Prólogo

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"Partiu
Meu coração em dois
Quando um de nós dois sumiu
O cheiro nos lençóis
O Brilho do olhar que se apagou
Caminho dos sonhos se extinguiu"

Está Escrito -Dado Dolabella




Um ano atrás....


-Me promete uma coisa, João. -ela disse com a voz fraca.

João segurou a mão pálida e trêmula da mulher que estava deitada no leito do hospital público com fios e tubos espalhados por seu corpo frágil.

-O que, meu amor? -perguntou João afagando os finos dedos frios da esposa.

-V-você... tem que me prometer primeiro. Diga que vai cumprir, eu preciso, eu preciso saber para que eu possa ir em paz. -a mulher insistiu com a voz rouca, porém firme.

-Não diga isso, querida. Você vai ficar bem, vai melhorar e então vamos poder voltar para casa. -ele sacudiu a cabeça em negação.

-Me escute, João. Você sabe que isso não vai acontecer. Esse.... câncer não vai regredir. Eu vou morrer! -ela fechou os olhos para não ver as lágrimas do marido escorrendo pela face enrugada pelo tempo do mesmo. 

-Por favor, amor. -ela abriu os olhos novamente. -Eu não tenho muito tempo, eu posso morrer amanhã mesmo. Então, diz para mim, você promete?

-Tudo bem, amor, sabe que eu faço qualquer coisa por você, porque eu te amo. Então... -ele engoliu em seco. -eu prometo, prometo qualquer coisa Eloá. -entrelaçou os dedos de ambas as mãos.

-Você tem que contar a ela. -disse olhando fixamente nos olhos dele.

-Como? -perguntou sem entender.

-Você... tem que contar a verdade, para Gabriela. -ela complementou sentindo as escassas forças que lhe restava se esgotando a cada minuto, durante a turbulenta conversa com o amor de uma vida inteira, seu marido.

-O que? Não, Eloá! Você não pode estar falando sério. -ele soltou a mão da mulher e começou a andar de um lado para o outro no apertado quarto hospitalar em que a esposa estava internada.

-Escute, João. Você me prometeu! -ela insistiu.

-Mas não sobre isso. Não, não, não. Eu não vou fazer isso, não mesmo! -João irritou-se com o rumo que a discussão estava tomando.

Seu intuito ao chegar no hospital, era passar a tarde ao lado da mulher, ouvindo sua respiração quando caísse no sono e conversar quando estivesse acordada, coisa que ultimamente estava se tornando mais rara.

O câncer no pulmão deixava Eloá cada vez mais exausta, magra e debilitada. Ela já não era mais uma jovem para suportar o tratamento agressivo contra a doença, e o estado avançado em que foi descoberto o tumor, era avançado demais, tarde demais para reverter a doença.

Eloá estava morrendo, lentamente, mas estava. Agora só bastava saber quando de fato, isso chegaria a acontecer. Era uma corrida contra o tempo. Só que João não queria... acreditar nisso.

-Ela merece saber a verdade! -a voz da esposa o trouxe de volta a realidade.  

-Não! Ela é a nossa filha, entendeu? E ninguém vai mudar isso. Eu não vou permitir, Eloá. -João já estava sentindo as pernas pesarem de cansaço de tanto que vagueava nos poucos metros quadrados disponíveis ali.

-Sente-se aqui, amor. -ela pediu branda.

Depois de uma luta interna acabou cedendo ao pedido da mulher.

-Eu não disse e nem quero nada disso também. Eu só quero que ela saiba a verdade. Ela precisa, ela deve saber. -sua voz suave fez um pouco da raiva do homem diminuir.

-É que... é que eu tenho medo, Eloá. Medo de perde-la. E-ela, e-ela... -ele começou a gaguejar nervoso sem saber como concluir a frase, enquanto espessas gostas salgadas rolavam por seu rosto e caíam sobre o lençol puído que forrava o precário leito hospitalar.

-Tudo bem, querido. Tudo bem. -ela afagou a mão do marido em consolo.

Suas alianças brilhavam sobre a luz parca do ambiente, um sorriso frágil se formou no rosto de Eloá ao perceber tal fato.

-Eu te amo. -ela disse.

-Eu te amo mais. -respondeu encostando a cabeça no peito dela e chorou, com soluços audíveis, altos, dolorosos, até cair no sono.

Eloá ficou passando os dedos pelos fios de cabelo do marido adormecido, sua respiração já estava irregular, seu peito parecia pesar uma tonelada. Espasmos de dor se espalhavam por sua caixa torácica, mas ela não reclamou, continuou a fazer carinho na cabeça branca a sua frente.

Enquanto isso, alguém espiava a cena do lado de fora através da fresta da porta. Esse alguém também chorava, mas não se permitia fazer nenhum barulho, não queria ser pega em fragrante, como também não queria deixar de observar aquela cena, mal sabendo que aquele seria o último momento em que veria seus pais vivos e juntos.

Quando Eloá já não suportava mais de dor, começou a tossir sangue. Seu corpo entrou uma grande convulsão e ela já não conseguia mais respirar.

Gabriela correu para chamar um médico e voltou sendo seguida por alguns enfermeiros afoitos que já iniciavam os procedimentos padrões para o caso.

João foi afastado da paciente, afastado da esposa de uma vida inteira, por um enfermeiro. Gabriela tentou se aproximar da mãe, entretanto também foi afastada.

Ela só conseguiu sussurrar um eu te amo para mãe que tinha os olhos opacos, arregalados, fixos na filha sendo arrastada para fora do quarto por uma enfermeira baixinha.

Eloá morreu naquela noite.... e com ela, um segredo que seu marido não estava disposto a dividir com mais ninguém. 







......................

Go, go, go! 

Hi, people! Saudações terráqueos, tudo bem por aí? O que estão achando? Não esqueça de deixar sua estrelinha e seu comentário, tá bem?

Então é isso. Que a força esteja com você ;)

Beijos borrocados de batom 😘😘

Como eu me meti nessa roubada -DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora