V I D A R E A L

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15h36min. Hoje faz duas semanas que Brian terminou comigo.

Fiquei fora de mim.

Admito.

É um problema em que nunca obtive êxito.

Tanto faz.

Términos são muito mais complicados do que se imagina. Você não tem culpa de nada, foi a outra parte que errou, mas você sente vergonha.

Vergonha de enfrentar o caos que te espera lá fora. Um quase ataque do coração ao olhar as redes sociais. Seus dedos coçam para escrever uma mensagem pra pessoa. Até parece que ela te mandou pra pena de morte e você tem que redigir um texto de autodefesa. Eu não diria a você pra escrever.

Vai lá.

Diz o quanto o ama.

De duas uma: a pessoa pode visualizar e responder ou pode só visualizar.

O que é pior?

Digo que é a primeira opção.

Ele pode visualizar e responder um "você é linda, maravilhosa e vai encontrar alguém melhor um dia", o que soa seco e sem brechas para retaliações. O bom dele só visualizar é que pode-se interpretar como a morte súbita de alguém que nesse exato momento se dá conta de que perdeu para sempre o amor da sua vida.

Lindo.

Fofo.

Uma ótima tese para os cientistas.

Outra coisa proveniente dos términos de relacionamentos é que a outra pessoa fica mais bonita, o que aumenta a nossa tristeza. Isso pode passar depois de um tempo, se, e somente se, você superar. O que pode levar meses ou anos, dependendo da intensidade em que você o visita nas redes sociais.

Então, levando tudo isso em conta, eu não sei quando vou conseguir superar. Eu precisava de algo que ocupasse o meu tempo, mas tudo o que tenho feito é pensar e repensar no que fiz de errado pra que isso viesse acontecer. Pode não ser culpa minha, mas e se for culpa minha? A gente nunca deixa de pensar nisso. Remoer as cenas na mente até achar o ponto em que o vento começou a soprar mais forte sob o castelo de cartas. É nessa época que nos tornamos pensadores. Engraçado, como um momento de nossas vidas pode revelar aptidões que nunca imaginamos ter. Eu, por exemplo, estou trancada no meu quarto há dias. O meu irmão tentou me convencer a sair, mas não obteve êxito. O que falar de Marlee? Ela praticamente me arrastou, mas tudo o que obteve foram lágrimas e lamentos de uma pessoa que se recusa a esquecer alguém. É, meu caro,apenas saio para as refeições diárias e para tomar banho. Essa é a minha habilidade. Aproveitei para aprofundar os meus conhecimentos bíblicos. Achei meu novo Salmo preferido. Salmos 88. Oração de um sofredor. O versículo que mais me chama atenção é o Nove. "Tenho sofrido tanto, que quase já não enxergo. Ó Senhor Deus, dia após dia eu te chamo e levanto as mãos em oração."É o que me resume. Eu não consigo enxergar um final feliz pra mim desde que o que eu achava ser meu futuro me abandonou.

Eu oro. Você só não precisa saber o que eu peço a Deus. Nem eu quero saber o que você pede, a não ser que você tenha pedido pela minha situação. Muito grata por isso.

Fecho os olhos sob a minha cama mais que confortável. É tudo o que eu preciso no momento.

Sinto uma leve vibração debaixo do meu braço. É o meu celular. Tento alcançar ainda zonza de sono. Olho para a tela. É a Marlee.

Eu sei.

Você pensou o mesmo que eu.

Poderia ser o Brian, mas não.

- Oi... Qual é a bronca dessa vez? - digo já desanimada.

- Você estava esperando pelo Brian? - Ela pergunta, tentando impor a voz em meio ao barulho do vento.

- Não? Porque pensa o pior de mim?

- Porque te conheço? Porque você não sai desse quarto há dias? Porque você virou uma anti social das boas? Porque você se trancou em um mundo só seu?

- Uhum... Porque vocês não entendem o que eu tô sentindo? Eu preciso de um tempo pra digerir a situação.

- Nada disso. Você precisa de um "boy-unção" novinho em folha. Tem Jeff... Ele é um ótimo partido pra você...

- Em nenhuma circunstância Jefferson Callahan Moore olharia para mim, muito menos eu olharia pra ele como uma garota apaixonada Marlee!!

- E blá blá blá...

- O quê Marlee Carol??

- Eu que digo Lizza Kalled e Jefferson Lélis ! Einh? Einh?

- Vamos falar de coisas reais e não fictícias tá ok? Eu ainda amo o Brian Figueiredo.

- Ok! Você venceu! Tenho que ir, já sei do que você precisa...fica no aguardo, Tchau!

E então ela desliga o telefone. Eu fico imaginando o que será que ela vai aprontar. O que poderia acontecer?

Enquanto a minha mente está entorpecida tentando adivinhar o que Marlee está aprontando, fito o teto mais uma vez. Perdi a conta de quantas vezes fiz isso.

Cinqüenta vezes por dia?

Não muito.

Não pouco.

Essa é a base do dia.

Eu poderia arrumar o meu quarto, começando pelo guarda roupa, mas isso me lembra do futuro. Poderia sair e mudar o visual, mas estou presa a esse com super cola. Não dá pra sair. Acho que sou eu quem não quer, mas você não pode contar pra ninguém.

Quem entenderia?

Meu irmão acha que a escala de dor que eu estou sentindo é de 5. Não dá pra medir numa escala. Ela teria que ter 11. Porque a dor que eu sinto ultrapassa a escala normal. Eu sinto muito se você pensava que eu sou como as personagens de livros e filmes que superam a dor de uma perda curtindo a vida. Querido, aqui não é conto se fadas.

É vida real.

A dor é real.

Existe um propósito para sua vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora