Delinquentes

Austin

5 minutos até a comida esfriar.

10 minutos até virem tirar a tigela de ferro.

4 horas até a próxima sessão de testes.

8 horas até a hora de dormir.

15 dias desde que cheguei aqui.

Eu nunca fui fã de números, mas desde que cheguei ao Nihil eles são algo que me apego para manter a sanidade.

A porta abre antes do previsto, acredito que vou ver a face do soldado de sempre, mas ao invés disso aqui está uma mulher loira. Se não estou ruim de chute ela deve ter cerca de uns quarenta anos.

- Você não comeu. De novo. - Ela parece desapontada.

Com o pé empurra a tigela para um canto do pequeno quarto que ocupo nesse grande conglomerado.

Continuo de pé encostado na parede.

- Você vai morrer se não comer.

Isso é alguma espécie de piada? Eles estão me matando dia após dia com torturas e testes que incluem injeções dolorosas. Não só a mim. Os gritos aqui são constantes.

Eles estão me matando e estão preocupados que eu vá me matar por não comer uma droga de ração?

- Só estou facilitando o trabalho de vocês. - Resolvo desfazer meu silêncio. - Estar saudável é colaborar com o Domain, e eu prefiro a morte a colaborar com isso outra vez.

A mulher sorri, como se achasse graça de mim.

- Se os quisessem morto já estaria morto. - Garante.

Não, eles não me querem morto, por enquanto. É por isso que eles me alimentam por sonda antes de cada teste, para eu me fortalecer, mas sei que não é suficiente, que a ração tem todas as proteínas e nutrientes que preciso.

Sem ela eu estou me levando para a morte.

- Não queremos ninguém morto, se pessoas morrem é porque são fracas. - A mulher loira diz.

Eu penso em Angie. Penso nela todos os dias, e raramente consigo ser esperançoso. Sei que ela é forte, ela provou isso em seu olhar sempre, até quando foi presa, mas isso tudo poderia ser demais para ela.

- Minha irmã está viva? - Pergunto.

Eu faço essa pergunta todos os dias, pelo menos duas vezes por dia. Nunca ninguém me responde.

- Ela tem uma genética como a sua, compartilham a mesma força.

Isso é um sim?

- O que quer de mim? Por que está aqui?

Eu não sou estúpido. Nenhum médico fala comigo a não ser antes de me causar dor, só guardas entraram nesse quarto até hoje. Ela quer que eu coma, mas precisa ter um porquê.

- Seus testes são os melhores em muito tempo, nossas pesquisas podem estar em um caminho melhor. Mas testes funcionam em organismos saudáveis.

Então eu sou o garoto de ouro do Domain agora? Eu não vou sair daqui, talvez eu morra aqui, então eu quero poder usar algo a meu favor enquanto ainda posso.

- Eu como. - Ando até a doutora e paro em sua frente. - Depois que eu ver minha irmã.

- Isso não é uma negociação.

- Agora é.

Ela não fala mais nada, me dá as costas e deixa o quarto sem me dar uma resposta. Preciso ver Angie. Essa pode ser minha única chance.