ficando paralisados. A muito custo, Mauro levantou-se e foi verificar a porta da sala. Voltou, pálido.

— Está trancada e a chave sumiu!

Todos olharam para o jogo, amedrontados. Pedro adiantou-se:

— Deve ser coincidência, só isso. Quem... Quem é o próximo?

Lucia entregou os dados a ele que, suando frio, fez sua jogada. Andou sua peça por cinco casas e pegou a carta de número sete:

— A guerra deixa um rastro de cor rubra, que invade a casa como águas de uma cheia.

Neste momento, um pingo de cor rubra caiu sobre o tabuleiro.

Bel gritou, apontando para a porta. Por baixo, uma poça de sangue invadia o local. Pelas paredes, escorria mais sangue. Se não jogassem rapidamente, nadariam em sangue.

Marta pegou os dados e, trêmula, jogou. Andou três casas e ficou com a carta nove, que demorou a achar na pilha em desordem. Enquanto isso, o sangue continuou invadindo o lugar sem medo. Finalmente a jovem encontrou o que buscava:

— O sobrenatural está mais perto do que se possa imaginar.

Imediatamente, o espelho da sala quebrou-se em mil pedaços, num estouro quase ensurdecedor. Cacos voaram por todas a parte e um deles atingiu o rosto de Marta. Gritando de dor, ela pediu para que tirassem aquele jogo de lá. Mauro tentou, mas o tabuleiro parecia estar colado ao tapete. Ofereceu-se, então, para jogar.

Andou nove casas e leu a carta doze.

— Nunca invoque o mal.

Uma forte rajada de vento sacudiu o ambiente, sem ter nenhuma porta ou janela aberta. Mauro foi jogado contra a parede. Lucia gritou, correndo para ajudá-lo. Ele estava bem, só um pouco dolorido e com um corte pequeno na cabeça.

Era a vez de Bel jogar. Ela andou doze casas, aliviada por estar perto do fim.

— O fim está próximo.

Mal acabou de ler sua carta, a cinco, e o lustre despencou bem em cima do tabuleiro. Tudo se tornou escuro; só ouviram um grito de dor e agonia, vindo de Bel.

Silêncio.

Tateando, Lucia retornou para perto da amiga. De repente, o abajur se acendeu e todos viram o corpo de Bel, coberto quase que por completo por queimaduras. Sua respiração era fraca, quase inexistente, e ela só conseguia gemer.

— Continue jogando! — berrou Pedro para Lucia.

Ela precisou retirar o lustre de cima do tabuleiro para prosseguir. Novamente os dados foram jogados. Onze casas. Chegava ao fim do jogo. Rápida, procurou a última carta, a de número quinze:

— A pirocinese será o desfecho. Seus olhos serão apenas chamas.

A carta quinze começou a queimar... Lucia se livrou dela e olhou para o tabuleiro, fazendo com que este pegasse fogo.

— Feche os olhos ou você vai queimar tudo o que olhar! — gritou Pedro, pegando Bel no colo. Mauro, tonto, já conseguira se levantar. — Vamos embora daqui.

Com um chute, ele abriu uma das portas e saiu para o jardim. Marta puxou Lucia e Mauro pelas mãos e também os tirou de lá. O fogo foi se espalhando, ganhando móveis, cortinas, sofás, paredes, teto. Seguro do lado de fora da casa, o grupo correu para o carro. Arriscando tudo, Lucia abriu os olhos. Aliviada, descobriu que o poder a abandonara.

O caseiro do sítio chamou os bombeiros, que não demoraram a aparecer. Os pais de Mauro foram avisados sobre o incêndio quando os jovens chegaram ao hospital.

Nenhum deles sabia explicar o que acontecera. E, quando tentaram, ninguém acreditou neles.

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Não sobrou nada da casa, exceto o jogo A casa maldita, que escapara ileso. Pedro e Lucia foram os únicos que retornaram ao sítio para acompanhar o trabalho dos bombeiros. Os amigos permaneceram no hospital, cuidando de seus ferimentos. O caso mais grave era o de Bel, que corria risco de vida.

Com a caixa do jogo nas mãos, os dois jovens se embrenharam na mata. Pedro levava uma pá. Foi ele quem cavou um buraco fundo na terra fofa, no ponto mais distante que Lucia escolheu. Enfim, o jogo foi enterrado.

— Agora ninguém vai encontrá-lo — disse o rapaz.

Quando se afastaram, a chuva fina e fria voltou a cair. Da terra, o sangue começou a brotar, formando uma poça.

                       
                        Gisele G. Garcia

Marcas Na ParedeOnde histórias criam vida. Descubra agora