Capítulo 19

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Kellin P.O.V (Na manhã do mesmo dia)

   'Estranho.' Pensei, quando me aproximei do espelho da minha casa-de-banho e vi o sorriso que tinha estampado na cara. Durante todos estes anos nunca pensei que isto acontecesse. A cada dia que passava, perdia cada vez mais a esperança de voltar a sorrir. Os meus pensamentos mais obscuros ainda existiam e estavam para ficar. A morte da minha mãe ainda me perseguia todos os dias e o quão eu sinto a falta dela, ainda tenho pesadelos com o meu pai todas as noites e de certeza que as minhas melhores amigas, lãminas, iam estar sempre no mesmo sítio para que me podessem ajudar a ultrapassar mais um dia. Eu sabia que por mais problemas que tivesse ou mesmo quando toda a gente que pensava preocupar-se comigo desaparecesse, eu sabia que elas não me iam deixar. Não podiam. Sim, naquele momento parecia estar tudo a ir num bom caminho, mas eu sabia que mais tarde ou mais cedo iria acontecer algo de errado, que me iria puxar de volta para o sítio mais obscuro da minha mente.

   Respirei fundo, tentei afastar os maus pensamentos e focar-me nas coisas boas que tinha. Preparei-me para ir para a escola, tomei o pequeno-almoço e quando estava a despedir-me da minha avó, senti o meu telemóvel a vibrar no bolso das minhas calças. Tirei-o e quando vi que era do Vic, sorri que nem um idiota. Perguntava se já estava pronto para irmos para a escola. Como preferia responder-lhe pessoalmente, fui tocar à campainha dos Fuentes. Quando comecei a pensar que tinha sido uma ideia terrível e que provavelmente tinha acordado os pais deles, já não havia volta a dar. Se calhar, estava a precipitar-me um pouco, mas gostava de fazer boas impressões à frente dos pais dos outros, mesmo não tendo, agora, os meus. Quando os meus pensamentos estavam a começar a consumir-me, um pequeno mexicano chamado Vic Fuentes abriu-me a porta com um sorriso. Irónico, como um sorriso dele fazia com que tudo desaparecesse, tal como naqueles romances lamechas.

   "Responde à tua pergunta?" Sorri, envergonhado.

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   "Ok. Até já." O Vic respondeu com sorriso, quando me dirigi à casa-de-banho dos rapazes. Com todo aquele discurso na minha cabeça hoje de manhã esqueci-me de fazer metade do que queria fazer. Entrei, fiz o que tinha a fazer e quando estava a lavar as mãos o meu telemóvel começa a vibrar incessantemente no bolso das minhas calças. Seco as mãos rapidamente e quando vejo quem era só me apetecia gritar ou chorar ou alguma coisa.

    "O que foi outra vez?" Disse, obviamente irritado.

   "Kellin, por favor ouve-me." A pessoa do outro lado implorou.

   "Não, Justin. Estou farto das tuas explicações. O que quer que seja que tenhas para me dizer, não quero saber. Agora pára de me ligar, já me magoaste o suficiente." Disse, com uma voz quebradiça e lágrimas a acumular-se nos meus olhos.

   "Por favor, Kel-..." E desliguei a chamada. Vi as horas e vi que ia chegar atrasado se não me despachasse, por isso passei a cara por água, respirei fundo e fui para a aula.

   "Está tudo bem?" Perguntou o Vic, quando me sentei ao seu lado. Apenas sorri, porque não lhe ia dizer 'Claro, é só que o meu ex-namorado que me traiu com um dos meus melhores amigos anda a ligar-me ultimamente e falei com ele à bocado.' Seria a resposta perfeita realmente. Parece que foi o suficiente, porque não perguntou mais nada durante o resto da aula, o que agradeço bastante.

   Depois da aula acabar e ter ido para a que ia ter a seguir o meu telemóvel não parava de tocar por isso desliguei-o sem ver quem era e deixei-o no cacifo.

   A aula passou e eu tentei bastante não pensar no Justin e o que tinha acontecido na minha última semana em Michigan, mas estava a começar a ser difícil. Apoiei a cabeça na minha mão e olhei para o meu caderno tentando focar-me apenas naquilo e quando pensava que ia dar em doido a campainha tocou. Levantei-me juntamente com o Tony e o Jaime e dirigimo-nos à cantina, mas lembrei-me que tinha o telemóvel no cacifo.

   "Já vos apanho, vou só ao cacifo." Avisei-os antes de virar para o corredor onde era o meu cacifo.

   Cheguei lá, pus a combinação no cadeado e aproveitei para colocar alguns livros antes de tirar o telemóvel. Liguei-o e vi algumas chamadas do Justin e bastantes do Jesse e do Gabe? O que é que se está a passar? Decidi ligar ao Jesse.

   Tocou duas vezes e ele atendeu.

   "Até que enfim meu."

   "Desc-..."

   "Ouve, eu sei que estás magoado e chatiado com o Justin, mas acho que devias saber o que aconteceu." Disse, antes que eu podesse dizer alguma coisa.

   "Diz, anda lá."

   "O teu pai apareceu cá na escola e mandou o Justin para o hospital."

   "O quê? Porquê? Como?" Não conseguia acreditar no que estava a ouvir. Não fazia sentido.

   "Parece que davam dinheiro ao teu pai, por tua causa e a primeira coisa que lhe deve ter aparecido à frente quando foi ao teu quarto à tua procura, foi uma foto tua e do Justin. Eu depois explico-te melhor, mas acho que devias vir cá."

   Estava em estado de choque. Eu sabia o que o meu pai era capaz de me fazer a mim, mas agora a amigos meus? Isso já era ir longe de mais.

   "Kells? Estás aí?"

   "Sim, desculpa. Estava em estado de choque. Vou ver se ainda tenho dinheiro suficiente para ir no próximo voo para aí."

   "Ok. Sentimos todos a tua falta e acho que o Justin ia gostar de te ver quando acordasse." Disse, verdadeiramente e não podia evitar as lágrimas que ameaçavam cair.

   "Também tenho saudades vossas. Vá, vou para casa agora ver o que posso fazer, depois digo-te alguma coisa. Até já."

   "Até já." E com isto desligámos a chamada e eu fui para casa. Só esperava mesmo conseguir ir.

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