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  Sinto que estou correndo e fugindo de um caos que já me alcançou e me enlaçou; Mesmo quando não se faz claro; Mesmo quando não arde; Mesmo se as coisas vão bem e eu consigo aguentar, ficar bem, até mesmo esquecê-lo por algum momento.
  Mas então ele grita por atenção. Eu consigo, eu venho conseguido calá-lo e creio que tenho capacidade para continuar silenciando-o. Mas às vezes leva tempo. Às vezes eu tento entender alguma palavra em meio aos gritos por atenção, alguma explicação, algum sentido. Às vezes eu me atento, sinto, deixo que me inunde por um tempo, porque sei que agora tenho controle para adormecê-lo quando quiser.
  Tento entender; O vazio que se aloja do lado esquerdo do meu peito; Grande; Tão grande e tão real que me pergunto se alguma vez, quando as pessoas olham pra mim, conseguem ver pelo outro lado desse buraco.
  Qual é o nome desse vazio?
  Eu pergunto, e nada. Só eco, só dor, dor como resposta à minha própria dor. Minhas perguntas em resposta às minhas próprias perguntas.
Eu choro e me sinto mal. Claro, as coisas são diferentes. Consigo olhar pra isso com consciência, consigo não deixar tudo tomar conta de mim e me inundar.
Apenas me pergunto se um dia vai cessar. Parar, de verdade; Não com esses intervalos ridículos, não nesses picos inconstantes, eu não quero mais mandá-lo ficar quieto em um canto. Quero mandá-lo embora.
  Quando se encontra um ladrão dentro de casa não deixamos ele ali, amordaçado, amarrado em um canto pra sempre. O colocamos para fora, o prendemos, fazemos qualquer coisa para que nunca mais voltemos a vê-lo ali.
A questão que não me deixa, é:
Por quê ele ainda não foi embora?

Entulhos de (Des)pedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora