"Segure meu coração, não deixe ele quebrar como o medo
Às vezes um momento é como mil anos
Só Deus sabe por que o amor é banhado em lágrimas
Talvez seja isso que o amor faz
Talvez seja isso que o amor faz"
-Heaven Knows (traduzido) Hillsong United
[Gabriela]
Não foi fácil, mas agora acabou. Estou sozinha.
Encarar todos os amigos, colegas de trabalho e até o chefe de meu pai no dia do enterro foi tão doloroso quanto a dor de quebrar um osso do corpo. Aquela cena, com todas as aquelas pessoas que estavam sempre presentes no meu dia a dia, agora reunidas ali por um único motivo... A morte do meu herói. Porém parecia que nada havia mudado com o tempo, a não ser é claro pelo fato de que algo estava errado. Faltava alguém no ambiente, ambiente este que evidenciava o motivo de todos estarmos ali.
Se chorei? O máximo que pude.
Contudo já passou, ainda estou enlutada, claro. Mas agora vida que segue, eu ainda estou viva.
Não gosto da ideia de morar sozinha na casa em que vivi os melhores e piores momentos de uma vida inteira, mas é o que temos para hoje. Só não sei por quanto tempo aguentarei pagar o IPTU desse lugar com meu salário. Sei que deveria vender a casa e me mudar para um apartamento menor onde o imposto não consumiria mais do metade do meu salário, porém ainda não estou preparada para abrir mão do meu lar, do meu porto seguro desde a infância.
Pelo menos terminei a faculdade e não tenho um gasto a mais em minha vida.
É... se eu me apertasse economizando aqui e ali daria para sobreviver e ainda continuar morando nessa casa, preservando as felizes memórias que tive ao lado dos meus pais.
Não tive coragem de desfazer dos pertences deles. A casa continua da mesma maneira de quando papai esteve aqui pela última vez. Desde o dia do seu enterro não tenho feito muita coisa além de ir para o trabalho e voltar para casa, deitar na cama que havia sido dele e da mamãe e chorar até cair no sono. Tenho plena ciência de que tenho me afastado das pessoas ao meu redor, e não é por egoísmo, não mesmo. Entretanto eu não consigo encarar o mundo a minha volta sabendo que meus não estarão mais comigo, não estarão ao meu lado me apoiando e me amando com sempre fizeram. Como eu poderia fingir que estava tudo bem? Como eu iria seguir a vida como se nada tivesse acontecido, sendo que perdi a coisa mais importante para mim? A minha família.
É muito difícil lidar com tamanha perda, mas talvez um dia eu aprenda a superar, ou talvez a dor se torne mais suportável.
***
7 meses depois...
-Gabriela, venha a minha sala assim que terminar isso aí. -Wilson mandou ao passar por minha mesa, no escritório do pequeno jornal da cidade onde eu trabalhava, o Na Mira.
-Sim, senhor. -eu respondi terminando de editar a última linha da coluna política que sairia no jornal de amanhã.
Assim que terminei, salvei o arquivo e enviei para o email do redator-chefe, que no caso era Wilson mesmo. Coloquei o computador para hibernar e fui até sua sala, bati duas vezes na porta e ouvi um entre logo em seguida.
-Pois não, queria falar comigo? -perguntei do batente da porta.
-Entre e feche a porta. -ele disse com o semblante neutro, sem deixar margens para adivinhar o que queria comigo.
Fiz o que ele mandou e me sentei na cadeira de frente para sua mesa.
-Olha Gabriela, eu espero que compreenda o que eu tenho a te dizer. -Wilson começou com o tom de voz condescendente.
Aí vinha bomba.... Wilson não tratava nenhum funcionário com condescendência.
-Claro. -foi a única coisa que consegui responder.
-Eu sei que você trabalha conosco aqui Na Mira há dois anos, e você tem sido uma ótima colunista por todo esse tempo. Todavia, nesse último ano você tem... deixado a desejar em suas funções. Sei que tem passado por momentos difíceis e eu compreendo, de verdade.
Ele suspirou pensativo, tateando com as palavras.
-Você está passando por um período de luto e eu sinto muito por isso, mas o Na Mira ainda continua sendo uma empresa grande e respeitada na cidade, e uma empresa seja qual for ela, visa o lucro para assim subsistir em meio a concorrência. E para isso, ela precisa de qualidade e conteúdo de relevância. Entende aonde eu quero chegar?
-Não.
-O que eu quero dizer é, que você não tem sido boa o suficiente para este jornal.
Ele levantou a mão esquerda quando tentei interrompe-lo.
-Você precisa se empenhar mais ou pedir ajuda profissional, sei lá. Algo que te ajude a recuperar sua boa forma anterior.
-E o que quer que eu faça? Não posso e não consigo mudar da noite para o dia.
-Isso não é um problema meu, Gabriela. Meu papel aqui é delegar funções e fazer com que elas sejam cumpridas. E não sou eu que vai poder ajuda-la nessa questão, além do que, também não vou favorita-la por suas condições, isso seria antiético e muito errado da minha parte. Eu poderia até mesmo perder o meu cargo.
-Então vai me demitir? -perguntei por fim, cansada daquela enrolação.
-Não. Quero te dar mais um chance. Você tem férias acumuladas. Tire-as como um tempo para você. Vai viajar ou fazer alguma coisa que goste para espairecer a cabeça. E se, quando você voltar, estiver apta a reassumir seu cargo, então você será muito bem-vinda de volta a Na Mira.
-Isso é um ultimato?
-Sim, isso é um ultimato.
-Tudo bem. -respondi me levantando.
-Estamos acertados? -ele perguntou também de pé estendendo a mão em minha direção.
-Estamos. Nos vemos daqui a um mês. -disse ignorando sua mão e saí daquela sala.
Só passei em minha mesa para pegar meus pertences em minha mesa e fui embora para casa. Eu não sabia o que fazer agora. Não poderia perder esse emprego de jeito nenhum, era a minha única fonte de renda. Fiquei remoendo a situação em minha cabeça pelo resto da tarde, enquanto procrastinava no sofá da sala.
No final daquela noite recebi uma ligação de uma velha amiga de faculdade. Ela queria que eu a visitasse já que estava de férias, após ter contado a ela minha situação. A garota ficou eufórica com a ideia de me ver viajando tantos quilômetros somente para revê-la e ainda por cima, conhecer seu famoso namorado bonitão de quem ela tanto falava, palavras dela, não minhas. E pensando comigo mesma, percebi que talvez isso acabe até sendo bom para mim no final das contas.
É, parece que eu tinha uma viagem para fazer. Belo Horizonte que me aguarde, espero sinceramente que isso de alguma forma me ajude a sair desse terrível bloqueio em que me encontro.
✳✳✳
Hi, people! Saudações terráqueos, tudo bem por aí? O que estão achando? Não esqueça de deixar sua estrelinha e seu comentário, tá bem?Então é isso. Que a força esteja com você ;)
Beijos borrocados de batom 😘😘
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Como eu me meti nessa roubada -Degustação
ChickLit[livro 2] O que fazer quando uma simples ajuda a um desconhecido faz com que sua vida mude de curso? Gabriela Paixão não previra que um simples ato de bondade, livraria a imagem de um homem muito importante no mundo dos negócios de um enorme escânda...