Capítulo 20

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   Estava à procura do dinheiro que tinha sobrado da minha viagem para cá em todo o lado e não o estava a encontrar em lado nenhum. Pensava que o tinha na minha mala onde tinha trazido todas as minhas roupas e afins, mas não estava. Podia-se dizer que não estava propriamente calmo. Procurei em mais alguns sítios e quando parei e olhei em meu redor para poder pensar mais calmamente, lembrei-me do sítio mais óbvio que podia haver. Fui até à porta e baixei-me para apanhar a minha mochila do chão. Abri-a para tirar a minha carteira e lá estava todo o dinheiro que tinha. Eu andava sempre com a minha mochila, era óbvio e nem sequer me tinha passado pela a cabeça com tanta coisa. Suspirei de alivio e comecei a contar tudo o que tinha.
   Dez...vinte...trinta...quarenta...cinquenta e quando estava quase no fim percebi que ainda me faltava bastante dinheiro. Não, não podia acontecer. Meti tudo o que tinha nas mãos em cima da minha cama e sentei-me no chão encostado à mesma, a olhar para a frente. A única vez na minha vida em que sentia que me queriam nalgum lado, não posso e para melhorar ainda mais as coisas a culpa era toda minha de o Justin estar no hospital. Fantástico...Eu sabia que algo de mal ia acontecer, mas porque é que não podia ter sido a mim, sem envolver ninguém. Tinha de arranjar uma maneira de pedir desculpa ao Justin por o ter tratado tão mal, mas tive razão para o fazer certo? Estava a começar a doer-me a cabeça de tanto pensar e só reparei que estava a chorar até a minha avó bater à porta, a perguntar se estava tudo bem.

   Antes que podesse eliminar as marcas de que estava a chorar, ela abriu a porta um pouco, viu-me naquele estado e veio logo para ao pé de mim, só que sentou-se no espaço livre da cama. Eu jurei a mim mesmo que nunca mais ia chorar à frente dela, mas pelos vistos não durou muito tempo essa promessa. Odiava chorar à frente de quem quer que fosse, ou ficavam a olhar para mim como se fosse patético por o fazer ou olhavam para mim com pena que era dos piores para ser sincero, porque eu sabia que era apenas um acto. Não sei porquê à frente da minha avó era diferente, o seu olhar era de partir o coração.

   ''O que se passa querido? Porque já estás em casa?'' Perguntou, preocupada.

   ''O J-justin está-á no h-hospital, por m-minha causa-a e n-não tenho d-dinheiro su-suficiente para-a ir e v-voltar.'' Tentei dizer-lhe entre soluços, mas não sei se saiu alguma coisa percetível.

   "Shhh, a culpa não é tua. Havemos de arranjar uma solução, não te preocupes." Disse, enquanto me abraçava e passava a mão nas minhas costas, tentando acalmar-me. Naquele momento sentia-me novamente nos braços da minha mãe sempre que chegava da escola a chorar porque tinham gozado comigo na escola ou depois de ter sido massacrado pelo homem que deveria ter sido meu pai. Lá me consegui acalmar um pouco e afastei-me um pouco, para conseguir falar como deve ser.

   ''C-como? Eu mal tenho metade do d-dinheiro.'' E só de pensar nisso apetecia-me chorar ainda mais.

   ''De quanto precisas?'' Logo depois daquelas palavras terem saído da sua boca eu abanei logo a cabeça, para negar qualquer tipo de quantia que ela desse.

   ''Não, não vou aceitar dinheiro vosso. Isso era pedir demais.''

   ''Kellin, és o nosso único neto. Tenho a certeza de que o teu avô também vai perceber.'' Disse com um sorriso para me assegurar de que não fazia mal.

   ''Não sei...Já me deixam viver aqui e já é muito, quanto mais pedir-vos dinheiro.''

   ''Eu vou lá para baixo, que o teu avô deve estar a chegar e falo com ele. Até lá pensa na minha oferta. Não te esqueças que fico mais que feliz por te ajudar.'' Tentou convencer-me novamente, mas desta vez eu apenas acenei que sim com a cabeça não querendo dizer a coisa errada.

   Levantou-se e dirigiu-se à porta, deixando-me sozinho com os meus pensamentos. Respirei fundo e fechei os olhos por alguns segundos.

   Não queria nada pedir-lhes o resto do dinheiro, mas que outra opção havia? Eu tinha de conseguir ir e voltar e com o que tenho não chega. Tinha tantas saudades do Jesse e do Jack e mesmo que o Justin me tenha magoado, eu preocupo-me com ele e a culpa de ele estar onde está é toda minha. Devia ter sido mais cuidadoso com o que deixei no meu antigo quarto. Fui tão burro ao ponto de não pensar que eventualmente alguém ia ao meu quarto e de certeza que iam mexer no que eu tinha lá deixado. Estava a ficar tão frustrado comigo próprio. Ugh

   Pensei e pensei em alguma solução que podesse acontecer de um momento para o outro, mas nada. Tirei o telemóvel do bolso, lentamente, para que me podesse preparar mentalmente de que lhe ia dizer que não podia ir para lá, o que nos ia deixar aos dois em baixo, mas tinha de ser feito. Por mais que me custasse e por mais que eu não o quisesse dizer, tinha de ser. Desbloqueei o ecrã e a primeira coisa que vi foi o nome do Vic. Tinha várias mensagens dele e imediatamente senti-me mal, por nem sequer me ter lembrado de lhe dizer alguma coisa. Eu devia tê-lo feito, pois não queria que pensasse que me tinha acontecido alguma coisa como aconteceu à melhor amiga dele. Decidi responder-lhe rapidamente para não se preocupar.

   Enquanto isso ouvi o som da campainha e achei estranho, porque supostamente o meu avô tem as chaves de casa, mas logo percebi de que não era ele. Juntamente com a voz da minha avó, ouvi o Mike. O que estaria ele aqui a fazer? Passado alguns segundos ouvi dois pares de passos a ficarem cada vez mais próximos da porta do meu quarto e só depois de um breve silêncio é que bateram.

   ''Sim?'' Disse, surpreendendo-me com a minha voz rouca.

   ''Podemos entrar?'' Perguntou o Mike, com apenas a cabeça através da porta.

   ''Podemos? Nós?'' Retorqui, confuso de quem poderia ser mais.

   Ele apenas abriu mais a porta, entrou e um tímido Vic apareceu ao pé do vão da porta. Parecia também que tinha estado a chorar um pouco, se olhassem bem para ele.

   ''Claro." Disse, com um pequeno sorriso.

   O Vic aproximou-se e eu levantei-me, visto que ainda estava no mesmo sítio à algum tempo e não estava muito comfortável. Olhámos um para um outro durante uns instantes até que nos abraçamos,como a vida de amobos dependesse disso. Era exatamente o que mais precisava naquele momento. A partir do momento em que estava nos seus braços desfiz-me em lágrimas. Não aguentava mais. Ele abraçava-me cada vez mais forte e sentia-me tão seguro. Ficámos assim durante algum tempo até eu me acalmar ao ponto de conseguir falar calmamente.

   ''Estava tão preocupado contigo.'' Sussurou.

   ''Eu sei. Desculpa.'' Respondi, afastando-me um pouco para olhar para os seus olhos castanhos, onde encontrava paz e a força necessária para me acalmar.

   ''Não te preocupes com isso. O que aconteceu?'' Perguntou, limpando as lágrimas que restavam na minha cara.

   ''Preciso de voltar para casa.'' Disse e o Vic olhou para mim em estado de choque enquanto o Mike tinha um ar confuso.

   Se calhar era melhor explicar, já que não ia a lado nenhum. Ia ser uma longa tarde.

All The Way For YouOnde histórias criam vida. Descubra agora