Capítulo 12

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N/A: A primeira parte deste capítulo contém cenas de 'self-harming' e não escrevi o "encontro" deles porque não estou nos meus melhores dias ultimamente e ia ficar uma porcaria. Desculpem cuties. Love you all <3

   Medo percorria-me nas veias. Queria gritar até os meus pulmões deixarem de funcionar, mas nada, nem um único som saía da minha boca. Onde estava? Não sabia ao certo. Estava escuro e a única coisa que via era uma luz branca a incidir numa pessoa que não conseguia distinguir bem o seu rosto. Tentei aproximar-me daquele corpo que me olhava, mas que o seu olhar era tão intenso que parecia ver através de mim.

   "Mãe?" Não podia acreditar no que via. Era mesmo ela.

   Tentei correr o mais que pude, mas por mais que tentasse era inútil. Afastava-se cada vez mais. Fiquei sem fôlego e cai de joelhos no que pensava ser o chão. Queria chorar e barafustar, mas mais uma vez, não conseguia.

   De repente, ouvi um riso que nunca mais queria ouvir.

   "Não vales mesmo nada. Olha para ti, estás horrível." Riu-se, novamente. "Patético. Achas que é por teres fugido de mim, que te podes esconder aqui? Sempre foste um obstáculo na minha vida, Kellin."

   Ele tinha razão. Todas as coisas horrivéis que me disse quando me batia até eu não suportar mais eram verdade.

   O riso maléfico parou e quando dei por mim, estava a cair. De onde? Não sei. Descia cada vez mais e parecia nunca parar até que senti as minhas costas a baterem em alguma coisa.

   Acordei inundado no meu próprio suor e o meu coração parecia que me ia saltar do peito.

   "Foi só um sonho, foi só um sonho..." Sussurrava para mim mesmo várias vezes, enquanto abraçava as pernas contra o peito. Não podia evitar as lágrimas que se formavam nos meus olhos.

   Os meus pensamentos estavam sobrecarregados com todo o tipo de coisas com o que me podia magoar. Levantei-me e fui buscar aquele pequeno pedaço de metal, com que me tinha familiarizado naqueles últimos dias.

   Regressei outra vez à cama e olhei para as horas. 4:10, era o que dizia em números grandes. Depois de ver que ainda tinha bastante tempo até ter de 'acordar', foquei-me na lâmina que assentava, levemente, por entre os meus dedos. Tirei a camisola, porque estava encharcada e escolhi o próximo sítio que pudesse servir. Como nos meus braços já não havia espaço, decidi ir para as minhas coxas. Pelo menos aí não era díficil esconder. Puxei as calças do pijama até aos joelhos e comecei. Um por ser inútil, dois por estragar sempre tudo, três, quatro e cinco por ser horrivelmente magro, pálido e tímido, seis por não ser o suficiente para ninguém e muitos mais por todas as razões que me odeio.

   A minha pele estava coberta com sangue e eu não conseguia tirar os meus olhos do que estava a ver. Era hipnotizante e eram momento como este que me distraíam de tudo. Acalmavam-me como o som das ondas, numa praia deserta.

   Eventualmente, tive de me ir limpar. Dirigi-me à casa-de-banho adjacente ao meu quarto, passei por água todos os cortes e meti pensos. Puxei as calças para o sítio devido e preparei-me para passar o resto da noite sem a possibilidade de voltar a adormecer.

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   Mesmo antes do despertador tocar já me tinha levantado, vestido e fiquei só a olhar para o tecto, deitado na cama, com a mente em branco. O barulho incessante que informava que era hora de me levantar, perfurou o silêncio do meu quarto. Desliguei-o rapidamente para não acordar os meus avós, que o mais provável era já estarem acordados. Nunca percebi porque se levantavam tão cedo só para fazer jardinagem, mas não me cabia a mim julgar, por isso...

   O tempo passou lentamente, até que era hora de sair de casa. Olhei-me mais uma vez ao espelho, para ver se conseguia fazer a noite sem dormir, menos evidente na minha cara. Sem resultado positivo, mas estava demasiado cansado para continuar a tentar.

   Disse à minha avó que ia embora rapidamente, para que não perguntasse se tinha comido. Não conseguia simplesmente.

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   O 1° tempo tinha começado a algum tempo e o Vic que estava ao meu lado, decidiu pela primeira vez falar comigo.

   "Hey, Kellin." Chamou-me, num tom de voz baixo, para que o professor (de quem eu ainda não tinha decorado o nome) não ouvisse.

   Virei a cara para ele, como gesto para ele continuar.

   "Estás bem?" Notei que as suas bochechas ficaram um vermelho claro e parecia um pouco nervoso. Adorável.

   "Sim, porquê?" Respondi, com um sorriso muito forçado.

   "Parece que não dormes à semanas."

   "Nota-se assim tanto, huh?" Respondi, com sarcasmo na minha voz.

   "Um bocado..." Riu, timidamente e com ligeiro nervosismo.

   O resto da aulas passou dolorosamente devagar, mas fiquei a conhecer o pouco mais o Jaime e o Tony. Descobri que o Jaime toca baixo e o Tony guitarra e que têm um banda com o Mike, que toca bateria e o Vic, vocalista e também guitarrista. (Como já sabia).

   O Vic e eu combinámos ir dar uma volta depois das aulas, mas o Mike disse que tinham de ir ajudar os pais a fazer uma coisa qualquer em casa. Por isso, quando as aulas acabaram, fomos para casa. Chegámos primeiro à entrada da deles, visto que era a primeira a que chegávamos e o Mike disse um pequeno adeus e entrou, mas o Vic ficou ao pé de mim.

   "Dá-me o teu telemóvel." Disse, extendendo o braço na minha direção.

   "O quê? Para quê?" Perguntei, confuso.

   "Anda lá, já vês." Hesitantemente, tirei o telemóvel do bolso, desbloqueei-o e dei-lho. Pegou-lhe, mexeu nele e entregou-mo outra vez.

   "Vá, tenho de me ir embora. Adeus." Sorriu e foi para dentro de casa.

   Sem ideia do que tinha acabado de acontecer, dirigi-me até casa. Disse aos meus avós que tinha chegado e fui para o quarto. Meti a mochila num canto qualquer, descalcei as minhas TOMS pretas e deitei-me na cama com a cabeça enfiada na almofada.

   Quando estava quase a adormecer, senti o meu telemóvel a vibrar. Achei estranho, porque para além dos meus avós ninguém tinha o meu número. Foi então que me apercebi que o Vic ficou com o meu número.

   Com um bocado de esforço, tirei o telemóvel das minhas skinnies cinzentas e levantei a cabeça para ver o que era. Como suspeitava, era uma mensagem do Vic.

   De: Viktur

     -Hey :)

   Para: Viktur

     -Hey Viktuur xD

   De: Viktur

      -Ahah achei que ias gostar. Olha quando acabar isto, ainda queres fazer alguma coisa?

   Para: Viktur

     -Não me apetece muito sair do quarto, mas se quiseres podemos ver um filme :$

   Assim que enviei a última mensagem não pude evitar corar. Provavelmente assustei-o e ele vai achar que eu sou estúpido e vai-se rir na minha cara. Vi que ele respondeu e nem queria ver a resposta.

   De: Viktur

      -Parece-me bem. Já perguntei à minha mãe e ela deixa :) Depois digo-te alguma coisa quando acabar isto

   Um pequeno sorriso apareceu na minha cara depois de ler a sua resposta. Mal podia esperar por o ver.

All The Way For YouOnde histórias criam vida. Descubra agora