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A mulher penteava os cabelos tingidos de vermelho recém-lavados e encontrou mais um fio branco em meio a tantos encarnados e o arrancou dali imediatamente fazendo uma careta. Nunca gostou dos fios que cresciam de forma insistente e isso a fazia gastar mais do que o necessário para colorir o cabelo. Devia aquela deformidade a sua genética.

Seu estomago começou a reclamar pela falta de comida, mas ela não podia se dar ao luxo de comer mais que o necessário. O desfile estava próximo e não queria ser substituída por ter aumentado alguns quilos, contentou-se apenas com um copo de água e deitou-se para descansar as olheiras formadas pelo cansaço e falta de sono, nada que uma maquiagem bem feita não resolvesse no dia seguinte, no entanto, ela reconhecia o quanto precisava de descanso.

Só uma noite longe de flashes, provas de roupas, só uma noite sem Simon no seu pé dizendo o quanto ela estava errada em querer se casar com o garçom. Mas o que ela podia fazer? Ela o amava e números não importam quando o amor é reciproco. Pelo menos não para Melinda Lewis.

No dia seguinte acordou cedo, ciente de que todos a esperavam para mais uma manhã de trocas de roupas. Gostava do seu trabalho, mas não gostava das noites de sono que perdia para agradar aos outros com a sua imagem.

Melinda tomou um copo de leite, pegou os seus pertences, um casaco e saiu em busca de um táxi. Já na agencia, foi direto ao encontro de David Howard, mas o encontrou quando seus dedos finos iam de encontro ao botão de numero 27 no elevador.

- Ia me ver, Lewis? - David segurou a porta do elevador para impedir que a mesma se fechasse.

- Sim, eu preciso saber sobre a reun...

- Ah, sobre isso... - Ele a interrompeu. - Não precisa gastar seu precioso tempo e cansar as suas belas pernas. - Olhou para as pernas da modelo que estavam cobertas ate um pouco a cima do joelho por botas de camurça preta.

- Tem alguma coisa interessante ai embaixo, Howard? - Melinda perguntou.

- Não seja atrevida, sou eu que pago o seu salário.

- Que não é lá grande coisa!

- Bem, voltando ao que interessa. - Entrou de vez no elevador e apertou o botão do seu andar. - Não precisa mais ir, já resolvi tudo. Você só precisa se arrumar, cobrir essas olheiras horríveis e ir para o ultimo ensaio às 17 horas.

- Só isso? - Melinda virou-se para o espelho do elevador e encarou a pele escura a baixo de seus olhos.

- Nada tão importante, não é mesmo?

Melinda não disse nada mais. O grande empresário da moda David Howard estava apenas fazendo o seu trabalho: vender a imagem alheia. E era com isso que a mulher pagava suas contas todos os meses.

Melinda estava a quase duas horas provando roupas e fazendo ajustes nas que se faziam necessário.

- Acho esse vestido muito bonito! - Uma das ajudantes de Klaus, o estilista, disse. - Incrível!

- Realmente... - Melinda respondeu olhando-se nos espelho.

Era um vestido branco de tecido tão fino e confortável que a impressão era de se estar usando nuvens, algumas perolas minúsculas enriqueciam os detalhes e quase não se via costura nenhuma, tamanha tivera sido a dedicação posta na fabricação daquela bela peça. Melinda já tinha provado o mesmo vestido antes dos ajustes e outras pessoas já haviam comentado sobre as novas peças da coleção.

- Ele fará parte desta coleção, Klaus? - A ajudante perguntou.

- Claro que sim! - Respondeu. - Ele ira dançar no corpo da minha bela Melinda ao sabor do vento na próxima sessão de fotos.

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