Como eu me meti nessa roubada -Degustação

2-Eu tenho um segredo

Tenho um segredo.Você pode mantê-lo?Jura que esse você vai guardar. Melhor trancá-lo em seu bolso, levando isso para a sepultura.Se eu lhe mostrar, então eu sei que você não vai dizer o que eu disse. Porque duas pessoas só podem guardar um segredo se uma delas estiver morta.

Secret (traduzido) -The Pierces

1 ano depois....

[Gabriela]

Não é que parou de doer, o que acontece é que a dor foi diminuindo com o passar do tempo. Mas não irei negar, ainda dói.

Papai foi o que mais sentiu com a morte da mamãe. Ele não é mais o mesmo homem saudável e ativo que já fora um dia. Hoje resta apenas a casca de um pai e marido que ele tanto se orgulhava de ser.

A água ferve no fogo enquanto eu coloco o pó de café no coador. Olho para o relógio na parede da cozinha e já são oito e cinco da manhã. Estranho o fato de meu pai ainda não ter aparecido para tomar o café da manhã, antes de sair para trabalhar.

Coloco o café para passar e vou até a geladeira tirar alguns frios, colocando tudo sobre​ a mesa perto do saco de pães que eu havia acabado de buscar na padaria do seu José, que ficava na esquina da nossa rua.

Olho mais uma vez para o aparelho que fazia um tique-taque nervoso e fitei o corredor receosa. Ele ainda não havia aparecido, será que ainda estava dormindo? Ele iria se atrasar para seu turno que tinha início às nove horas.

Com passos certeiros porém cautelosos, deixo a cozinha e sigo pelo piso de cerâmica verde com flores brancas do corredor e paro em frente a porta de seu quarto.

-Pai? -o chamo dando duas batidas na madeira polida.

Não ouvindo uma resposta, bato novamente e pouso minha mão na maçaneta girando-a em logo seguida.

Me aproximo de sua cama e o vejo ainda dormindo. Seu rádio-relógio está tocando, um claro sinal de que ele não estava ouvindo o barulho persistente do objeto. 

-Papai, acorda. -sacudi seu braço no intuito de desperta-lo do sono pesado, porém ele não se move um único centímetro sequer.

Tentei acorda-lo por vário minutos até que percebi que algo estava errado. Seu peito subia e descia em um ritmo estranho, lento e com certa dificuldade. Coloquei dois dedos em seu pescoço e constatei  que sua pulsação estava fraca.

Então uma agonia se apoderou de mim e eu congelei em pânico. Contudo, voltando a realidade e gravidade da situação, disparei a correr de volta para a cozinha.

Estava tão nervosa e com as mãos tremendo que ao passar pela mesa acabei esbarrado na garrafa de café que estava meio aberta e acabou entornando o líquido em minha calça. Senti o ardor percorrer minha coxa mas ignorei a dor, eu tinha que alcançar meu celular que estava sobre balcão.

A partir daí foi tudo um borrão. Não me lembro exatamente como eu liguei para emergência, nem como consegui forças para explicar o que estava acontecendo, e muito menos como meus pés se moveram até a porta da sala para abrir para os paramédicos.