- Acima de tudo, Desconfie...
O sinal tocou.
Pandora acordou com o rosto amaçado contra o caderno que estava um pouco babado. Enquanto despertava, percebeu que Trina estava rindo enquanto tirava fotos suas dormindo.
- Pare de graça, Trina! - Disse Pandora, colocando a mão na frente da câmera do celular.
- Você fica muita fofa dormindo e babando!!! - Trina respondeu rindo alto.
- Já chega! - Ela se levantou e pegou alguns cadernos que iria guardar no armário e uns que deixaria na bolsa - cadernos de desenhos - por precausão.
Após deixarem tudo em ordem, ambas desceram as escadas e foram ao refeitório. Não sabiam qual seria a merenda que seria servida, mas, provavelmente seria alguma gororoba não muito boa.
- Sopa? - Pandora detestava sopas, só comia as que a mãe fazia.
- Está frio. - Trina argumentou.
- Está sempre frio! - Ao dizer isso saiu da fila. - Vou comprar pão de queijo.
- Certo! Mas, eu vou comer então espere.- Okay.
Sentaram-se em uma mesa qualquer e ela ficou quieta apenas observando Trina revirar aquela sopa nojenta. O refeitório estava repleto de sons de talheres batendo em pratos de vidro, cadeiras arrastando, risos e conversas paralélas. Tudo naquela mesma rotina maçante, nada diferente ou nada melhor, do ponto de vista da Pandora tudo sempre pareceu possível piorar. Minha vida é uma merda, ela pensava. Resolveu esperar a amiga terminar de comer ouvindo algumas músicas e seu gosto era bastante peculiar, apesar de se considerar rockeira ouvia bastante de eletrônica. Dizia que tudo dependia do humor, dos pensamentos, das pessoas, do clima. Hoje o dia merecia Don't Cry do Guns N' Roses.
- Vou escovar o dente. - A amiga a tirou de seu transe.
- Claro. Eu só quero pão de queijo.
Trina riu e saiu apressada com sua bolsa para o banheiro. Pandora aproveitou para separar R$2,00 que, por algum milagre, ainda tinha na carteira. Ela se levantou e quando empurrou a cadeira sua visão ficou turva e escura, ela perdeu o equilíbrio e precisou se apoiar na mesa e deixou o dinheiro cair. Nesse momento, uma garota se aproximou.
- Tá tudo bem? - A garota era baixa, tinha cabelos castanhos longos e ondulados, um rosto pequeno e sua expressão era de leve preocupação.
- Sim, estou bem, Karine. Foi só uma tontura, eu penas devo ter levantado rápido de mais. - Pandora respondeu, já melhor.
- Eu tenho remédio pra dor de cabeça, você quer?
- Não acho que eu precise, obrigada.
- Certo. - Karine se abaixou e pegou o dinheiro. - Dois reais?
- É, valeu! - Ela disse sorrindo. - Eu preciso ir, tá? Tô com fome.
- Não come sopa, nojenta? - perguntou rindo.
- Você sabe que não! Tchau! - Pandora acenou para a garota e saiu apressada e encontrou Trina esperando encostada ao lado da escada.
- Onde você estava? Você sabe que eu não demoro muito no banheiro! - Trina parecia estranhamente irritada.
- Relaxa.... - Pandora não sabia exatamente o que dizer, ultimamente a amiga facilmente perdia a paciência, mas, logo parecia que nada seria capaz de irrita-lá. Então, Trina sorriu e disse com simpatia:
- Vamos logo, você deve estar com fome.
Elas sairam da escola e seguiram até uma padaria próxima onde vendiam excelentes pães de queijo, depois passaram o resto do almoço na biblioteca da escola onde Trina fingia fazer alguma pesquisa na internet e Pandora caçava algum livro interessante. Ambas sairam de lá com as mãos abanando assim que o sinal tocou. Voltaram para a sala e por sorte foram dispensadas mais cedo pois o professor das próximas aulas estava de licensa.
- Vou avisar minha mãe que nós saimos mais cedo, mas, que vamos tomar café. - disse Pandora já pegando o celular.
- Capuccino. - Trina a corrigiu.
Ela fez uma careta para a amiga enquanto esperava a mãe atender.
- Alô? Está tudo bem, Pando? Por que não está em aula?
- Oi, mãe. Tá tudo bem eu só liguei pra avisar que saimos mais cedo hoje e que eu queria...
- O que?? Fala direito comigo no telefone, menina!
- Aff ... - Bufou - Saimos mais cedo, posso ir tomar café com a Trina?
- CAPUCCINO! - Trina a corrigiu novamente.
- Desculpa, filha, mas, preciso que você volte logo pra casa aproveitando que saiu mais cedo. Por favor.
- Tá certo, mãe. Até logo. Beijos.
- Beijos.
Ela desligou e olhou para a amiga.
- Adivinha?- Humm.... Não? - A garota respondeu com uma expressão de dúvida no rosto, mas, já sabia que a resposta era essa assim que Pandora asentiu com a cabeça. - Tem algum imprevisto ou alguma emergência pra hoje?
- Sinceramente? Eu não sei. Mas já vou indo, daqui à pouco tem um ônibus que para perto de casa. Falou!
Trina apenas acenou de volta, estava com um ar de desanimo e Pandora sentiu que talvez não fosse apenas pelo fato de que o plano de tomar café ou capuccino tenha falhado.
Ela seguiu até um ponto não muito distante da escola e no caminho sentiu uma forte pontada de dor na cabeça e uma leve tontura, mas, dessa vez sua visão não escureceu, ficou apenas embaçada e logo tudo voltou ao normal. Porém, a todo momento ela tinha a impressão de estar sendo observada pelas sombras ou de que sussurravam seu nome.Pan.....do.....ra....
E foi assim até o ônibus chegar. Ela se acomodou no penúltimo banco quase no fundo do veículo, colocou os fones e encostou a cabeça na janela. Observava tudo que passava.
Asfalto.
Lojas.
Asfalto.
Casas.
Asfalto.
Logo, árvores.
Árvores e mais árvores.
Logo chegarei em casa, ela pensava. O ponto onde desceria não estava longe, apenas passaria por uma pequena fazenda onde sempre haviam ovelhas no pasto, porém, dessa vez as árvores pareciam varridas pelo vento de uma maneira assustadora e Pandora teve a impressão de que emitiam sons de agônia.
Em um piscar de seus olhos, era tudo uma ilusão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lobos de Cinzas
FantasyOs dias eram frios, mas, o Sol sempre brilhava sobre a vasta floresta ao leste, onde viviam animais peculiares. Bem próxima à floresta, por assim dizer, bem ao lado, morava uma adolescente curiosa chamada Pandora, vivia com sua mãe que se agarrava a...