Capítulo 5

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N/A: Este capítulo vai ser maior e vai conter cenas de auto-mutilação. Por isso se não se sentem à vontade com isso, passem essa parte.

   Já estava à algum tempo naquela sala de espera horrível, de paredes verde-claro e cadeiras azuis com pessoas à espera de alguém que as possa ajudar. De um lado para o outro, de um lado para o outro, repeti isto vezes sem conta. Estava com tanto medo de a perder. 'Não! Não posso pensar assim'. Ela é forte e vai sobreviver. Ela tem de sobreviver!

   Olhei para o relógio pela milionésima vez e ouvi as portas a abrir mais uma vez. No entanto, agora era diferente, porque o médico veio em direção a mim. Aproximou-se, com aquela expressão em branco, e disse.

   ''Mr.Quinn...''

   ''Sim?''

   ''Mr.Quinn, a sua mãe perdeu uma quantidade excessiva de sangue e não conseguimos controlar o seu estado crítico. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas lamento informá-lo que a sua mãe não sobreviveu.''

   Não conseguia acreditar nas suas palavras. Não podia ser verdade. O que temia mais, aconteceu. A minha mãe...morreu. Cai de joelhos no chão a chorar descontroladamente. Estava-me a lixar para o sítio onde estava e os olhares que as pessoas, provavelmente, me estavam a dar.

   ''Mr.Quinn lamento imenso, mas acho que devia ir para casa descansar,'' Foi a última coisa que o médico me disse antes de virar as costas.

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   Cheguei a casa quase de noite e só esperava que aquele filho da mãe estivesse a apoderecer numa valeta, à beira da estrada. Abri a porta da frente e vi que não estava errado. Lá estava ele, bêbado no sofá da sala. Andei até ele e pus-me à frente da televisão.

   ''O que é que pensas que estás a fazer?'' Disse, chatiado.

   ''Espero que estejas contente, sua amostra de homem. Matas-te a mãe.'' Respondi-lhe em voz baixa.

   Sorriu como se nada fosse e levantou-se. ''O que é que me chamas-te?'' A sua expressão mudou completamente para uma de raiva.

   ''Amostra de homem, traste, sacana. Odeio-te!'' Gritei. Já sabia o que ia acontecer, mas naquele momento pouco me importava,

   Foi então que ele se aproximou de mim e cada passo que dava eu dava um para trás. Quando não podia andar mais, ele levantou a mão e eu só fechei os olhos à espera da colisão. O primeiro impacto com a minha cara foi bastante duro e já conseguia sentir o inchaço no meu maxilar. Tentei lutar com ele, mas antes que pudesse ripostar, pôs-me as mãos na garganta e começou a sufocar-me. Passado um bocado, não conseguia respirar e quando pensava que ia desmaiar, ele largou-me e eu cai no chão a tentar que a minha respiração voltasse ao normal, mas antes que antes que isso acontecesse, começou-me a pontapear. Tentei bloquear os pontapés o melhor que pude, mas acabou por me acertar no peito e todo o ar que me restava, saiu-me dos pulmões. Acabou por parar e quando me ia para levantar e ir até às escadas, vi-o com um sorriso maléfico pelo canto do olho e depois só sinto uma dor agonizante nas costas. Já sabia o que aquilo era. O cinto. Ele quase nunca o usava, mas naquele momento nada o impedia de o usar. A minha mãe nunca o deixava fazê-lo a mim, preferia ser ela a ter aquela dor horrível só para me proteger. Contei 6 vezes. 6 vezes que ele me chicoteou e conseguia sentir o sangue na minha camisola.

   ''Vai para o teu quarto e é bom que não me tentes enfrentar outra vez, ou tu és a seguir.'' Percebi que se estava a referir se à morte da minha mãe,mas ele já me fez tantas ameaças, que nem liguei.

   Com todo o esforço que arranjei, consegui levantar-me. Lágrimas escorriam-me pela cara. 'Odeio ser tão fraco.' Comecei a subir as escadas e quando cheguei ao topo ouvi-o ''Espero que quando saíres desse quarto, sejas homem suficiente.''

   'Odeio-te! Odeio-te! Odeio-te!' Repetia vezes e vezes sem conta na minha cabeça. Cheguei ao meu quarto e logo que entrei fechei e tranquei a porta. Arrastei-me até à cama e não tentei conter mais as lágrimas. Tudo doía, tanto psicologicamente como fisicamente. 'E agora o que vou fazer?' Foi então que me lembrei de uma coisa que já tinha pensado à muito tempo, mas que nunca o fiz por causa da minha mãe. Agora já não havia nada que me fizesse mudar de ideias. Fui até à mesinha de cabeceira e abri uma das gavetas. Remexi as coisas até encontrar aquele pedacinho de metal brilhante. Tinha-a desde os 13, mas nunca a tinha usado...até agora. Voltei para cama, encostei-me à parede, não ligando à dor nas minhas costas e puxei a manga do casaco.

   'Isto é suposto ajudar certo?' pensei. Aproximei a lâmina da minha pele pálida coberta de nódoas negras e exitei por um momento. No entanto, no instante a seguir lembrei-me o quanto as coisas estavam a piorar cada vez mais e o quanto queria acabar com a dor e não desperdicei mais tempo. Deslizei o metal uma vez e senti que não era chegava, que não era fundo o suficiente. Deslizei-a novamente com um pouco mais de força e já se notava o rasto de sangue a aparecer por onde passei. Os primeiros cortes doeram um pouco, mas depois...sabia bem. Passado algum tempo, os meus braços estavam cobertos de sangue. Só via vermelho por todo o lado, até que comecei a sentir-me tonto, a minha visão a ficar destorcida, as minhas pálpebras a pesarem cada vez mais e a fecharem-se.

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