H O J E N Ã O ?

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Hoje decidi encarar a vida depois de passar o dia anterior dentro do quarto meditando positivamente. Acha que deveria ligar? Talvez uma carta... Minha amiga Marlee me mataria. Ela vive falando que "eu mereço coisa melhor", "eu não devo correr atrás de ninguém", "me valorizar é tudo o que preciso."

Conheci Marlee na igreja, especificamente, no grupo de Jovens. Eu era novata e ela me acolheu como uma irmã. A irmã que não tive. Ela é daquelas garotas que não tá nem aí pro que você pensa sobre ela. Ela é ruiva e insiste em usar óculos mesmo tendo sua franja repicada caída sobre o mesmo.

Levanto-me e pego o celular esperando algumas chamadas perdidas, vários torpedos... Que nada. Não tem nada. Apenas um SMS da operadora me pedindo pra pôr crédito. Nada nas redes sociais, nem whatsapp. Nossa. Ele pôs uma cara triste no status. Não posso negar que estou feliz. Mas ainda não falarei com ele.

Hoje não.

Pelo menos agora não.

É o melhor a fazer.

Ainda não tenho vontade de sair, muito menos de contar o que houve.

Porque sinto vergonha e medo de algo que não tenho culpa?

Ou será que tenho culpa?

Imediatamente as lágrimas descem. Dizem que chorar conforta. De tanto chorar já deveria estar bastante confortável.

Decido fazer algo que não faço a algumas horas: Conversar com Deus. Ele tem sido meu amigo, mas depois disso eu meio que o culpei por tudo.

Se tudo acontece com permissão DELE, porque comigo?

"Oi Deus! Eu quero te pedir perdão porque te culpei pelas coisas que ocorreram...mas gostaria muito de saber o porque de tudo isso! Eu estava bastante feliz com o Brian, eu disse que o Senhor tinha me dado ele de presente! Agora só restou a lembrança e esse coração em cacos...o que posso fazer? Traz ele de volta pra mim? Por favor! Faço qualquer coisa!! Amém."

Nesses poucos segundos me sinto aliviada. Choro como se fosse a última coisa que eu posso fazer. Passam-se horas, mas não saio do quarto. Uma tristeza invade minha alma e por minutos penso em morrer. Imagino como seria se Brian recebesse a notícia de que por causa dele eu morri. Penso no desespero, nas lágrimas e no grito desesperado dele. Em contrapartida, penso que não poderia presenciar essa cena. De nada valeria. Não, meu irmão sofreria muito. Não vale a pena.

Olho para o espelho oval da penteadeira e me vejo descabelada, olheiras enormes e um olhar de peixe morto. As lágrimas rolam mais uma vez. Dessa vez com mais rapidez. Velozes como uma pingueira em dia de tempestade.

Existe um propósito para sua vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora