Cinderela... Só que Nem Sempre

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Aaron foi o primeiro a acabar o almoço. Ele saiu da mesa sem dizer uma palavra com ninguém.

— Ele parece mais nervoso hoje — Minha mãe comenta tomando um pouco de seu vinho.

— Quando ele não parece, querida? — Robert diz com bom humor.

— Acho que algo na empresa dele deve não estar indo muito bem... — Eden comenta.

— Ele tem uma empresa? — Pergunto complexa.

— Sim, GET7 — Quando ele diz eu pareço um peixe sem vida. GET7 é a empresa mais famosa número um de roupas. É como se estivessem me dizendo que sou apenas uma estudante do ensino médio trocando farpas com um trilionário! Eu tenho cara de ser a empregada!

— Na verdade, esse vestido é o último desenho dele. Ainda não foram para as lojas — Robert diz.

— Talvez seja por isso dele estar irritado — Mamãe questiona.

— Impossível, desde que mamãe disse que iria vir se apresentar como família, ele disse que desenharia uma roupa especial para a nova integrante — Eden toma um pouco de seu suco e se levanta. — Vou para o meu quarto agora, queridos. Aproveitem o resto do almoço. — E se vai.

Então esse vestido foi criado pensando em mim...?

— Não acredite em tudo que ele fala, querida. Eden, é o mais extrovertido e divertido, mas é o mais mentiroso. — Robert alerta.

— Ela deve estar cansada agora, querido. — Mamãe o beija.

— Mostre a ela seu novo quarto, querida.

Novo quarto?

Ela se levanta e vem em minha direção.

— Vamos, querida. — Me levanto e a sigo. Subimos uma escada e percebo que é um corredor com portas totalmente idênticas. Mamãe para em uma e a abre, vejo um quarto enorme com cores claras. Era tão lindo que pensei estar sonhando, mas logo acordei.

— Mãe, o que diabos está acontecendo? Quem são eles? Como os conheceu? Você vai se casar com ele? Eu vou mudar de escola? Eu— Ela me interrompe.

— Eles são a família Sullivan. Eu os conheci porque trabalhei muitos anos aqui como empregada. Eu já me casei e nós já nos mudamos para cá então obviamente você vai mudar de escola — Ela responde categoricamente.

— Como assim você já se casou?!

— Já estava tudo preparado, hoje seria apenas um almoço para você os conhecer. Por ele ser alguém bem conhecido não poderíamos ter um casamento grande, a mídia poderia começar a fazer fofocas demais.

— Eu já não a reconheço mais... — Digo profundamente triste — Ele será um bom pai? Igual o meu foi? — Retorno com a pergunta irônica.

— Sim, querida — Ela responde por fim — Irei ficar com ele, fique a vontade na nossa nova casa.

— Mas e minhas roupas? E a Chloe?

— Tem novas roupas no seu closet... E acredito que você pode adquirir novos amigos também. — Ela sai me deixando sozinha. Abro o closet vendo apenas roupas bonitas e de marca, lágrimas caem do meu rosto. Eu não conheço mais essa mulher que eu chamo de mãe. Queria ver a Chloe agora. Mamãe fala como se eu fosse capaz de substituir as pessoas facilmente, mas eu não consigo!

Passo a tarde olhando pela janela, é um jardim maravilhoso, mas mesmo que eu pense assim, minha cabeça está tão longe que não consigo descrever.

Saio de meu mundo paralelo quando batem na porta, é um dos mordomos.

— Querida, seus pais saíram para jantar, Eden foi para a casa de um de seus amigos e Aaron está trancado em seu quarto, então a trouxe seu jantar. — Ele entra e deixa em cima de uma mesinha.

— Muito obrigada. Sabe quando eles voltarão?

— Não, senhorita.

— Ai credo, não me chame de senhorita, parece que pertenço a esse lugar... — Ele me olha confuso — Na-na-mi! Se não me chamar assim vou te ignorar! — Ele sorri.

— Sim, senho— Ele se corrige — Nanami. — E se vai.

Janto e procuro alguma roupa um pouco mais normal para dormir e vou tomar banho. Decido levar os pratos para a cozinha. Eu os deixo lá e subo as escadas novamente, fico confusa com qual porta entrar, já que o corredor é totalmente igual. Até que abro uma porta e vejo Aaron somente com uma toalha em seu quadril.

— D-DESCULPE! — Grito e fecho a porta com tudo. Que visão foi aquela? Tão lindo que fez minhas pernas tremerem. Mas o que tem de extremamente maravilhoso, tem de grosseria. Então me lembro. Abro a porta de novo e ele está no mesmo lugar ainda em pé. — Obrigada pelo vestido.

— Você não tem vergonha? — Ele pergunta.

— Você não tem educação? Apenas um "de nada" bastaria — Rebato.

— Eu até tentaria ser simpático com você, mas você está me assediando com os olhos, invasão de privacidade. Ah, já entendi, gostou da visão — Ele lança um sorriso de canto, que mexe comigo completamente — Quer ver mais? — Ele ameaça tirar a toalha de seu quadril. Fico totalmente vermelha.

—  I-IDIOTA! — Fecho a porta com tudo e entro no quarto ao lado, onde provavelmente era o meu.

— O que há de errado com essa gente? — Pergunto para mim mesma. Me jogo na cama, completamente macia, sinto como se estivesse dormindo nas nuvens. Sinto falta de Chloe. Não importa o quão lindo seja o quarto ou o quão gostosa é a comida, eu ainda me sinto vazia, morando com pessoas que eu não conheço, morando com uma mãe que eu não conheço... Sinto como se eu não pertencesse aqui... Então... Onde eu pertenço?

Caio no sono.