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Magnus... o nome fixou em sua mente quando ele a encarou de cima a baixo. Qualquer um em Eagenon reconheceria aquele nome. E ela teve o enorme desprazer de ouvi-lo ecoando em sua mente, enquanto ele continuava a analisando como se a garota fosse uma peça rara de colecionador; como se ele nunca tivesse visto uma mulher, mas ela teve a impressão de que, na verdade, conhecia mulheres bem até demais.

- Agora consigo distinguir seu rosto da lama e do sangue - ela tentou não demonstrar como a respiração havia parado, mas não pôde deixar e estremecer pelo que ele disse em seguida: - Nem mesmo eu pensei que você fosse sobreviver quando a encontrei no meio do sangue.

Então ele a encontrara. E certamente vira o dragão. O príncipe de Fireeasy a resgatara da morte. Um príncipe. E não apenas isso. Ele era o herdeiro do trono do reino mais temido e avassalador do continente.

Ele poderia matá-la naquele exato instante. Poderia lhe decapitar com uma bela cerimônia de provocação, ou pior. Poderia torturá-la e enviar seus restos mortais ao rei Erodot, de Gamoust. Ela sabia que os dois reinos com a maior rivalidade da história de Eagenon levavam as competições e rixas entre si muitíssimo à sério e uma filha do Sul poderia ser um grande prêmio para eles.

E seria um enorme prazer ao seu pai, se ainda estivesse vivo por aí.

Ela engoliu em seco. Precisava sair dali rápido. Tinha que contornar aquela situação e dar o fora. Estaria mesmo no castelo? Por todos os deuses, esperava que não. O quão difícil seria fugir dali se tudo desse ainda mais errado?

Os olhos arderam ao os erguer para o príncipe e dessa vez ela se perguntou se era porque queria chorar.

- Jephinia, está dispensada. Deixe-me conversar com a senhorita.

A mulher retirou a bandeja de cima da mesinha e saiu, meio a contragosto, como se ela e o príncipe tivessem intimidade o suficiente para que ela exibisse sua insatisfação ao vê-lo mandar sobre ela.

E Veena assistiu imóvel a mulher fechar a porta do cômodo, tirando a última gota de conforto que antes havia ali.

- Qual é o seu nome? - Magnus perguntou.

- Veena.

- Só?

Ela sentiu a ironia nas suas palavras.

- Meu sobrenome não importa, você não o reconheceria de qualquer parte, Vossa Alteza.

Era melhor deixar bem claro que, mesmo com a tentativa do nobre de omitir o título - por qualquer que fosse o motivo -, ela sabia bem com quem falava. Os olhos cinzas brilharam naquela luz que parecia que ele não parava nunca de captar qualquer segredo que ela possuía. Como se uma camada de sua pele fosse retirada e ele era capaz de enxergar até mesmo a alma dela.

- E de onde você é?

- Elesmant - a mentira saiu rápida e certeira, quase totalmente ensaiada. A garganta já estava seca e arranhava a cada palavra, o peito parecia ter mais dificuldade em subir e descer.

- Do sul de Elesmant, suponho. Seu sotaque...

Maldito sotaque que ela não sabia controlar.

- Sou do sudeste de Elesmant. À leste do Rio Sul - ela o cortou, sem pensar nas consequências.

O príncipe assentiu.

- E o que faz no norte de Fireeasy? Como veio parar aqui?

E mesmo que pudesse inventar qualquer mentira, o coração ardeu ao contar:

- Fugi de casa - e a verdade acabava aí. - Estava atrás da minha tia, que mora aqui na capital.

- Quem é sua tia?

Coroa de Eagenon ¤ A FeridaOnde histórias criam vida. Descubra agora