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A reunião estava insuportável. Magnus passara as últimas duas enormes falas do Lorde Holsergeth se divertindo dentro possível ao encarar o movimento do pêndulo do relógio no canto da sala. Para a infelicidade de seu pai, que o repreendia sem nem ao menos olhar na sua direção, ele não sabia nem ao menos fingir prestar atenção quando o assunto abordado era muito chato.

Papeladas, burocracia e algumas outras tagarelices do reino. Se fosse algo mais relevante, ele com certeza não estaria naquele estado deplorável. Estaria pior, atuando no papel de príncipe jovem e tolo demais para tomar qualquer decisão importante. Àquela altura, estaria gritando com o pai, que diria, inexpressivo, que ele não tinha direito de dar opiniões.

E ele deixaria o cômodo frustrado, passando as mãos nos cabelos de raiva, mas ninguém se importaria.

Porque ele era apenas o jovem príncipe. No auge do poder como seu pai estava, não deveriam se preocupar se o treinavam para ser rei ou não. Não havia imprevisto ou morte súbita que os fizessem se preocupar com aquilo. E a mínima importância recebida e que um herdeiro do trono não devia ter o irritava e era a causa de muitas das punições que recebia.

Magnus sabia bem que tipo de filho Malvor esperava que ele fosse. Concentrado, sério, frio, poderoso. E ao perceber que ele falhava miseravelmente em sua postura justa e impulsiva, era clara sua preferência por Freya. A irmã mais nova do príncipe. E ele não sabia se aquilo era uma coisa boa ou não.

Ele observava o pêndulo ir de um lado para o outro, os olhos esbanjando tédio. Talvez não devesse ter comemorado tanto o início de sua ida às primeiras reuniões, anos atrás. Não mudava nada.

Então, como se fosse enviado dos céus, alguém bateu na porta da sala de reuniões e abriu, exibindo o uniforme de guarda real sobre a pele escura. Cedric Lancel.

Ele fez uma reverência culta a todos na sala e se direcionou ao rei, que se sentava na cabeceira da mesa como um deus de alto respeito.

— Vossa Majestade, a presença do príncipe Magnus é solicitada.

Sem muita demora, o rei Malvor fez um gesto com o pulso para que o filho saísse. Magnus ergueu-se de sua cadeira tão rápido que a arrastou no mármore, fazendo um barulho estrondoso que fez com que todos o encarassem, mas ele nem ligou. O peito ondulou, suspirando de alívio. E mesmo o repreendendo com o olhar, o pai também parecia aliviado por não ter que aguentar suas inconsequências à mesa de decisões. Ao menos estava livre daquela droga de reunião inútil.

Cada passo até o corredor foi mais prazeroso que o anterior. Cedric esperou que ele saísse para fechar a porta e então encarou o jovem.

— Foi minha mãe quem me chamou, certo? — ele perguntou já começando a andar para longe, arrumando um detalhe nas mangas da camisa requintada, mas o soldado o segurou pelo cotovelo antes que ele fosse embora para qualquer lugar que não fosse aquela sala de reuniões.

Qualquer outro soldado que ousasse tal gesto seria rapidamente mandado para uma punição séria, menos Cedric Lancel. O homem que lutava tão bem como o inferno e que ninguém se contentava ao dizer apenas seu sobrenome. E há três semanas fora denominado o guarda-costas sufocante do primogênito da família real.

Sim, ele vinha perseguindo Magnus para todo e qualquer lugar há dias e aquilo era insuportável. Principalmente porque não era como os outros soldados: que se perdiam fácil da mata de Fireeasy e respondiam a qualquer ordem que ele desse. Ele nunca admitiria em voz alta, mas Cedric não era somente o Terror da Guarda. Era também inteligente. Aquilo havia destroçado com os planos de Magnus de se livrar dele em segundos.

Aquilo o irritava profundamente. Como um soldado, nascido em qualquer família pobre do reino, conseguia ter tanto poder sobre o filho do rei? Sua liberdade de ir e vir havia sido tomada e a vontade de Magnus era jogar aquele homem do penhasco.

Coroa de Eagenon ¤ A FeridaOnde histórias criam vida. Descubra agora