Madeline

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            Três da madrugada.

Ruas vazias, pessoas vazias dentro de suas casas vazias com seus cérebros vazios.

Olho do alto do prédio onde moro no centro da cidade, as cortinas do meu quarto balançam, me pergunto se eu me jogar lá de cima qual a probabilidade de morrer. Menos doloroso do que viver nisso aqui. De longe é possível avistar um prédio cinza que se ergue no meio da cidade, aquele prédio, aquele maldito prédio.

Meu estomago revira só de pensar nas pessoas que residem nele, o nojo é inevitável, meu pai sempre me contou histórias do antigo mundo que hoje ninguém ao menos se importa ou ousa falar sobre, aquele mundo deve ser deixado para trás, é como eles dizem "O velho mundo deve permanecer no passado, para que nossa era, nosso novo mundo triunfe, seja glorioso e poderoso". Irônico falarem isso para uma Refugo – Pessoas sem importâncias nessa sociedade.

Meus pensamentos são interrompidos por algum barulho vindo do final da rua, eu poderia ignorar e achar que são os vigilantes que fazem varreduras pelas ruas todas as noites, mas esse barulho era diferente, e se aproximava, logo me dou conta que na verdade o barulho vem do meu prédio, são portas batendo, gritos. Olho para a rua na esperança de ter alguma evidência de que são apenas os vigilantes, até que uma explosão me faz pular e sair do lugar onde estou indo para o quarto do meu pai.

Um homem se joga na minha frente antes mesmo de chegar a porta do quarto, então percebo que é o mesmo quem eu procurava, meu pai, ele está soando, uma mancha vermelha em sua camisa branca social me assusta, ele parece atordoado, e me perco, mas suas palavras me fazem voltar a realidade entre os barulhos e gritos vindo do andar de baixo, ele grita com clareza para que eu possa ouvir dessa vez.

— Você precisa sair daqui! Agora Madeline! Esta me ouvindo?

— Agora? Pai o que...o que é isso? O que está acontecendo? - são as únicas palavras que consigo pronunciar.

— ME OUÇA MADELINE, ELES VIERAM TE BUSCAR, SAIA DAQUI OU VÃO MATAR TODOS, INCLUSIVE EU.

Mais uma vez seus gritos me assustam, até que me dou conta que a mancha vermelha é sangue. Eles sabem de tudo. Eles sabem quem eu sou e vieram atrás de mim.

ELES SABEM DE TUDO O QUE VOCÊ FEZ, ELES SABEM QUEM VOCÊ É, SAIA! VÁ EMBORA, ELES ESTÃO CHEGANDO.

Pai...eu sinto muito eu e o Peter... Fui eu, eu estou tão cansada, eu achei que aquilo fosse abrir os olhos das pessoas.

— E agora você vai perecer por todos eles Mad. Você precisa fugir meu amor, olha... – ele diz com dificuldade. Meu pai, um homem forte não se parecia nada com a figura do homem na minha frente, ferido, que agora coloca uma mão nos meus ombros e com a outra mão pressiona o seu ferimento. – Corra para o mais longe que conseguir Madeline, eu sempre soube que você era diferente, você é especial, agora precisa se salvar está me ouvindo? Saia pelas escadas da lateral do prédio, se eles chegarem até aqui eu darei um jeito, por favor vá...

Ele me olha com um olhar cansado e então eu entendo o que ele quer dizer. Você não pode fugir para sempre, mas agora você precisa tentar. Faço o que ele diz, dou um abraço no meu tão amado pai e corro para os fundos me agarrando as escadas que antes eram usadas para incêndios e agora para minha fuga. Desço às pressas pulando os degraus, enquanto lá dentro mais barulho, mais gritos, meu coração acelera, a adrenalina corre pelo meu corpo e o terror vem de bônus. Digo a mim que se eu correr o mais rápido que eu conseguir, talvez eu consiga sair daqui.

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